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    REFUTAÇÃO DAS OBJEÇÕES EM DEFESA DO LIVRE-ARBÍTRIO - CALVINO



    1. PRIMEIRA OBJEÇÃO: O PECADO NECESSÁRIO NÃO É CULPÁVEL; O PECADO LIVRE É EVITÁVEL ( Já vimos a refutação a essa objeção - Clique aqui para ler ).


    2. SEGUNDA OBJEÇÃO: GALARDÃO E CASTIGO DEIXAM DE SER PROCEDENTES


    Afirmam que, se não procedem da livre escolha do arbítrio, sejam as virtudes, sejam os vícios, não é congruente que ao homem se inflija castigo, ou se outorgue recompensa. Embora seja de Aristóteles este argumento, contudo reconheço ser usado em algum lugar por Crisóstomo e Jerônimo. Entretanto, o fato de o mesmo ter sido familiar aos pelagianos, nem mesmo o próprio Jerônimo o esconde, e inclusive lhes atribui os termos: “Pois se em nós opera a graça de Deus, então é ela que será coroada, não nós que não laboramos.”
    Em relação aos castigos, responde que eles nos são infligidos com justiça, infligidos a nós de quem emana a culpa do pecado. Ora, que importa se de livre ou servil juízo se peque, contanto que o seja pelo desejo da vontade, especialmente quando o homem, como pecador, argumenta com base nisto: que está debaixo da servidão do pecado? Quanto aos galardões da retidão, de fato é grande absurdo se confessamos que eles dependem da benignidade de Deus, antes que dos próprios méritos?
    Quantas vezes Agostinho recorre a isto: “Deus não coroa a nossos méritos, mas a seus próprios dons; galardões, porém, se chamam aqueles que não se devem a nossos méritos; ao contrário, que são retribuídos por graças já outorgadas”?
    Com agudeza, sem dúvida, advertem para isto: já nenhum lugar sobra aos méritos, se não procedem da fonte do livre-arbítrio; visto, porém, que consideram isto de forma tão dissentânea, erram gravemente. Pois Agostinho não hesita, a cada passo, em ensinar como sendo necessário o que assim pensam confessar-se impiamente, como onde diz: “Quais são os méritos de todo e qualquer homem? Quando ele vem com recompensa não devida, ao contrário, com graça gratuita, unicamente como livre e libertador dos pecados, a todos acha pecadores.”
    De igual modo: “Se a ti se houver de pagar o que é devido, punido terás de ser. Portanto, que acontece? Deus não te pagou a pena devida; pelo contrário, confere graça não devida. Se queres ser estranho à graça, vangloria-te de teus méritos.”109 Igualmente: “Por ti mesmo nada és: os pecados são teus; os méritos, porém, são de Deus; o castigo te é devido, e quando vier a recompensa estará coroando a seus dons, não a teus méritos.”
    No mesmo sentido, Agostinho ensina, em outro lugar, que a graça não procede do mérito, mas o
    mérito, da graça. E, pouco depois, conclui que Deus precede a todos os méritos com seus dons, para que daí sobreleve seus méritos, e os dá inteiramente de graça, porquanto nada acha no homem para que o salve. Mas, por que é tão necessário tecer catálogo mais longo, quando afirmações tais recorrem, incessantemente, em seus escritos? Com efeito, o Apóstolo ainda melhor os livrará deste erro, se porventura ouvirem de que princípio deriva ele a glória dos santos: “Aqueles a quem escolheu, os chamou; aos que chamou, os justificou; aos que justificou, os glorificou” [Rm 8.30]. Por que, pois, segundo o testifica o Apóstolo [2Tm 4.8], os fiéis são coroados? Porque, pela misericórdia do Senhor, não por sua própria diligência, foram não só eleitos, mas ainda chamados e justificados.
    Fora, pois, com este fútil temor de que se já não existe nenhum mérito, então nenhum arbítrio pode subsistir.112 Ora, tomar-se de medo e fugir disto é estultíssimo, com que nos chama a Escritura: “Se”, diz ele, “tudo recebeste, por que te glorias, como se o não houveras recebido?” [1Co 7.14]. Por isso podes ver que ele tudo subtrai ao livre-arbítrio, para que não fique aos méritos lugar algum. Não obstante, uma vez que a benignidade e liberalidade de Deus são inesgotáveis e multíplices, porque faz nossas as graças que nos confere, as recompensa exatamente como se fossem virtudes nossas.

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