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    Como Deus chama os Eleitos - A. A. Hodge (1823-1886)



    VOCAÇÃO EFICAZ

    Seção I. (Confissão de Fé de Westminster) - Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e somente esses, aprouve ele, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente, por sua Palavra e por seu Espírito, daquele estado de pecado e de morte, em que estão por natureza, à graça e salvação por meio de Jesus Cristo; iluminando suas mentes espiritual e salvificamente para entenderem as coisas de Deus; removendo seus corações de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando sua vontade e, por seu infinito poder, determinando-lhes o que é bom, e eficazmente atraindo-os a Jesus Cristo; mas de tal forma que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos por sua graça.

    Seção II. - Esta vocação eficaz provém unicamente da livre e especial graça de Deus e não de coisa alguma prevista no homem; nesta vocação ele é totalmente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espirito Santo, seja desse modo capacitado a responder a esta vocação e a abraçar a graça oferecida e comunicada nela.

    1 Rm 8.30; 11.7; Ef 1.10,11.2 2 Ts 2.13,14; 2 Co 3.3,6.3 Rm 8.2; Ef 2.1-5; 2 Tm 1.9,10." At 26.18; 1 Co 2.10,12; Ef 1.17,18.5 Ez 36.26." Ez 11.19; Fp 2.13; Dt 30.6; Ez 36.27.7 Ef 1.19; Jo 6.44,45.8 Ct 1.4; SI 110.3; Jo 6.37; Rm 6.16-18.9 2 Tm 1.9; Tt 2.4,5; Ef 2.4,5,8,9; Rm9.11.10 1 Co 2.14; Rm 8.7; Ef 2.5." Jo 6.37; Ez 36.27; Jo 5.25.

    EXPOSIÇÃO

    Há uma vocação externa provinda da Palavra de Deus, estendida a todos os homens a quem o evangelho é proclamado, o que é considerado sob a quarta seção deste capítulo. A primeira e segunda seções tratam da vocação interna e eficaz provinda do Espírito de Deus, o qual efetua a regeneração, e a qual só é experimentada pelos eleitos. Desta vocação interna afirma-se: —

    1.      Que tal vocação interna de fato existe e que é necessária à salvação.

    2.      Quanto aos sujeitos dela, eles abrangem a todos os eleitos, e somente os eleitos.

    3.      Quanto ao agente dela: —

    a.       Que o único agente dela é o Espírito Santo, o qual usa

    b.      A verdade revelada do evangelho como seu instrumento;

    c.       Que os sujeitos dela, enquanto resistiram espontaneamente a todas as influências comuns do Espírito Santo que experimentaram antes da regeneração, são inteiramente passivos com respeito a esse ato especial do Espírito por quem são regenerados; não obstante, em conseqüência da mudança operada neles na regeneração, obedecem o chamado e subseqüentemente, mais ou menos perfeitamente, cooperam com a graça.

    4.      Quanto à natureza dela, ensina-se que ela é um exercício do poder infinito e eficaz do Espírito Santo agindo imediatamente na alma do sujeito, determinando-lhe e eficazmente atraindo-o, todavia de uma maneira perfeitamente consonante com sua natureza, de modo tal que ele vem mui livre e espontaneamente.

    5.      Quanto ao efeito dela, ensina-se que opera uma mudança radical e permanente na totalidade da natureza moral do sujeito, iluminando espiritualmente sua mente, santificando suas inclinações, renovando sua vontade e dando uma nova diretriz à sua ação.


    Que uma vocação interna provinda do Espírito de fato existe, distinta da vocação externa da Palavra, e a qual é necessária à salvação, prova-se: —

    1.1.   À luz do que as Escrituras ensinam concernente ao estado inerente do homem como sendo um estado de morte espiritual, cegueira, insensibilidade e absoluta inabilidade com respeito a toda ação espiritualmente boa

    1.2.   As Escrituras distinguem entre a influência do Espírito e aquela provinda só da Palavra. 1 Co 2.14,15; 3.6; 1 Ts 1.5,6.

    1.3.   Declara-se ser necessária a influência espiritual para dispor e capacitar os homens a receberem a verdade. Jo 6.45; At 16.14; Ef 1.17.

    1.4.   Tudo quanto é bom no homem é atribuído a Deus como seu autor. Ef 2.8; Fp 2.13; 2 Tm 2.25; Hb 8.21.

    1.5.   A operação do Espírito nos corações dos regenerados é representada como sendo muito mais direta, poderosa e eficaz do que a mera influência moral procedente da verdade sobre o entendimento e inclinações. Ef 1.19; 3.7.

    1.6. 0 resultado efetuado na regeneração é diferente de um efeito particular da simples verdade. A regeneração é "um novo nasci¬mento", "uma nova criação" etc. Jo 3.3,7; Ef 4.24.
    1.7, As Escrituras explicitamente distinguem entre as duas vocações. Diz-se dos sujeitos de uma: "Muitos são chamados, mas poucos escolhidos." Mt 22.14. Diz-se dos sujeitos da outra: "A quem chamou, a esses também justificou." Rm 8.30. Comparem-se Pv 1.24 eJo 6.45.

