Este é o 11º artigo desta série. Os três últimos são:
08 - A Navalha de Occam
09 - O Príncipe de Maquiavel
10 - As Galinhas de Bacon
Michel de Montaigne, o ensaísta francês do século XVI, observou: “É ter em alta conta nossas próprias suposições zombar dos outros pela importância que lhes atribuem”. Já faz algum tempo que as pessoas no mundo ocidental deixaram de confiar em suas crenças o bastante para tomar tais medidas. A idéia de que nunca podemos estar absolutamente certos de coisa alguma é o pressuposto que sustenta a tolerância. Embora essa dúvida nos permita conviver socialmente, ela pode, contudo, ser pessoalmente danosa. Todos nós tivemos a experiência de descobrir que uma crença solidamente sustentada é, de fato, falsa, e de nos perguntarmos então como poderíamos confias de novo em nosso julgamento. Se isso acontece com freqüência suficiente, e com relação a nossas crenças mais importantes, a dúvida desenfreada que sobrevém pode ser um problema sério. Uma traição por um amante, por exemplo, pode nos levar a desconfiar também de futuros parceiros. Para continua a viver com a dúvida, em geral rebaixamos a importância da certeza em nossa visão de mundo. Contentamo-nos em sustentar nossas crenças apenas provisoriamente, ou pelo menos em afirmar que o fazemos quando contestados. Em vez de se contentar com essa acomodação, alguns filósofos passaram a refletir vigorosamente sobre o poder da própria dúvida.
A tentativa mais famosa foi a de René Descartes, que nasceu em 1596 em La Haye, na França, uma cidadezinha entre Tours e Poitiers que teve mais tarde o nome trocado pelo seu. Aos oito anos, Descartes foi mandado para o colégio jesuíta de La Fleche em Anjou, onde estudou a filosofia de Aristóteles, dominante na época, juntamente com os clássicos e a matemática. Era uma criança tão fraca e pálida que não se esperava que vivesse muito. Um dos mestres, padre Charlet, com pena do menino por causa de sua fragilidade, permitia-lhe passar todas as manhãs na cama – hábito que Descartes apreciaria pelo resto da vida. Longe de lhe valer a fama de preguiçoso, sua indolência era vista como sinal de uma propensão precoce para a meditação. O próprio Descartes não fez nenhum esforço para desfazer essa idéia e afirmou que essas manhãs passadas na cama eram a fonte de suas idéias filosóficas mais importantes. Em 1619, decidiu ingressar no exército bávaro pelas oportunidades que assim teria de ver o mundo. Viajou muito pela Europa como parte de seu serviço militar, e, apesar da eclosão da Guerra dos Trinta Anos em 1618, ele parece não ter participado de nenhuma batalha. Isso não o impediu, porém, de condenar a vida militar como ociosa, estúpida, imoral e cruel.
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Este artigo está no tópico – Textos Filosóficos
O próximo artigo desta série é O GARFO DE HUME
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Michel de Montaigne, o ensaísta francês do século XVI, observou: “É ter em alta conta nossas próprias suposições zombar dos outros pela importância que lhes atribuem”. Já faz algum tempo que as pessoas no mundo ocidental deixaram de confiar em suas crenças o bastante para tomar tais medidas. A idéia de que nunca podemos estar absolutamente certos de coisa alguma é o pressuposto que sustenta a tolerância. Embora essa dúvida nos permita conviver socialmente, ela pode, contudo, ser pessoalmente danosa. Todos nós tivemos a experiência de descobrir que uma crença solidamente sustentada é, de fato, falsa, e de nos perguntarmos então como poderíamos confias de novo em nosso julgamento. Se isso acontece com freqüência suficiente, e com relação a nossas crenças mais importantes, a dúvida desenfreada que sobrevém pode ser um problema sério. Uma traição por um amante, por exemplo, pode nos levar a desconfiar também de futuros parceiros. Para continua a viver com a dúvida, em geral rebaixamos a importância da certeza em nossa visão de mundo. Contentamo-nos em sustentar nossas crenças apenas provisoriamente, ou pelo menos em afirmar que o fazemos quando contestados. Em vez de se contentar com essa acomodação, alguns filósofos passaram a refletir vigorosamente sobre o poder da própria dúvida.
A tentativa mais famosa foi a de René Descartes, que nasceu em 1596 em La Haye, na França, uma cidadezinha entre Tours e Poitiers que teve mais tarde o nome trocado pelo seu. Aos oito anos, Descartes foi mandado para o colégio jesuíta de La Fleche em Anjou, onde estudou a filosofia de Aristóteles, dominante na época, juntamente com os clássicos e a matemática. Era uma criança tão fraca e pálida que não se esperava que vivesse muito. Um dos mestres, padre Charlet, com pena do menino por causa de sua fragilidade, permitia-lhe passar todas as manhãs na cama – hábito que Descartes apreciaria pelo resto da vida. Longe de lhe valer a fama de preguiçoso, sua indolência era vista como sinal de uma propensão precoce para a meditação. O próprio Descartes não fez nenhum esforço para desfazer essa idéia e afirmou que essas manhãs passadas na cama eram a fonte de suas idéias filosóficas mais importantes. Em 1619, decidiu ingressar no exército bávaro pelas oportunidades que assim teria de ver o mundo. Viajou muito pela Europa como parte de seu serviço militar, e, apesar da eclosão da Guerra dos Trinta Anos em 1618, ele parece não ter participado de nenhuma batalha. Isso não o impediu, porém, de condenar a vida militar como ociosa, estúpida, imoral e cruel.
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