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    A Afeição ao Pecado é um Obstáculo – J. I. Packer



    As pessoas regeneradas sabem que a afeição ao pecado se toma um obstáculo para que experimentem a alegria da comunhão com Deus. Ela faz com que Deus retire a convicção que elas têm e sintam seu descontentamento por meio de uma disciplina interior e exterior. Portanto, seu instinto é orar constantemente como o salmista: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno" (SI 139.23,24). Estes versículos foram escritos em forma de versos em um hino que começa assim:

    Sonda-me, ó Deus, e prova minhas ações,

    E permita que a minha vida apareça Enquanto é observada por teus olhos que tudo sondam;

    Para que meus caminhos eu possa ver. Sonda todos os meus sentidos e conhece o meu coração,

    Tu és o único que pode conhecê-los; E deixa que as partes profundas e secretas
    Sejam completamente reveladas a mim.

    Lança luz nas celas escuras, Onde possa reinar a paixão;

    Pressiona a minha consciência até que ela sinta O peso do pecado.

    Sonda todos os meus pensamentos, as fontes secretas,

    Os motivos que controlam, As câmaras onde coisas impuras,

    Dominam a minha alma.

    Nenhuma pessoa regenerada, em sã consciência, quer ser achada praticando o pecado! Assim como o grande peixe expeliu Jonas de seu corpo físico, vomitando-o na terra seca, o que nasceu de novo se esforçará por expelir o pecado de seu sistema espiritual, reconhecendo-o e renunciando-o por meio do arrependimento. Às vezes, isto envolve drásticas ações públicas, como:

            Zaqueu, anunciando que metade de seus bens seria dado aos pobres, e que restituiria quatro vezes mais todos que havia defraudado (Lc 19.8);

            os mágicos convertidos em Éfeso, queimando seus livros de ocultismo (At 19.19);

            os coríntios, agindo rapidamente para impor, por decreto, a disciplina eclesiástica que antes negligenciaram (2Co 7.9-11);

            as confissões públicas de pecados, que ocorrem freqüentemente em tempos de reavi vamento (Mt 3.6; At 19.18).

    Entretanto, sempre haverá a busca de si mesmo na presença de Deus, como uma disciplina de discipulado de Jesus Cristo, onde se depende da ajuda do Espíito Santo para detectar o que precisa ser acertado. No fundo, todos os cristãos querem se arrepender de todas as coisas que amarram a sua vida e deixá-las para trás.

    Aqui, mais uma vez, Bradford ensina uma lição de profunda importância. Quando ele assinava suas cartas com as palavras "John Bradford, um verdadeiro hipócrita", "um hipócrita", "o pecador mais miserável, indiligente e mal-agradecido", "o pecador John Bradford", isso não era apenas uma ação de aparente piedade. Ele estava, na verdade, testificando a intensidade do seu sentido de presente imperfeição. Queria avançar no caminho do sincero arrependimento. E, de fato, uma lei da vida espiritual que quanto mais é aprofundada, mais consciente você fica da distância que ainda tem de trilhar. Seu desejo crescente por Deus torna-o cada vez mais consciente, não tanto de onde você se encontra em seu relacionamento com Deus, mas de onde você ainda não está. O que pode parecer exagero na linguagem de Bradford não passa de uma indicação do fervor com que ele desejava ser um homem melhor em Cristo do que sentia ser. Se tivéssemos apenas metade daquele fervor, como seriamos diferentes!

    MODELO DE ARREPENDIMENTO

    Até aqui, discutimos o arrependimento em termos bem gerais. Agora, entretanto, veremos que o arrependimento, por sua própria natureza, é específico. Saber exatamente o que precisa ser deixado de lado é parte de sua realidade.

    O arrependimento vago nada representa, ou pelo menos, quase nada. "É dever de todo homem tentar se arrepender de seus próprios pecados, principalmente".