    Todos esses argumentos cooperam para provar que essa influência espiritual é essencial à salvação. Qualquer que seja a condição necessária para a regeneração, ela é a condição necessária da salvação, porque "se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." Jo 3.3.

    2.      Que esta vocação espiritual abrange a todos os eleitos, e somente os eleitos, prova-se: —

    2.1.   À luz do que já ficou provado,

    a.       Que Deus, desde a eternidade, definida e imutável mente determinou quem seria salvo; e

    b.      Que Deus, havendo "destinado os eleitos à glória, pelo eterno e mui livre propósito de sua vontade, preordenou todos os meios para isso". A vocação eficaz, sendo o real livramento de uma alma da morte do pecado pelo infinito poder de Deus, é óbvio que deve ser aplicada a todos quantos serão salvos, e a qual não pode ser aplicada àqueles que não serão salvos.

    2.2.   O mesmo se prova à luz do fato de que as Escrituras representam os "chamados" como sendo os "eleitos", e os "eleitos" como sendo os "chamados". Rm 8.28,30. Os que se encontram com Cristo no céu são "chamados, eleitos e fiéis". Ap 17.14.

    2.3.   As Escrituras, além do mais, declaram que a "vocação" tem por base a "eleição": "Que nos salvou e nos chamou com santa vocação, não segundo nossas obras, mas segundo seu próprio propósito e graça que nos deu em Cristo Jesus antes da fundação do mundo." 2 Tm 1.9; 2 Ts 2.13,14; Rm 11.7.

    3.      Que o único agente nesta vocação eficaz é o Espírito Santo; que ele usa o evangelho como seu instrumento; e que, enquanto todos os pecadores são ativos em resistir as comuns influências da graça antes da regeneração, e todos os crentes em cooperar com a graça santificante depois da regeneração, não obstante cada alma recriada é passiva com respeito àquele divino ato do Espírito Santo, por meio do qual é ela regenerada, seja tudo isso provado sob os seguintes e distintos tópicos: —

    3.1. Há certas influências do Espírito na presente vida que se estendem a todos os homens em maior ou menor grau; as quais tendem a restringir ou a persuadir a alma; as quais são exercidas na forma de fortificar o efeito natural e moral da verdade no entendimento, no coração e na consciência. Elas envolvem não mudança de princípio e disposição permanentes, mas só um aumento das emoções naturais do coração à vista do pecado, do dever e do interesse próprio. Essas influências, naturalmente, podem ser resistidas, e são habitualmente resistidas, pelos não-regenerados. O fato de que tais influências resistíveis são experimentadas pelos homens, prova-se: —

    a.       A luz do fato de que as Escrituras afirmam que são resistidas. Gn 6.3; Hb 10.29.

    b.      Cada cristão é cônscio de que antes de sua conversão foi alvo de influências a impeli-lo à obediência de Cristo, as quais ele por algum tempo resistiu. Observamos ser também verdade no tocante a muitos homens que nunca se converteram realmente.

    3.2. A distinção entre regeneração e conversão é óbvia e necessária. Vimos que os atos voluntários da alma humana são determinados por e derivados de seu caráter, inclinações e desejos que a impelem; e que essas inclinações e desejos derivam seu caráter do estado moral permanente da alma na qual surgem. Nos não-regenerados esse estado e disposição permanentes e morais da alma é mau, e por isso a ação é má.
    Ação positivamente santa é impossível exceto como conseqüência de uma disposição positivamente santa. A infusão de uma disposição tal deve, portanto, preceder qualquer ato da verdadeira obediência espiritual. A vocação eficaz, segundo o uso de nossos Padrões, é o ato do Espírito Santo efetuando a regeneração. A regeneração é o efeito produzido pelo Espírito Santo na vocação eficaz.

    O Espírito Santo, no ato da vocação eficaz, leva a alma a ser regenerada pela implantação de um novo princípio ou hábito governante de emoção e ação. A alma propriamente dita, na conversão, imediatamente age sob a direção desse novo princípio em voltar-se do pecado para Deus através de Cristo. E evidente que a implantação desse gracioso princípio é diferente do exercício desse princípio, e que fazer uma pessoa voluntária é diferente de agir ela voluntariamente. O primeiro é um ato exclusivo de Deus; o segundo é um ato conseqüente do homem, e depende da assistência contínua do Espírito Santo.

