Primeiro, devo aprender, com este plano da salvação, a ter temor diante da grandeza do meu Criador.
Durante os últimos trinta anos, lamentei, com freqüência, em público, a maneira pela qual o século 20 se permitiu pensamentos grandiosos a respeito do ser humano e, por outro lado, escandalosamente pequenos a respeito de Deus. A história relembrará a nossa época, pelo menos no que diz respeito ao Ocidente, como a era dos "encolhedores" de Deus. Pensadores influentes, dentro e fora da igreja, afirmaram ou a existência de um deísmo sem vida que apresenta um Deus frio, distante, desinteressado e que deixa o mundo correr livremente; ou o monismo estático de um Deus cuja grande realização limita-se a uma realidade unificadora, ligando todas as entidades e processos a ele em um todo interdependente; ou ainda a impotência patética de um Deus que revela-se em Jesus como um amante fracassado; ou a força sem rosto de um Deus que estabelece com igualdade todas as religiões para que nenhuma sonhe em suplantar qualquer outra.
Existiram teólogos leigos, como G. K. Chesterton, Charles Williams, Dorothy L. Sayers, C. S. Lewis e Peter Kreeft, e teólogos acadêmicos, como Leonard Hodgson, Oliver Quick, Cornelius van Til, G. C. Berkouwer e Donald Bloesch, que proclamaram as verdades gêmeas da Trindade e da Encarnação, e a dupla esperança da ressurreição pessoal e renovação cósmica, sob a soberania de Deus, de uma forma reconhecível. No entanto, eles foram uma minoria. Freqüentemente se pareciam com o rei dinamarquês da Inglaterra, chamado Rei Canuto, há mil anos, que, em vão, proibia a maré de subir. Enquanto isso, as ondas das teologias enfraquecidas continuam a quebrar e a formar redemoinhos, para todos os lados com impacto crescente. Por favor, Deus, mude a maré -talvez já esteja começando a mudar - entretanto, a moda de encolher Deus, há muito vem prevalecendo. Conseqüentemente, a crença na onisciência e soberania divina, a majestade de sua lei moral e o temor dos seus julgamentos, as conseqüências retributiva da vida que levamos aqui e o caráter infindo da eternidade na qual iremos experimentá-las, juntamente com a crença na triunidade intrínseca de Deus e a divindade e retorno pessoal de Jesus Cristo, estão tão corroídas nos nossos dias que, dificilmente, são discerníveis. Para muitos hoje, Deus não passa de uma mancha.
Mas o plano da salvação, que me diz como o meu Criador tornou-se meu Redentor, apresenta, em sua plena glória, a majestade transcendente que as igrejas têm tanto esquecido. Ele me mostra um Deus que é infinitamente grande em sabedoria e poder - que sabia, desde a eternidade, qual seria a triste realidade da queda da raça humana - e que, antes mesmo de criar o cosmos, já tinha desenvolvido, em detalhes, a maneira pela qual salvaria não somente a mim, mas cada um dos muitos bilhões a quem resolveu trazer à salvação. O plano fala de um programa amplo para a história do mundo, que envolve milênios de preparação providencial para a primeira vinda de um Salvador e milhares de anos de evangelismo de âmbito mundial, cuidados pastorais, cristianização da cultura, apresentação do reino de Deus, batalha espiritual contra os inimigos do reino e a edificação da igreja antes da volta do Salvador.
O plano apresenta-me o Pai enviando o Filho para ser o Redentor, e o Espírito para dar vida aos mortos-vivos perdidos e culpados - almas mortas como a mi¬nha, em delitos e pecados, conduzidas pelos conselhos e desejos de um coração corrompido, e, muitas vezes, criando uma cortina de fumaça de formalismo reli¬gioso para impedir que a luz de Deus alcance a minha consciência. O plano abrange não somente (1) as três horas de agonia de Jesus na cruz, suportando, de modo vicarial, o desamparo divino para que pecadores como eu jamais tivessem de suportá-lo; mas também (2) a ressurreição corporal permanentemente transformadora de Jesus e a regeneração permanente do coração de todos os que são salvos - duas demonstrações do poder que fazem o mundo ser completamente inexplicável em termos das forças criadas que nele operam. (Aqui deveria ser o ponto de partida da apologética). Finalmente, o plano penetra no futuro, prometendo a todos um corpo novo e imortal. Além disso, ele promete aos pecadores salvos como eu, a alegria de desfrutar de um novo céu e uma nova terra, uma grande sociedade perfeita, e a presença visível de Jesus por meio desse novo corpo.
Estas são as maravilhas do plano de salvação. O chamado divino para uma vida de santidade começa dizendo que devo mergulhar nestas tremendas e majestosas realidades até que eu me sinta realmente intimidade com a grandeza do meu Deus, que tudo faz acontecer. Deste modo, aprenderei a dar-lhe glória (no sentido de louvor) pela grandeza de sua glória (no sentido de revelar-se a si próprio) como aquele cuja sabedoria e poder revelados, tanto na redenção quanto na criação, ultrapassam, ofuscam e excedem o meu entendimento. O Deus trino do plano de salvação é grande - transcendente e imutável em sua onipotência, onisciência e onipresença. Ele é eternamente fiel, verdadeiro, justo, sábio, austero e bondoso e deve ser louvado e adorado como tal. Este tipo de louvor é o fundamento doxológico da santidade humana, que sempre começa aqui. Assim como Jesus não poderia ter a coroa sem a cruz, também não podemos ter a santidade sem o louvor.
Ninguém há semelhante a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é o poder do teu nome. Quem te não temeria a ti, ó Rei das nações? Pois isto é a ti devido (...) (Jr 10.6,7)
E existem muitos outros textos bíblicos além destes acima. Os Salmos 145-150, por exemplo, poderiam ser citados aqui. No entanto, temos de ir adiante.
O Novo Testamento, periodicamente, também explode em louvor. Eis alguns exemplos:
A minha alma engrandece ao Senhor (declara que ele é grande, exalta-o), e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador (...) porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. (Lc 1.46,47,49)
O profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém. (Rm 11.33,36)
Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém. (lTm 1.17)
Ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém. (Jd 25)
Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (...) Aquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. (Ap 5.12,13)
Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos. (Ap 15.3,4)
Foi um instinto cristão saudável que levou Horatius Bonar, autor do pequeno clássico O Caminho Divino da Santidade, a orar e louvar:
Preenche a minha vida, ó Senhor, meu Deus,
Em todas as partes com louvor, Para que,
com tudo o que sou, eu possa proclamar
O teu ser e os teus caminhos.
Peço-te não somente lábios de louvor,
Nem tampouco um coração engrandecedor,
Mas uma vida Completamente feita de louvor;
Louvor nas coisas simples da vida,
Em suas idas e vindas;
Louvor em cada dever e em cada feito,
Ainda que pequeno e simples.
Preencha cada área do meu ser com louvor:
Permita que todo o meu ser fale
De ti e do teu amor, ó Senhor,
Apesar de pobre e fraco que sou.
Assim, tu deves,
Senhor, de mim, e em mim,
Receber a glória devida;
E assim devo iniciar na terra
Uma canção sempre renovada.
É exatamente isso: a verdadeira consagração a um propósito realístico de vida que se concentra em agradar e glorificar a Deus começa aqui. A verdadeira vida de santidade está enraizada no solo da reverência na adoração. Ela não cresce em outro lugar. Ainda que cresça em qualquer outro lugar, ela não caracteriza a verdadeira santidade. Se faltar o louvor, nenhuma combinação de zelo, paixão, abnegação, disciplina, ortodoxia e esforço acrescenta-se à santidade.