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    REDENÇÃO - GEORGE WHITEFIELD



    "Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Cor. 1:30


    "Cristo se tornou... redenção". Este é o último elo da corrente dourada dos privilégios dos crentes. Diante disso, devemos levantar muito alto os nossos olhos, porque a sua parte superior, tal como a escada de Jacó, chega até ao céu, para onde subirão todos os crentes, e serão colocados à destra de Deus. "O qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção".
    Esta é de fato uma corrente de ouro! E, o que é melhor de tudo, nenhum elo poderá ser separado dos demais. Se não houvesse outro texto no livro de Deus, só este bastaria para provar a perseverança final de todos os crentes verdadeiros, pois nunca Deus justificou um homem sem o santificar, nem santificou alguém que não redimiu e glorificou completamente. Não. Quanto a Deus, Seu caminho e Sua obra são perfeitos. Ele sempre continuou e terminou a obra que começou. Assim foi na primeira criação, assim também é na nova criação. Quando Deus diz: "haja luz", há luz que brilha mais e mais até ser dia perfeito, no qual os crentes entram no seu descanso eterno, como Deus entrou no dEle. Aqueles a quem Deus justificou, Ele com efeito glorificou, pois como o merecimento do homem não foi a causa de Deus lhe outorgar a justiça de Cristo, assim também sua falta de merecimento não será o motivo de remover essa justiça. Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento, e não posso pensar que aqueles que negam a perseverança final dos santos têm noção clara da justiça de Cristo. Receio que eles entendem a justificação naquele sentido baixo em que eu mesmo a entendia há poucos anos, como sendo nada mais do que a remissão dos pecados. Entretanto, não somente significa a remissão dos pecados passados, mas também um direito constitutivo a todas as coisas boas do porvir. Se Deus nos tem dado o Seu Filho, como não nos dará com Ele livremente todas as coisas? Por isso, o apóstolo, depois de dizer "o qual se nos tornou da parte de Deus justiça", não diz: talvez Ele nos seja feito santificação e redenção, e sim que Ele já Se tornou essas coisas, pois há uma conexão eterna e indissolúvel entre esses privilégios abençoados. Da mesma maneira como a obediência de Cristo é imputada aos crentes, a Sua perseverança naquela obediência é também imputada a eles. Levantar objeções contra isso evidencia grande ignorância da aliança da graça e da redenção.
    Com a palavra "redenção" não devemos entender que apenas significa uma libertação completa de todo o mal, mas implica também em pleno desfrute de todo o bem, tanto no corpo quanto na alma. Isso mesmo: tanto no corpo quanto na alma, pois o Senhor também é para o corpo. Os corpos dos santos nesta vida são templos do Espirito Santo. Deus faz uma aliança com o pó dos crentes; depois da morte, embora os vermes os destruam, mesmo na sua carne verão a Deus. Receio realmente que existem em nossos dias alguns saduceus, ou pelo menos hereges, que dizem que não há ressurreição do corpo, ou que a ressurreição já se foi, a saber, na nossa rege­neração. Daí acontecer que a vinda do nosso Senhor pessoalmente no dia do Juízo, é negada; conseqüen­temente, devemos descartar a ordenança da Ceia do Senhor. Por que, então, devemos lembrar-nos da morte do Senhor até que Ele venha para o juízo, se Ele já veio julgar os nossos corações, e não virá segunda vez? Mas isso se trata apenas do raciocínio de homens ignorantes e instáveis, que certamente não sabem o que dizem nem entendem o que afirmam. Reconhecemos livremente que devemos seguir nosso Senhor na regeneração, participar do novo nascimento, ter Cristo em nossos corações, e esperamos, ao falarmos dessas coisas, que não falamos mais do que conhecemos e sentimos. Ao mesmo tempo, fica claro que Jesus Cristo virá futuramente para o julgamento, e que Ele subiu ao céu com o corpo que tinha aqui na Terra, pois, após a Sua ressurreição Ele disse, "Apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho". É evidente que a ressurreição de Cristo foi um penhor da nossa, porquanto o apóstolo declarou: "Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem". Como em Adão todos morrem e estão sujeitos à morte, assim também todos que estão em Cristo (o segundo Adão) que representa os crentes como cabeça federal, certamente serão vivificados ou ressuscitarão em seus corpos no último dia.