    Que Deus é o único agente no ato que efetua a regeneração, é óbvio: —

    a. A luz da natureza da circunstância, como demonstrado supra. Fazer uma pessoa indisposta, disposta, não pode ser cooperado pela pessoa enquanto indisposta.

    h. A luz do que ficou provado no capítulo ix., § 3, quanto à inabilidade absoluta do homem com respeito às coisas espirituais.

    c. A luz do que as Escrituras dizem quanto à natureza da mu-dança. Elas a chamam "um novo nascimento", "um gerar", "um vivificar", "uma nova criação". "Deus gera, o Espírito vivifica"; "nós nascemos de novo", "nós somos feitura de Deus". Jo 3.3,5-7; 1 Jo 5.18; Ef 2.1,5,10. Vejam-se também Ez 11.19; SI 51.10; Ef 4.23; Hb 8.10. Que, após a regeneração, a alma recém-nascida imediatamente começa e prossegue sempre mais ou menos perfeitamente cooperando com a graça santificante, é auto-evidente. Fé, arrependimento, amor, boas obras são um e todos ao mesmo tempo "fruto do Espírito" e ações livres dos homens. Além do mais, somos constantemente conscientes de que somos sujeitos às influências divinas, as quais, ou resistimos ou obedecemos, e as quais somos livres para resistir ou obedecer como nos apraz, enquanto, através da graça, predominantemente nos sentirmos felizes em obedecer.

    3.3. Que o Espírito Santo usa a "verdade" como seu instrumen¬to na vocação eficaz, é óbvio: —

    a.       Porque ele nunca age dessa forma onde o conhecimento da verdade é inteiramente ausente; b. Porque as Escrituras asseveram que somos gerados pela verdade, santificados pela verdade, desenvolvidos por ela etc. Jo 17.19; Tg 1,18; 1 Pe2.2.

    4. Que essa ação divina é em sua natureza onipotente e infalivelmente eficaz, e contudo perfeitamente congruente com a natureza racional e voluntária do homem, segue-se indubitavelmente à luz do fato de que ela é um ato do Deus sapientíssimo e todo-poderoso, no exercício de seus autoconsistentes e imutáveis decretos. O que Deus diretamente efetua, seus imutáveis propósitos devem ser certamente eficazes e poderosos. Ef 1.18,19. Além disso, a própria coisa feita é para fazer-nos dispostos, para operar em nós a fé; e isso é indubitavelmente conectado com a salvação. Fp 2.13. Que ela é eficaz, é também asseverado. Ef 3.7,20; 4.16.

    Que essa divina influência é perfeitamente consoante com nossa natureza, é óbvio: —

    4.1.   A luz do fato de que ela é a influência de um Criador sapientíssimo sobre a obra de sua própria mão. É inconcebível ou que Deus seja incapaz ou indisposto a controlar as ações de suas criaturas de uma maneira perfeitamente consistente com sua natureza.

    4.2.   A influência que ele exerce é denominada na Escritura de "uma atração", "uma instrução", "uma iluminação" etc. Jo 6.44,45; Ef 1.18.

    4.3.   Por natureza, a mente é trevosa, as inclinações, pervertidas, e a vontade, escravizada pelo pecado. A regeneração restaura essas faculdades à sua condição própria. Ela não pode ser inconsistente com a natureza racional, obstruindo a luz, nem com o livre-arbítrio, produzindo a escravidão. "Onde o Espírito do Senhor está, aí há liberdade." 2 Co 3.17; Fp 2.13; SI 110.3. Cada pessoa regenerada é cônscia de - (a.) Que nenhuma compulsão tem obstado o movimento espontâneo de suas faculdades; e (b.) Que, por outro lado, nenhuma de suas faculdades nunca agiu tão livre e consistentemente com a lei de sua natureza pregressa
    5. Que essa mudança é radical, prova-se à luz do fato de que, como se demonstrou supra, ela consiste na implantação de um novo princípio governante da vida; à luz do fato de que ela é um "novo nascimento", uma "nova criação", operada pelo infinito poder de Deus na execução de seu eterno propósito de salvação; e que ela é tão necessária para o de boa moral quanto para o libertino. Que essa mudança é permanente será demonstrado no capítulo xvii., Da Perseverança dos Santos.

    Que ela afeta o homem todo - intelecto, emoções e vontade -, é óbvio: —

    5.1.   A luz da unidade essencial da alma. Esta é aquele "eu" indivisível que pensa, sente e quer. Se o estado moral permanente da alma é corrupto, todas as suas funções serão pervertidas. Não podemos nutrir nenhum desejo por um objeto, a menos que percebamos seu encanto; nem podemos perceber intelectualmente o encanto daquilo que é totalmente incompatível com nossos inerentes gostos e disposições.

    5.2.   As Escrituras expressamente afirmam que o pecado é essencialmente enganoso, que a depravação inata envolve cegueira moral e que o homem natural não pode receber as coisas que se discernem espiritualmente. 1 Co 2.14; 2 Co 4.4; Jo 16.3.

    5.3.   As Escrituras expressamente afirmam que todos os "recém-nascidos" são alvos da iluminação espiritual do entendimen-to, tanto quanto da renovação das inclinações. Jo 17.3; 1 Co 2.12,13; 2 Co 4.6; Ef 1.18; 1 Jo 4.7; 5.20.

    5.4.   Na Bíblia, a frase, "dar um novo coração" equivale a efetuar a regeneração; e o termo "coração" é caracteristicamente usado para todo o interior do homem - intelecto, emoções e vontade. Observem-se frases tais como "conselhos do coração", 1 Co 4.5; "imaginações do coração", Lc 1.51; "pensamentos e intentos do coração", Hb 4.12.