O papel da esperança no processo de santificação não pode ser subestimado. Considere o que as Escrituras dizem acerca de suas várias contribuições para esse processo:
A esperança produz alegria que perdura nas provações mais difíceis (Provérbios 1028; Romanos S.2y3; 12.12; 1 Tessabnicenses 4.13).
A esperança produz perseverança (Romanos 8.24,25).
A esperança produz confiança (2 Coríntios 3.12; Filipenses 1.20).
A esperança produz um ministério eficaz (2 Coríntios 4.8-18).
A esperançaproduzfiée amor em grau maior (Colossenses 1.4,5).
A esperança produz firmeza/constância (1 Tessalonicenses 1.3).
A esperança produz maior determinação e entusiasmo (1 Timóteo 4.10).
A esperança produz estabilidade (Hebreus 6.19).
A esperança produz um relacionamento mais íntimo com Deus (Hebreus 7.19).
A esperança produz pureza pessoal (IJoão 3.3).
Já que a Bíblia coloca tal ênfase no papel da esperança em termos de crescimento espiritual, ela também deve ser grandemente enfatizada em nosso aconselhamento.
Contrastando a Verdadeira Esperança com a Falsa
A maioria dos conselheiros, tanto cristãos quanto não cristãos, reconhece que as pessoas que enfrentam problemas precisam ter esperança. Entretanto, infelizmente, a esperança que muitos conselheiros oferecem é falsa, pois repousa sobre um fundamento não bíblico e, inevitavelmente, ruirá (Provérbios 10.28; 11.7). É importante compreender a diferença entre essa falsa esperança e a verdadeira esperança que a Bíblia descreve.
Características da Falsa Esperança
A falsa esperança se baseia em idéias humanas quanto ao que é agradável e desejável. Muitos acham que seus problemas desaparecerão simplesmente por obter o que desejam - e, por vezes, há conselheiros que as encorajam nesse erro ao prometer ou insinuar que esses desejos serão satisfeitos. Esse é um erro grave, porque Deus jamais promete nos dar tudo o que desejamos, nem chega perto de afirmar que o simples receber de tudo aquilo que desejamos nos tornará felizes. Via de regra, o que desejamos não é o melhor para nós, e uma abordagem que incentiva o "escolha e reivindique", em relação aos nossos desejos, apenas intensifica nossos problemas. Quando certa senhora foi à busca de aconselhamento, passando por graves dificuldades financeiras, seu conselheiro descobriu que os problemas dela eram resultantes desse tipo de pensamento. Ela havia visitado uma concessionária de veículos, dera várias voltas ao redor de um Lincoln Town Car, impôs as mãos sobre ele e "reivindicou" o carro diante do Senhor. Deus não forneceu o dinheiro para pagá-lo, é lógico, e agora ela se encontra em profunda crise financeira.
Esse é um exemplo extremo, mas muitas pessoas se apegam a falsas esperanças como essa. Elas raciocinam: "Se eu apenas conseguisse casar, meus problemas seriam resolvidos", ou Se conseguisse um emprego melhor, eu seria mais agradável no meu trato com as pessoas". Infelizmente, os objetos desses desejos são físicos - não são espirituais; são temporais - não levam em conta as "coisas lá do alto". Acontece que Deus não prometeu isenção de tribulação neste mundo a quem quer que seja (João 16.33; cf. Tiago 1.2-4); essas pessoas, portanto, tornam-se desiludidas quando não conseguem o que almejam.
A falsa esperança se baseia em uma negação da realidade, Certa vez, aconselhei um jovem que queria viver da música. Alguns de seus amigos o incentivaram nesse intento, pois não queriam magoá-lo. Na realidade, entretanto, ele não possuía qualquer habilidade musical. Ele achava que tinha, mas não tinha. Então, como conselheiro, precisei mostrar-lhe outra direção em lugar de perpetuar uma falsa esperança.
Também me recordo de uma jovem cujo marido a deixou e cujos amigos bem-intencionados continuamente diziam a ela que tinham certeza de que ele voltaria. Quando ela perguntou isso a mim no aconselhamento, precisei repetir várias vezes: "Não sei. O que de fato sei é que Deus pode usar isso na sua vida para lhe tornar uma mulher ainda mais apegada a Deus, e se essa volta acontecer, você terá se beneficiado da situação. Gostaria de poder afirmar que seu marido irá voltar, mas não posso".
"Todos os meus amigos dizem que meu marido vai voltar", disse ela a mim certa vez, "e toda vez que eu venho aqui, em vez de me encorajar, o senhor me desanima". Perguntei a ela por que continuava vindo se aconselhar comigo, e ela respondeu porque eu diria a verdade a ela. Lá no fundo, ela sabia que seus amigos estavam distorcendo a realidade em uma tentativa de consolá-la, mas que, na realidade, não proviam consolo algum.
A falsa esperança se baseia em pensamentos mágicos e místicos. Por vezes, os cristãos colocam sua fé em idéias irreais, destituídas de qualquer substância bíblica. Por exemplo: o enfoque que algumas pessoas têm das devocionais diárias é "um versículo por dia manterá o diabo afastado de mim". Lêem a Bíblia pela manhã como um rito mágico que repelirá problemas. Se algo acontece e eles, deixam de fazer a devocional, passam o restante do dia repletos de temor.
