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    JUÍZO PUNITIVO - JUÍZO CORRETIVO - J. CALVINO



    O JUÍZO PUNITIVO EXTERNA A IRA E MALDIÇÃO DE DEUS, O JUÍZO CORRETIVO
    -É TESTEMUNHO DE SEU AMOR E CONSTITUI UMA BÊNÇÃO-


    Para que expressemos toda a matéria de forma concisa e clara, entre duas distinções estabeleça-se primeiramente esta: onde quer que a pena é para represália, aí se patenteia a maldição e ira de Deus que ele sempre coíbe de atingir aos fiéis.
    O castigo, ao contrário, não é apenas uma bênção de Deus, mas tem dele também o testemunho do amor, como o ensina a Escritura [Jó 5.17; Pv 3.11, 12; Hb 12.5, 6]. Esta distinção se nota suficientemente a cada passo na Palavra de Deus. Pois, tudo quanto de aflições os ímpios enfrentam na presente vida, nos pinta como que um átrio dos infernos, de onde já de longe divisam sua eterna condenação. E tão longe está de que daí se emendem, ou percebam algum proveito, que com tais preliminares antes se apressem rumo à crudelíssima Gehena que afinal os espera. Mas, ao castigá-los, o Senhor castiga a seus servos; contudo, não os entrega à morte [Sl 118.18], pelo que, verberados por sua vara, confessam que isso lhes foi bom para a verdadeira instrução [Sl 119.71]. Como, porém, lemos por toda parte na Escritura que a tais castigos os santos têm suportado de ânimo sereno, assim sempre rogaram veementemente que não fossem sujeitados às chibatadas do primeiro tipo de punição. “Castiga-me, Senhor”, diz Jeremias [10.24, 25], “mas em juízo, não em tua ira, para que porventura não me reduzas a nada. Derrama teu furor sobre os povos que te não conhecem e sobre os reinos que não invocaram teu nome.” E Davi: “Senhor, não me acuses em teu furor, nem me repreendas em tua ira” [Sl 6.1; 38.1].
    A isso não se contrapõe o fato de que com bastante freqüência lemos que o Senhor se ira com seus santos, quando lhes castiga os pecados. Como em Isaías [12.1]: “Confessar-te-ei, Senhor, porquanto te iraste comigo; teu furor se reverteu e me consolaste.” De igual modo, Habacuque [3.2]: “Quando ficares irado, lembra-te da misericórdia.” Também Miquéias [7.9]: “Sofrerei a ira de Deus, porque pequei contra ele.” Nessas passagens, ele adverte que não só nada aproveita aos que com justiça são punidos vociferar suas queixas, mas também que se provê aos fiéis alívio da dor quando atentam para o desígnio de Deus envolvido nessa expressão de sua ira. Ora, pela mesma razão se diz que ele profana sua herança [Is 47.6], a qual, entretanto, como sabemos, ele jamais haverá de profanar. Isto, porém, não se refere propriamente ao intento ou disposição de Deus em punir, mas ao veemente senso de dor de que são acometidos os que suportam ainda qualquer porção de sua severidade.
    Com efeito, a seus fiéis o Senhor punge não apenas de moderado rigor, mas às vezes os fere a tal ponto que é como não estivessem tão longe da miséria dos infernos.
    Assim, na verdade, os atesta como merecedores de sua ira, e portanto é próprio que fiquem descontentes em seus maus feitos, sendo tangidos de maior preocupação com aplacar a Deus e solicitamente se apressem a buscar o perdão. Mas, entrementes mesmo nisso ele oferece mais luminoso testemunho de sua clemência do que de sua ira. Ora, subsiste o pacto estabelecido conosco em nosso verdadeiro Salomão, Cristo [2Sm 7.12, 13], cuja validade jamais haverá de tornar-se nula, o afirmou Aquele que não pode enganar. “Se seus filhos”, diz ele, “abandonarem minha lei, e não andarem em meus juízos, se profanarem meus estatutos e meus mandamentos
    não guardarem, com vara visitarei suas iniqüidades e com vergastadas, seus pecados; minha misericórdia, porém, dele não retirarei” [Sl 89.30-33]. Para que nos fizesse mais seguros desta misericórdia, ele diz que a vara com que investirá contra a posteridade de Salomão haverá de ser vara de homens, e as vergastadas serão as dos filhos dos homens [2Sm 7.14].
    Enquanto com essas expressões quer dizer moderação e brandura, ao mesmo tempo inculca que não podem ser senão confundidos com horror extremo e letal os que sentem ser-lhes adversa a mão de Deus. Quanta consideração tenha desta brandura em castigar a seu Israel, Deus mostra no Profeta: “No fogo te refinei”, diz ele. “não, porém, como à prata” [Is 48.10], visto que terias sido totalmente consumido.
    Ainda que ensine que os castigos lhe servem de meio de purificação, contudo, acrescenta que ele de tal forma os regula que não é por eles triturado mais do que o justo. E isso é absolutamente necessário, pois quanto mais cada um reverencia a Deus, e se devota a cultivar a piedade, tanto mais dócil e suportável é sua ira. Os réprobos, porém, embora gemam sob os açoites, no entanto, uma vez que não ponderam sua causa, senão que, antes, viram as costas tanto a seus próprios pecados, quanto ao juízo de Deus, dessa negligência contraem endurecimento, ou porque vociferam e recalcitram, e até mesmo sublevam-se contra seu Juiz, esse ímpeto furioso os embrutece de insânia e furor. Os fiéis, entretanto, advertidos pelos azorragues de Deus, passam prontamente a considerar seus pecados e, chocados de medo e horror, suplicantes se refugiam na deprecação. Se Deus não mitigasse essas dores com que se cruciam as míseras almas, cem vezes haveriam elas de sucumbir até mesmo à vista de leves sinais de sua ira.

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