    Assim descobrimos que, juntamente com os chamados gerais ao arrependimento que estão registrados na Bíblia (Mt 3.2; 4.17; Mc 6.12; Lc 5.32; 13.3,5; At 2.38; 3.19; 17.30), existem passagens que mencionam situações específicas pelas quais os ofensores devem se arrepender. Observaremos rapidamente agora uma das mais surpreendentes delas, ou seja, as cartas do Senhor Jesus Cristo, vindas de seu trono, para cinco das sete igrejas descritas em Apocalipse. Devemos observar estes pontos:

    1.      Após a visão de Cristo em sua glória de quem o ouvia (1.12), as cartas são o ponto central do livro. As visões do conflito que haveria de vir e do triunfo do Senhor e de seu povo (4-22) são um tipo de adendo, ou programa, anexo às cartas para dar substância à repetida promessa de que Cristo compartilhará de uma alegria inimaginável com todo cristão que vencer (2.7,11,17,26; 3.5,12,21).


    2.      As cartas são endereçadas às igrejas, mas são, na verdade, escritas para cada um de seus membros. "Quem tem ouvidos (no singular), ouça"; "ao vencedor" (no singular) será dada uma recompensa. Como sempre, a Palavra de Deus individualiza seus destinatários. Cada ouvinte ou leitor deve entender que a Palavra está endereçada ao seu coração, na expectativa de uma resposta pessoal.

    3.      Os pecados das igrejas em conjunto, e de cada um de seus membros, são especificados. Éfeso tem abandonado o seu primeiro amor (2.4); Pérgamo tem tolerado ensinos que são contra a santidade (2.14); Tiatira tem encorajado uma mulher imoral a ser sua instrutora (2.20); Sardes têm chegado a uma situação de morte espiritual e negligência de comportamento de seus sub-cristãos (3.1-3); Laodicéia é morna, presumida, complacente e indiligente nas coisas espirituais (3.15,17). Colocando em outras palavras, estas igrejas não conseguiram manter um espírito de amor por seu Senhor, retidão sem compromisso, intolerância do intolerável, zelo pela glória de Deus e boa vontade de lutar por Cristo. Destes fracassos específicos - todos tendo a ver com a qualidade do seu discipulado e lealdade ao seu Rei - o próprio Jesus agora exige que se arrependam.

    4.      Assim como expressam o amor de Jesus, e seu propósito de abençoar, quando, de sua glória, ele diz para seu povo enfrentar e arrepender-se de seus pecados, as cartas expressam seu amor quando ele se coloca diante dessas igrejas para propor uma renovação de sua comunhão com ele (3.20). É para ele, como Senhor, que o arrependimento do cristão deve estar direcionado, assim como é para ele, como Salvador, que os penitentes devem olhar em busca de seu primeiro perdão e restauração.

    Aqui, então, está um modelo para o arrependimento do cristão de hoje.

    "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados", escreve Tiago (Tg 5.16). Ele não está falando das formalidades da absolvição institucionalizada, mas das intimidades da amizade cristã que são conhecida hoje como "relacionamentos de responsabilidade". Nesses relacionamentos, um zela pelo outro em um contexto de compartilhar abertamente situações da vida: eventos tristes, como fracassos e quedas, e alegres, como livramentos e sucessos. A confissão de pecados dentro de amizades pastorais deste tipo é uma expressão importante de arrependimento. O embaraço não deveria nos impedir de praticá-la.

    Confessar pecados a alguém que o conhece como um companheiro e amigo é comprometer-se ao esforço redobrado para não cair novamente no mesmo erro. Pedir a um amigo para que ore por uma cura (Tiago está falando da cura moral e espiritual - em outras palavras, a mais significativa cura pessoal) é tornar-se responsável por manter esse compromisso em uma base permanente. Poucos de nós, creio eu, realmente sabem o valor dos relacionamentos de responsabilidade na luta por um arrependimento honesto e por uma sinceridade na batalha contra tentações ao pecado.

    Admitir com franqueza, para amigos em Cristo, os pecados cometidos, é parte do modelo bíblico de arrependimento do cristão.