É certo que deveríamos começar o dia com Deus, fazendo nossa devocional pela manhã, mas precisamos reconhecer que não existe poder místico nessa atividade. Na realidade, a leitura bíblica (e até mesmo a memorização) nos beneficia apenas quando a entendemos e aplicamos as Escrituras à nossa vida. Somente a pessoa que "considera atentamente" na Palavra e se torna "operoso praticante" dela, será abençoado no que realizar (Tg 1.25).
A falsa esperança se baseia em uma visão não bíblica da oração. Uma das perguntas nas folhas de questionário pessoal que usamos no aconselhamento1 é "O que você fez com relação ao problema?". Respondendo a essa pergunta, os aconselhados, por vezes escreverão que têm orado pela questão e só. Ao conversarmos com elas mais adiante, descobrimos que crêem que orar é tudo que Deus exige que façam. Certo homem, que apresentava constantes problemas com pecados sexuais, estava revoltado com Deus porque Ele não havia removido seus problemas em resposta às suas orações.
Isso pode ser chamado "tática do armador" com relação à espiritualidade - passamos a bola para Deus (por meio da oração) e esperamos que Ele passe por todos os defensores e faça a cesta sem qualquer ajuda nossa. Uma visão assim, entretanto, só produz uma falsa esperança, porque Deus jamais prometeu que alcançaríamos o alvo da piedade sem um esforço pessoal tenaz (1 Timóteo 4.7b). Precisamos da força divina para vencer (João 15.5) - e é aí que entra a oração - mas oração, por si só, raramente resolverá nossos problemas.
Em Mateus 6.11, Jesus disse que deveríamos orar: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje". Mas em 2 Tessalonicenses 3.10 Paulo diz: "Se alguém não quer trabalhar, também não coma". Esses dois mandamentos não são contraditórios, pois, enquanto devemos orar a Deus para que Ele nos supra com aquilo que necessitamos para o viver, não devemos esperar que isso caia do céu. Precisamos trabalhar por isso com a força que Deus supre. Ou seja, até a esperança que colocamos na oração pode se tornar falsa, se esperarmos que ela, por si só, tudo resolva.
A falsa esperança se baseia em uma interpretação inadequada das Escrituras. Vários cristãos sofrem desses erros de "eisegese", a prática de encontrar significados de preferência pessoal num texto, em lugar de descobrir o verdadeiro significado dado pelo autor (exegese). Outra forma de isso ocorrer é o famoso "abrir a Bíblia e colocar, o dedo em um versículo", ou seja, buscar orientação e esperança em versículos lidos aleatoriamente nas Escrituras, atribuindo-lhes significado sem levar em conta o contexto em que ocorrem.2 Essa prática conduz à compreensão errada do que a Bíblia realmente ensina e à desilusão quando as supostas promessas não se concretizam.
Certa mulher que havia se envolvido em um caso extraconjugal veio me procurar em busca de aconselhamento, e descobri que uma das causas que a levaram a esse pecado era uma falsa esperança que se baseava em uma interpretação errada das Escrituras. Vários anos antes, seu pai havia ameaçado deixar sua mãe e ela encontrou alívio para suas lágrimas lendo Mateus 18.19: "Se dois entre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus55. Essa mulher encontrou um amigo cristão que concordou com ela que o pai dela deveria permanecer com a mãe, e eles oraram e esperaram que Deus mantivesse os pais juntos. As esperanças dela foram destruídas, entretanto, porque o pai abandonou a mãe. Na mente dela, Deus havia falhado em manter Sua Palavra, e ela teve sua fé severamente comprometida. Dúvida e amargura para com Deus cresceram naquele coração até que finalmente ela rompeu os votos de casamento e se envolveu com outro homem.
Infelizmente, a esperança dela se baseava em uma interpretação errônea das Escrituras. Mateus 18.19 faz parte de uma passagem que aborda a disciplina na igreja (w. 15-20) e não possui aplicação direta à oração.3 Deus jamais havia prometido que manteria os pais dela juntos simples mente porque ela e um amigo tinham concordado em oração. Mostrar a ela que sua esperança havia sido falsa e que Deus não tinha sido infiel à Sua Palavra foi um passo importante para traze-la de volta à santidade.
Como conselheiros, devemos questionar as esperanças que as pessoas demonstram quando estamos preocupados com a possibilidade de serem falsas. Quando o fazemos, entretanto, precisamos perceber que a reação pode vir a ser bastante desagradável. Enquanto a verdadeira esperança se mantém coesa quando algo a põe à prova, aqueles que possuem uma falsa esperança tendem a se entristecer quando a esperança que têm é questionada. Um exemplo desse fenômeno é a história do profeta Micaías em 2 Crônicas 18. Ele profetizou contra a confiança do rei Acabe de que Israel poderia conquistar os habitantes de Ramote-Gileade (uma esperança que havia sido reforçada por 400 homens que alegaram ser profetas), então Acabe o lançou na prisão (w. 16-19,26). Micaías sofreu tão-somente por ter tido a coragem e a preocupação de questionar a falsa esperança do rei.
Aliás, Micaías estava certo - os israelitas foram massacrados e Acabe morreu na batalha. Devemos ter cuidado em não prover uma falsa esperança como consolo temporário, e precisamos estar dispostos a examinar e a questionar as bases da esperança de nossos aconselhados. Não devemos permitir que eles edifiquem esperanças em verdades não bíblicas que ruirão quando a tempestade chegar (cf. Lucas 6.47-49).