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    O ensino dos Pais eclesiásticos sobre a justificação (até 1.200 dC)



    Os escritos dos Pais eclesiásticos não são Escrituras inspiradas. Nós não os consideramos como uma autoridade no ensino. Contudo, eles oferecem evidência do ensino que foi dado à Igreja de sua época. Possuímos uma corrente ininterrompida de escritos, desde o tempo dos apóstolos até os nossos dias que podem mostrar-nos toda a história do pensamento cristão sobre o assunto da justificação.

    A pergunta que dirigimos aos primeiros Pais eclesiásticos é esta: poderia a doutrina da justificação pela graça, mediante a fé nos méritos de Cristo, ser encontrada em algum dos escritos durante o primeiro período da história da Igreja? Se pudermos, então teremos provas conclusivas de que a doutrina não foi uma invenção de Lutero, como se diz às vezes! Mas, se a verdade fosse conhecida por qualquer um dos primeiros Pais eclesiásticos, então, com toda certeza, foi conhecida antes da Reforma.

    Clemente de Roma (talvez o mesmo mencionado em Filipenses 4:3), em sua carta aos Coríntios, diz:

    "Nós também, sendo chamados mediante a Sua (Deus) vontade em Cristo Jesus, não somos justificados por nós mesmos, nem por nossa própria sabedoria, ou entendimento, ou piedade, ou obras que temos feito com pureza de coração, porém, pela fé ... " (Epístola aos Coríntios)

    Inácio, um discípulo do apóstolo João, escreveu:

    "A Sua (Cristo) cruz, a Sua morte, a Sua ressurreição e a fé que vem por meio dEle, são as minhas garantias imaculadas; nessas, pelas suas orações, acredito que tenho sido justificado."  (Epístola aos de Filadélfia)

    Policarpo (falecido em 155 dC), também um discípulo do apóstolo João, escreveu:

    "Eu sei que mediante a graça você é salvo, não por obras, mas sim, pela vontade de Deus em Jesus Cristo." (Epístola aos Filipenses)

    Justino Mártir (falecido em 165 dC), escreveu:

    "Não mais pelo sangue de bodes e de carneiros, nem pelas cinzas de uma novilha... são os pecados purificados,  e sim, pela fé, mediante o sangue de Cristo e de Sua morte, que por essa razão morreu." (Diálogo com Trifa)

    Numa carta (escrita cerca de 150 dC) dirigida a uma pessoa chamada Diogneto,  que evidentemente tinha indagado a respeito da cristandade, encontram-se as seguintes frases:


    "Deus deu o Seu próprio Filho em resgate por nós . . . porque, o que poderia encobrir os nossos pecados, senão a Sua justiça? Quem possibilitou a justificação de transgressores e impiedosos, tais como nós, senão o Filho de Deus somente? Quão maravilhoso é o benefício inesperado, que a transgressão de muitos pudesse ser escondida em uma só Pessoa justa e que a justiça de Um só pudesse justificar a muitos transgressores."

    No período iniciado com o reinado de Constantino (falecido em 337 dC), quando o cristianismo tornou-se uma religião oficialmente reconhecida, e não mais uma fé perseguida, algumas heresias surgiram e feriram várias doutrinas básicas do cristianismo. Inevitavelmente, um erro no trato de uma verdade cristã, envolveu erros a respeito de outras também, isto é, conceitos deficientes quanto ao pecado impediram que alguns compreendessem a sua necessidade de um Salvador. Outras heresias relacionaram-se com a Trindade, a encarnação de Cristo e a incapacidade do pecador perdido para fazer obras espirituais. Essas heresias todas enfraqueceram o entendimento da justificação bíblica.

    Ao combater essas heresias e reafirmar a impotência pecaminosa da natureza humana, a necessidade de salvação pela graça e a expiação eficaz oferecida por Cristo, os fiéis remanescentes lançaram fundamentos seguros para a doutrina da justificação pela graça mediante a fé em Cristo.

    Irineu (falecido no princípio do terceiro século), um discípulo de Policarpo, escreveu:

    "... através da obediência de um homem, que primeiro nasceu da Virgem, para que muitos pudessem ser justificados e receber a salvação."

    Cipriano (falecido em 258 dC), um bispo na Igreja da África do Norte, escreveu:

    "Quando Abraão creu em Deus, isso lhe foi imputado para justiça, portanto, cada um que crê em Deus e vive pela fé, será considerado como uma pessoa justa."