    Aqui, pois, ó crentes, está um dos graus, embora seja o mais baixo, daquela redenção da qual vocês participarão futuramente; refiro-me à redenção dos seus corpos. "Convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista de imortalidade" (I Cor. 15:53). Seus corpos, bem como suas almas, foram dados a Jesus Cristo pelo Pai. Eles têm sido companheiros nas vigílias, nos jejuns e nas orações. Seus corpos, portanto, assim como suas almas, serão ressuscitados por Jesus Cristo no último dia. Por isso, não temam, irmãos, em olhar para a sepultura, pois para vocês não é mais do que um dormitório consagrado, onde seus corpos dormirão quietamente até à manhã da ressurreição. Então, quando soar a voz do arcanjo, e a trombeta de Deus der o sinal definitivo: "Levantai-vos, ó mortos, e vinde para o juízo", a terra, o ar, o fogo, e a água devolverão vossos átomos espalhados, e tanto no corpo quanto na alma vocês estarão para sempre com o Senhor. Não duvido que muitos de vocês estejam gemendo com corpos doentios, queixando-se que o corpo mortal é um fardo para a alma imortal. Pelo menos é esse o meu caso, mas tenhamos um pouco de paciência, e logo seremos libertos das nossas prisões terrestres; dentro em breve estes tabernáculos de barro serão dissolvidos e seremos revestidos da nossa casa que é celestial. A partir dai nossos corpos serão espiritualizados e, longe de serem empecilhos para nossas almas por causa da sua fraqueza, tornar-se-ão fortes. Tornar-se-ão tão fortes que agüentarão um imenso e eterno peso de glória. Outros, ainda, talvez tenham corpos deformados, enfraquecidos pela enfermidade e esgotados pela labuta e a velhice, mas esperem um pouco até que venha sua mudança aben­çoada mediante a morte. Então seus corpos serão renovados e tornados gloriosos, como o corpo glorioso de Cristo, sobre o qual podemos formar uma pálida idéia com base no relato da transfiguração de nosso Senhor do Monte, "O Seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz" (Mat. 17:2).
    Com razão, portanto, o crente pode irromper na linguagem triunfante do apóstolo: "Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (I Cor. 15:55).
    Mas o que é a redenção do corpo em comparação com a parte melhor, a nossa alma? Devo, portanto, dizer-lhes, irmãos, o que o anjo disse a João, "Sobe aqui", para obterem a visão mais clara possível da redenção que Cristo comprou para vocês, e que logo lhes dará como fato consumado. Vocês já estão justificados, já estão santificados, e portanto estão libertos da culpa e do domínio do pecado; mas, conforme já observei, o pecado ainda existe e habita em vocês. Deus acha por bem deixar alguns amalequitas na terra, para manter Seu Israel ativo. Estou convicto de que o cristão mais perfeito deve concordar que, segundo um dos nossos artigos de fé: "a corrupção da natureza permanece até mesmo nos regene­rados; que a carne sempre luta contra o espírito, e o espírito contra a carne". Sendo assim, os crentes não podem fazer coisas para Deus com a perfeição que desejam. Esse fato aflige suas almas justas dia após dia e leva-os a exclamar com o grande apóstolo: "Quem me livrará do corpo desta morte?" Dou graças a Deus que nosso Senhor Jesus o fará, mas não de modo completo antes do dia da nossa morte. Então será destruída a própria existência do pecado, e a corrupção inata que em nós habita será eternamente desfeita. E não é esta uma grande redenção? Tenho certeza que os crentes assim a consideram, pois não há nada que mais entristece o coração de um filho de Deus do que os restos do pecado que nele habita. Demais disso, os crentes freqüentemente sentem pesar por causa de numerosas tentações. Deus acha que é necessário e bom que eles sejam assim, e embora sejam altamente favorecidos e imersos na comunhão com Deus, até mesmo ao terceiro céu, ainda assim um mensageiro de Satanás é freqüentemente enviado para esbofeteá-los, para não ficarem ensoberbecidos com a abundância das revelações. Mas não fiquem abatidos, nem tenham a mente desfalecida, pois aproxima-se o tempo da sua redenção completa. No céu o maligno cessará de perturbar vocês e suas almas abatidas desfrutarão do repouso eterno; os dardos inflamados de Satanás não podem alcançar aquelas regiões de bem-aventurança. Satanás nunca mais voltará para apresentar-se juntamente com os filhos de Deus, nem para perturbá-los, nem para acusá-los, depois do Senhor Jesus Cristo fechar a porta. Dia após dia suas almas justas são afligidas diante da conversa ímpia dos transgressores; agora o joio cresce no meio do trigo, os lobos aparecem vestidos como ovelhas, mas a redenção mencionada no texto libertará suas almas de todas as ansiedades decorrentes de tais coisas. A partir de então, vocês desfrutarão de uma perfeita comunhão de santos; nada que é impuro ou profano entrará no santo dos santos, que lhes é preparado lá em cima. De todas as formas do mal vocês serão libertos, quando a sua redenção for aperfeiçoada no céu. Não somente isso, também entrarão no pleno gozo de todo o bem. É verdade que nem todos os santos terão o mesmo grau de felicidade, mas todos serão tão felizes quanto seu coração possa desejar. Crentes: vocês julgarão os anjos maus, e terão conversação familiar com os anjos bons; vocês se assentarão juntamente com Abraão, Isaque, Jacó e todos os espíritos dos justos aperfeiçoados, e para resumir toda a sua felicidade numa só palavra, vocês verão Deus Pai, Filho, e Espírito Santo. E, ao verem a Deus, ficarão cada vez mais semelhantes a Ele, e passarão de glória em glória para toda a eternidade.
