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    A FÉ E OS SENTIDOS - RICHARD BAXTER



    PENSANDO NAS COISAS QUE SÃO DE CIMA.


    O mero trabalho da fé, em comparação com o trabalho dos sentidos, tem muitas desvantagens para nós. A fé é imperfeita, pois fomos renovados apenas em parte; mas os sentidos têm sua própria força, de acordo com a força da carne; a fé trabalha contra inúmeras resistências, mas os sentidos, não; a fé é sobrenatural e, portanto, propensa a diminuir e definhar por causa da falta do hábito e da prática, mas os sentidos são naturais e, portanto, continuam enquanto a natureza continuar. O objeto da fé está muito distante, mas o objeto dos sentidos está bem à mão. Não é fácil regozijarmos com aquilo que nunca vemos, mas não é difícil regozijar com aquilo que vemos e sentimos. Então, o que devemos fazer nesse caso? Certamente, chamar nossos sentidos para auxiliar a fé representa um ponto de nossa prudência espiritual, bem como uma ajuda singular para favorecer o trabalho da fé. Deus não nos teria dado nossos sentidos, nem seus objetos usuais, se eles não fossem úteis ao louvor do Senhor, e se não nos ajudassem a nos elevar à apreensão das coisas mais elevadas. É muito notável como o Espírito Santo consente com as frases das Escrituras, ao trazê-las ao alcance dos sentidos; como ele apresenta, com palavras emprestadas dos objetos dos sentidos, as maravilhas das coisas espirituais; como ele descreve a glória da nova Jerusalém em expressões que podem ser compreendidas até mesmo pela carne: como aquelas em que afirma que as ruas e as casas são de ouro puríssimo; que as portas são de pérolas, e que o trono está no meio de tudo isso; que comeremos e beberemos com Cristo à mesa dele, em seu reino; que ele beberá conosco o fruto do vinho novo; que brilharemos como o sol no firmamento de nosso Pai; essas descrições, como a maioria das descrições de nossa glória, utilizam uma linguagem que parece se dirigir à carne e aos sentidos.
    Mas o que quero alcançar com tudo isso? Espero que possamos pensar que o céu é feito de ouro e pérolas, ou que devemos pensar que os santos e os anjos realmente bebem e comem? Não mesmo. Mas o seguinte: pensar que conceber ou falar sobre as propriedades dele está totalmente além de nosso alcance e capacidade, e que, portanto, devemos concebê-las da forma como somos capazes; e de que o Espírito não as representaria com essas noções para nós, se tivéssemos noções melhores para compreendê-las, e, assim, fazemos uso dessas expressões do Espírito para estimular nossa compreensão e nossos sentimentos, mas não para pervertê-los, e sim para usar essas noções inferiores como um espelho no qual precisamos ver as coisas mesmas, embora a representação seja muitíssimo imperfeita; e mesmo que tenhamos uma visão imediata e imperfeita ainda podemos concluir que essas expressões, embora úteis, foram emprestadas e são impróprias. O mesmo pode ser dito daquelas expressões a respeito de Deus nas Escrituras, em que ele representa a si mesmo com as imperfeições da criatura, com ira, arrependimento e desejo pelo que não acontecerá. Embora essas descrições sejam impróprias, retiradas do modo de ser do homem, ainda há um tanto em Deus que não podemos ver melhor que nesse espelho, e que, como homens, não poderíamos conceber de forma mais adequada essas noções, ou, caso contrário, o Espírito Santo teria nos dado algo melhor.
    Portanto, vá até ali quando separar o tempo para meditar sobre as alegrias do alto; pense sobre elas de forma ousada, conforme as Escrituras as descreveram; abaixe sua concepção até o alcance dos sentidos. A maravilha sem a familiaridade mais nos surpreende que nos deleita, mas o amor e a alegria são promovidos pelo conhecimento íntimo e familiar. Portanto, não ponha Cristo mais distante de você do que ele mesmo pôs a si mesmo, para que a natureza divina não seja novamente inacessível. Pense em Cristo da mesma forma que pensa em sua natureza glorificada; pense nos santos, seus companheiros, como homens aperfeiçoados. Suponha que você estivesse agora olhando essa cidade de Deus, e que você esteve na companhia de João enquanto este teve sua visão dessa glória, e que viu os tronos, a majestade, os exércitos celestiais, o esplendor radiante que ele viu; retire as suposições mais fortes que puder de seus sentidos para ajudar seus sentimentos. E quanto mais sério você apresentar essa suposição para si mesmo, mais sua meditação elevará seu coração. A concepção bastante familiar do estado de bem-aventurança, conforme o Espírito expressou por meio de uma linguagem complacente, e o grande aumento das suposições em nossos sentidos favorecerão nossos sentimentos nesse trabalho consagrado.

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