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    INFINITUDE E INCORPOREIDADE DE DEUS - CALVINO



    O que da essência infinita e incorpórea de Deus se ensina nas Escrituras deve valer não só para desmantelar os desvarios do populacho, mas também para refutar as sutilezas da filosofia profana. Pareceu a um dos antigos56 expressar-se com particular propriedade, quando disse que “Deus é tudo quanto vemos e tudo quanto não vemos”. Ao imaginar Deus nesses termos, na verdade ele quis dizer que a divindade está difusa, uma a uma, por todas as porções do mundo.Mas, ainda que, para conter-nos dentro dos limites da sobriedade, Deus fala de sua essência parcimoniosamente; contudo, mercê desses dois epítetos que acima referi, tanto dissipa as fantasias grosseiras, quanto reprime a presunção da mente humana.
    Ora, por certo que sua infinitude nos deve aterrar para que não o tentemos medir com nossos sentidos; sua natureza espiritual, por outro lado, veda que se imagine a seu respeito todo e qualquer aspecto terreno ou carnal. Pela mesma razão é que mais freqüentemente prescreve seu domicílio no céu. E contudo, visto que ele transcende a todo limite, de sua própria obtusidade nossa mente se curva ao chão, para debelar sua indolência e inércia, com justa razão nos eleva acima do mundo. E daqui cai por terra o erro dos maniqueus que, ao admitirem dois princípios absolutos, fizeram o diabo ser quase igual a Deus. Sem dúvida que isso era não só romper a unidade de Deus, como também limitar sua infinitude. Ora, o fato de que tenham ousado abusar de certos testemunhos da Escritura foi obra de boçal ignorância, bem como o próprio erro foi de execrável insânia.
    Os antropomorfitas são também facilmente refutados, os quais imaginaram um Deus dotado de corpo, visto que freqüentemente a Escritura lhe atribui boca, ouvidos, olhos, mãos e pés. Pois quem, mesmo os de bem parco entendimento, não percebe que Deus assim fala conosco como que a balbuciar, como as amas costumam fazer com as crianças? Por isso, formas de expressão como essas não exprimem, de maneira clara e precisa, tanto o que Deus é, quanto lhe acomodam o conhecimento à pobreza de nossa compreensão. Para que assim suceda, é necessário que ele desça muito abaixo de sua excelsitude.


    JOÃO CALVINO

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