    Atanásio, bispo de Alexandria durante quarenta e seis anos (falecido em 373 dC), escreveu:

    "Nem por esses (isto é, esforços humanos), mas, à semelhança de Abraão, o homem é justificado pela fé."

    Basílio, bispo de Capadócia (falecido em 379 dC), foi um escritor prolífico e tem nos deixado palavras tais como estas: "O verdadeiro e perfeito gloriar-se em Deus é isto: é quando o homem não se exalta por causa da sua própria justiça; é quando ele sabe por si mesmo que carece da verdadeira justiça e que a justificação é somente pela fé em Cristo."

    Ambrósio, bispo de Milão (falecido em 397 dC), famoso como grande pregador, tem nos deixado estas palavras:

    "Para o homem ímpio, para um gentio que crê em Cristo, a sua fé lhe é imputada para justiça, sem as obras da lei, como também aconteceu com Abraão."

    De Orígenes, o grande professor, pensador e escritor do cristianismo (falecido em 253 dC), vem o seguinte:
    "Pela fé, sem as obras da lei, o ladrão na cruz foi justificado; porque ... o Senhor não indagou a respeito de suas obras anteriores, nem aguardava a realização de qualquer obra depois de crer; antes ... Ele o tomou para Si mesmo como companheiro, justificado somente na base da sua confissão."

    Jerônimo, o grande tradutor da Bíblia para o latim (falecido em 420 dC), escreveu:

    "Quando um homem ímpio é convertido, Deus o justifica somente por meio da fé, não por causa de boas obras que, na realidade, ele não possuía."

    Crisóstomo, talvez o maior pregador de todos os Pais eclesiásticos (falecido em 407 dC), e que vivia por muitos anos em Constantinopla. Dele nós temos:

    "Então, o que é que Deus fez? Ele fez com que um homem justo (Cristo) Se fizesse pecado, (como Paulo afirma)  para que Ele pudesse justificar pecadores ... quando nós somos justificados, é pela justiça de Deus, não por obras ... mas pela graça, pela qual todo o pecado desaparece."

    De Agostinho, bispo de Hipona, perto de Cartago, um grande expositor da teologia da salvação somente pela graça de Deus (falecido em 420 dC), temos:

    "A graça é algo doado; o salário é algo pago... é chamada graça porque ela é concedida gratuitamente. Você não comprou por nenhum mérito pessoal o que tem recebido. Portanto, em primeiro lugar, o pecador recebe a graça para que sejam perdoados os seus pecados ... na pessoa justificada, as boas obras vêm depois; elas não precedem a graça, a fim de que a pessoa seja justificada ... as boas obras que seguem a justificação manifestam o que o homem tem recebido."

    Anselmo, de Cantuária (falecido em 1109 dC), um grande teólogo, e talvez mais conhecido por causa de seu estudo sobre a expiação do pecado por Cristo, escreveu:

    "Você acredita que não pode ser salvo, senão pela morte de Cristo? Então, vá, e . . . ponha toda a sua confiança unicamente em Sua morte. Se Deus lhe disser: "você é um pecador", então responda: "coloco a morte de nosso Senhor Jesus Cristo entre mim e o meu pecado."

    De Bernardo de Claraval, considerado como o último dos Pais eclesiásticos (falecido em 1153 dC) vem o seguinte: "Acaso a nossa justiça não seria apenas uma injustiça e imperfeição? Então, o que será dos nossos pecados, quando a nossa justiça não é suficiente para defender-se a si mesma? Vamos, portanto, com toda humildade, refugiar-nos na misericórdia, porque ela somente pode salvar as nossas almas . . . qualquer um que tenha fome e sede de justiça, que creia nAquele que "justifica o ímpio", e assim sendo justificado somente pela fé, terá paz com Deus."

    Portanto, fora de qualquer dúvida, vemos que a doutrina da justificação pela graça, mediante a fé, não foi uma novidade introduzida por Lutero e Calvino. Embora houvesse muitas heresias e conceitos corruptos durante os primeiros séculos da história da Igreja, houve paralelamente uma corrente contínua dos maiores escritores e pensadores que adotaram e ensinaram esta verdade bíblica.

    James Buchanan