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    JUSTIFICAÇÃO - J. CALVINO



    NECESSIDADE E IMPORTÂNCIA DE UMA EXPOSIÇÃO COMPLETA DA DOUTRINA
    DA JUSTIFICAÇÃO


    Parece-me haver já exposto acima com bastante prudência como aos homens resta o único recurso de recuperar-se da maldição da lei pela fé na salvação. Também, por outro lado, o que é a fé, que benefícios ela confere ao homem de Deus e quais frutos nele produz. Mas esta é a suma do que foi dito: que Cristo, que nos foi dado pela benignidade de Deus, nos é apreendido e possuído pela fé, mercê de cuja participação recebemos acima de tudo dupla raça, a saber, primeiro que, reconciliados com Deus por sua inculpabilidade, já temos nos céus em vez de um Juiz, um Pai propício; então que, santificados por seu Espírito, exercitamos inocência e pureza de vida,; e da regeneração, com efeito, que é a segunda graça dessas duas, já foi dito o que me parecia ser suficiente.
    O tema da justificação foi por isso abordado mais ligeiramente, porque era mais relevante ao caso primeiro compreender não somente quanto a fé, pela qual unicamente, mercê da misericórdia de Deus, obtemos a justiça graciosa, não é improdutiva de boas obras, mas também de que natureza são as boas obras dos santos, acerca das quais versa parte desta questão. Portanto, agora importa discutir esta doutrina exaustivamente; e eis por que se impõe discuti-la, para que nos lembremos de que este é o ponto principal sobre o qual a religião se sustém, razão por que devemos devotar-lhe maior atenção e cuidado. Ora, como não tens nenhum fundamento sobre o qual a salvação te seja firmada, salvo se antes de tudo apreendas em que posição estejas diante de Deus e de que natureza seu juízo é em relação a ti, assim também não tens fundamento sobre o qual possas erigir a piedade para com Deus. Mas sobre a necessidade de se conhecer isso transparecerá melhor do próprio conhecimento.



    NATUREZA E SENTIDO DA JUSTIFICAÇÃO


    Contudo, para que não tropecemos no próprio limiar, o que aconteceria se entrássemos em uma discussão acerca de coisa desconhecida, expliquemos primeiramente que significam estas expressões: o homem é justificado diante de Deus e a justificação é pela fé ou pelas obras.
    Lemos que justificado diante de Deus é aquele que, ao juízo de Deus, não só é considerado justo, mas que também foi aceito em razão de sua justiça, porque, como a iniqüidade é abominável à vista de Deus, assim o pecador não pode achar graça a seus olhos, na qualidade de pecador e por quanto tempo for tido como tal. Conseqüentemente, onde quer que haja pecado, aí também se manifesta a ira e vingança de Deus.
    Portanto, justificado é aquele que não é tido na conta de pecador, mas de justo, e por esse titulo se posta firme diante do tribunal de Deus, onde todos os pecadores se prostram abatidos. Da mesma forma, se um inocente acusado for levado perante o tribunal de um juiz imparcial, depois de ser julgado segundo sua inocência, se diz que foi justificado diante do juiz; assim é justificado diante de Deus aquele que, excluído do número dos pecadores, tem a Deus por testemunha e arauto de sua justiça.
    Portanto, por isso se dirá ser justificado pelas obras aquele em cuja vida se haverá de achar essa pureza e santidade que mereça o testemunho de justiça ante o trono de Deus, ou aquele que, em razão da integridade de suas obras, possa responder e satisfazer-lhe ao juízo. Em contraposição, será justificado pela fé aquele que, excluído da justiça das obras, apreende pela fé a justiça de Cristo,revestido da qual aparece perante Deus não como pecador, mas, pelo contrário, como justo. Portanto, interpretamos a justificação simplesmente como a aceitação mercê da qual, recebidos à sua graça, Deus nos tem por justos. E dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo.

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