    Mas preciso parar. As glórias dos lugares celestiais entram na minha alma tão rapidamente, e em tão grande medida, que fico engolfado na contemplação delas. Irmãos, a referida redenção é inefável; o olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração dos homens mais santos que existem, conceber quão grande ela é. Se eu fosse entreter-lhes durante eras inteiras com um relato dela, vocês, ao chegarem ao céu, teriam que dizer conforme a rainha de Sabá disse: "Nem metade, nem a milésima parte nos foi contada". Tudo quanto podemos fazer nesse caso é subir ao monte Pisga, e, com o olho da fé, contemplar uma vista distante da terra prometida. Podemos vê-la de longe, como Abraão viu a Cristo, e nos regozijar nela; mas aqui somente a conhecemos em parte.
    Louvado seja Deus, porque virá um tempo em que o conheceremos conforme somos conhecidos, e Ele será tudo em todos. Senhor Jesus, completa o número dos Teus eleitos! Senhor Jesus, apressa a vinda do Teu reino!
    E agora, onde estão os zombadores destes últimos dias, os quais consideram loucura a vida dos cristãos, e sem honra o fim deles? Infelizes! Vocês não sabem o que fazem! Se tivessem os olhos abertos e sentidos para discernir as coisas espirituais, vocês não profeririam todo tipo de maldades contra os filhos de Deus, mas os estimariam como as pessoas excelentes da terra, e invejariam a felicidade deles. Suas almas teriam fome e sede dessa felicidade; vocês também se tornariam fanáticos por amor a Cristo. Vocês se jactam da sua sabedoria; assim faziam os filósofos em Corinto. Todavia a sua sabedoria é estultícia aos olhos de Deus. Para o que lhes servirá a sua sabedoria, se não os tornar sábios para a salvação? Podem, com toda a sua sabedoria, propor um esquema mais consistente sobre o qual edificar suas esperanças da salvação, do que aquele que agora lhes foi proposto? Podem, com toda a força da razão natural, achar um meio melhor de aceitação com Deus, do que mediante a justiça do Senhor Jesus Cristo? É certo pensarem que suas próprias obras poderão dalguma maneira merecê-la ou obtê-la? Caso contrário, por que não querem crer nEle? Por que não se submetem à Sua justiça? Vocês podem negar que são todos criaturas caídas? Vocês não percebem que estão cheios de distúrbios, e que esses distúrbios os tornam infelizes? Não percebem que não podem transformar seus próprios corações? Já não fizeram resoluções muitas e muitas vezes, e suas corrupções não continuaram a ter domínio sobre vocês? Acaso não são escravos das suas concupiscências, e o diabo não os leva presos segundo a vontade dele? Por que razão não querem vir a Cristo para receberem a santificação? Vocês não desejam ter uma morte como a dos justos, a fim de que tenham um estado futuro igual ao deles? Estou convicto de que não podem agüentar a idéia de serem aniquilados, e muito menos de ficarem eternamente desgraçados. Apesar daquilo que fingem, vocês deverão confessar, se falarem a verdade, que suas consciências os acusam nos momentos mais graves, ainda que não queiram, e até mesmo constrangem vocês a reconhecer que o inferno não é nenhuma ficção. E por que, então, não querem vir para Cristo? Somente Ele pode obter para vocês a redenção eterna. Corram para Ele, pobres pecadores iludidos! Falta-lhes sabedoria; peçam-na a Cristo. Quem sabe, Ele a dará a vocês? Ele pode concedê-la, pois Ele é a sabedoria do Pai — é aquela sabedoria que foi desde a eternidade. Vocês não possuem justiça; recorram a Cristo, portanto. Ele é o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê. São ímpios; fujam para o Senhor Jesus. Ele está cheio de graça e de verdade, e da Sua plenitude poderão receber todos quantos nEle crêem. Parece que vocês