Durante uma palestra nos Estados Unidos, um estudante perguntou ao teólogo suiço Karl Barth: "Dr. Barth, qual foi a coisa mais profunda que o Senhor já aprendeu em seu estudo da teologia?" Barth pensou por um momento e depois respondeu: "Jesus me ama, isto eu sei, pois a Bíblia assim o diz" (trecho hino infantil). Os estudantes sorriram diante da resposta tão simplista, mas a risada deles tornou-se um sorriso tímido quando lentamente perceberam que Barth estava falando sério.
Karl Barth deu uma resposta simples para uma pergunta profunda. Ao fazer isso, estava chamando a atenção pelo menos para duas noções de vital importância.
(1) Na verdade cristã mais simples reside uma profundidade que pode ocupar a mente das pessoas mais brilhantes por toda uma vida.
(2) Mesmo no aprendizado da teologia mais sofisticada, realmente nunca ultrapassamos o nível de uma criança no entendimento das misteriosas profundidades e riquezas do caráter de Deus.
João Calvino usava outra analogia. Ele dizia que Deus falava conosco numa espécie de balbucio. Como os pais se empenham em falar numa "linguagem de bebê" , quando se dirigem a seus filhos pequenos, assim também Deus, para se comunicar conosco, míseros mortais, precisa condescender a falar de maneira que possamos compreender.
Nenhum ser humano tem a habilidade de compreender a Deus exaustivamente. Existe uma barreira que impede a compreensão total e abrangente de Deus. Somos criaturas finitas; Deus é infinito. Nisso reside o nosso problema. Como o finito pode compreender o infinito? Os teólogos medievais tinham uma frase que se tornou um axioma dominante em todo estudo posterior de teologia: "O finito não pode apreender (ou conter) o infinito" .Nada é mais óbvio do que isso: um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço finito.
Esse exioma comunica uma das doutrinas mais importantes do Cristianismo ortodoxo. É a Doutrina da incompreensibilidade de Deus. O termo pode ser mal-interpretado. Pode sugerir que, já que o finito não pode "apreender" o infinito, então não podemos saber nada sobre Deus. Se Deus está além da compreensão humana, isso não insinua que toda a nossa discussão religiosa não passa de tagarelice teológica e que, quando muito, somos deixados com um altar destinado a um Deus desconhecido?
Essa de maneira alguma é a inteção. A incompreensibilidade de Deus não significa que não sabemos nada sobre ele. antes significa que nosso conhecimento é parcial e limitado, muito além de um conhecimento ou de uma compreensão plena. O conhecimento que Deus nos dá através da revelação é real e útil. Podemos conhecer a Deus na mesma medida em que ele escolhe se revelar a nós. O finito pode "aprender" o infinito, mas o finito jamais poderá abarcar completamente o infinito. Sempre haverá mais sobre Deus do que podemos aprender.
A Bíblia se refere a isso da seguinte maneira: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos para sempre" (Dt 29.29). Martinho Lutero referia-se a dois aspectos de Deus - o oculto e o revelado. Uma porção do conhecimento divino permanece aculta de nossa vista. Trabalhamos à luz do que Deus nos revelou.
· Existe um profundo significado mesmo na verdade cristã mais simples.
· Não importa quão profundo seja o nosso conhecimento teológico, sempre haverá muitos aspectos da natureza e caráter de Deus que permanecerão um mistério para nós.
· Nenhum ser humano pode ter um conhecimento pleno de Deus
· A doutrina da incompreensibilidade de Deus não significa que não podemos conhecer nada sobre Ele. Significa que nosso conhecimento é limitada, restringido por nossa humanidade.