têm medo de morrer; que esse fato os impulsione a Cristo, Ele tem as chaves da morte e do inferno; nEle há redenção abundante. Por isso, que o raciocinador enganado não se jacte do seu pretenso raciocínio. Seja o que for que pensem, é a coisa mais desarrazoàda no mundo deixar de crer em Jesus Cristo, a quem Deus enviou. Por que amigos, por que vocês hão de morrer? Por que não querem vir para Ele, a fim de terem vida? Ah, todos vocês que têm sede, venham às águas da vida e bebam gratuitamente; venham, comprem sem dinheiro e sem preço. Se aqueles privilégios abençoados que nosso texto menciona pudessem ser comprados com dinheiro, vocês poderiam dizer: somos pobres, e não podemos comprar; ou se fossem outorgados somente a pecadores de tal categoria ou posição social, vocês poderiam dizer: como poderão pecadores, tais como nós, esperar que sejam tão altamente favorecidos? Entretanto, Deus dá esses privilégios gratuitamente aos piores pecadores. Foram dados a nós, diz o apóstolo — a mim, um perseguidor, a vocês, coríntios, que eram impuros, beberrões, cobiçosos, idolatras. Por isso, cada miserável pecador pode perguntar: por que não a mim, então? Cristo teria uma só bênção para dar? E que dizer se Ele já abençoou a milhares de pessoas, ao desviá-las das suas iniqüidades? Todavia, Ele continua o mesmo. Ele vive para sempre a fim de interceder, e, portanto, abençoará a vocês, mesmo a vocês também. Embora, de modo semelhante a Esaú, vocês tenham sido profanos, e até agora tenham desprezado a primogenitura proveniente do seu Pai celestial, mesmo hoje, se crerem, Cristo Se tornará da parte de Deus para vocês "sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção".
    Mas preciso falar novamente aos crentes, cuja instrução, conforme salientei antes, este sermão visa especialmente. Vejam, irmãos, participantes da vocação celestial, que grandes bênçãos estão entesouradas para vocês em Cristo Jesus, seu cabeça, e os direitos que possuem ao crerem no Seu nome. Tomem cuidado, portanto, para andarem na dignidade da vocação com que foram chamados. Pensem freqüentemente nos grandes favores que receberam, e lembrem-se: vocês não escolheram a Cristo, mas Cristo escolheu a vocês. Revistam-se (como eleitos de Deus) de humildade de coração, e gloriem-se somente no Senhor, pois vocês nada possuem a não ser aquilo que receberam da parte de Deus. Por natureza, vocês eram tão estultos, tão legalistas, tão ímpios, e estavam numa condição tão condenável como os demais. Sejam misericordiosos, portanto, sejam corteses, e, visto que a santificação é uma obra progressiva, acautelem-se de pensar que já alcançaram tudo. Aquele que é santo, continue sendo santo; sabendo que aquele que é mais puro de coração, desfrutará futuramente da visão mais nítida de Deus. Que o pecado que habita em vocês seja sua preocupação diária; não somente lastimem e lamentem, mas cuidem de subjugá-lo diariamente pelo poder da graça divina. Olhem sempre para Jesus como sendo o consumador, e não somente o autor, da sua fé. Não se firmem na sua própria fidelidade, e sim na imutabilidade de Deus. Cuidem em não pensar que vocês estão firmes pelo poder do seu próprio livre-arbítrio. O amor eterno de Deus Pai deve ser a única esperança e consolo que vocês têm. Que esse amor os sustente em todas as provações. Lembrem-se de que os dons e a vocação de Deus são sem arrepen­dimento; que Cristo, tendo amado vocês, os amará até o fim. E que isto constranja vocês a obediência, e os faça anelar por aquele tempo abençoado quando Ele será não somente sua sabedoria, justiça e santificação, mas também sua redenção completa e eterna. "Glória a Deus nas alturas!"



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