Relutamos em aceitar nossa condição de peregrinos neste mundo. Deus colocou em nossos corações o desejo de uma cidade que tem fundamentos duradouros (Hebreus 11:10). Mas temos uma predisposição pecaminosa para fincar raízes na cidade do mundo, e não na cidade de Deus. Por essa razão, temos a tendência de querer neste mundo a segurança e a liberdade impróprias para os que nele são estrangeiros e estão, por assim dizer, trabalhando com um visto temporário.
Não saber é uma das maiores inquietações da vida. É particularmente angustiante quando, por exemplo, estamos esperando os resultados dos exames médicos ou do tratamento a que nos submetemos. O mesmo espírito inevitavelmente se derramará sobre a nossa experiência cristã geral. Vemos que o fardo da espera sem saber o que virá pesa mais do que podemos agüentar. Às vezes, como resultado disso, ansiosamente procuramos forçar a mão de Deus, no que nos tornamos parecidos com os israelitas, que persistentemente reagiam contra a vida de peregrinos:
"Cedo, porém, se esqueceram das suas obras; não esperaram o seu conselho, Mas deixaram-se levar da cobiça no deserto, e tentaram a Deus na solidão. E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar as suas almas."- Salmo 106:13-15
Muitas vidas cristãs têm sido paralisadas por não saberem lidar com esta causa da impaciência diante de Deus.
Às vezes não queremos inclinar-nos diante das soberanas providências de Deus em nossas vidas. Nossos corações se amargam contra Ele e, conseqüentemente, recusamos esperar por Sua direção. Ficamos decepcionados com Deus.
Às vezes esse espírito é disfarçado ou desviado. Em vez de criticarmos diretamente a Deus pelo modo como Ele age, desviamos essa oposição para outros - nossos amigos, as circunstâncias em que nos achamos, ou os fracassos e pecados da igreja a que pertencemos. Mas, o tempo todo, rói nossa alma o amargor contra o que Deus fez.
Havia um pouco disso na reação de Jó contra Deus. Com muita razão ele afirmava que não estava sofrendo por haver cometido algum pecado (os capítulos iniciais do livro revelam que, na verdade, ele estava sofrendo devido à retidão da sua vida; ao invés de estar sendo castigado por Deus, era satanás que o exigia para si, para joeirá-lo como trigo). Entretanto essa experiência amarga revelou alguma corrupção que ainda permanecia em seu coração. Ele se pôs a contender com o Todo-poderoso (Jó 40:2). Pela graça,de Deus, Jó aprendeu a pôr a mão na boca (Jó 40:4), e a confessar:
"Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser impedido. Por isso falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza." - Jó 42:2-6
Acaso você precisa conhecer mais deste espírito, enquanto espera em Deus? Há de sua parte uma indisposição para aceitar a vontade de Deus? Será por isso que você não está descobrindo que o Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve? Será por isso que você sabe tão pouco o que significa "achar descanso" no Senhor?
Precisamos aprender a respirar o espírito do Salmo 123:
"Para ti, que habitas nos céus, levanto os meus olhos. Eis que como os olhos dos servos atentam para as mãos dos seus senhores, e os olhos da serva para as mãos de sua senhora, assim os nossos olhos atentam para o Senhor nosso Deus, até que tenha piedade de nós".
Falta-nos fé na bondade de Deus. Há embutida em todo pecador uma desconfiança de Deus. Os capítulos iniciais da Bíblia descrevem como essa desconfiança foi incutida em nossos primeiros pais pelo tentador. Esse enganou e seduziu as mentes dos filhos de Deus; torceu-lhes a idéia que tinham de Deus e lançou em suas mentes dúvidas acerca da Sua bondade. "E assim que Deus disse: "Não comereis de toda a árvore do jardim?" A proibição daquela única árvore, insinuou satanás, é a proibição de toda alegria, de toda liberdade. "Se vocês querem ser livres - como Deus é livre - devem comer dessa árvore".
A origem de toda impaciência pode ser encontrada na falta de crença na bondade fundamental de Deus. É por isso que, se havemos de apreciar a sabia direção de Deus, é-nos importante entender, não somente a natureza da Sua orientação, como também o caráter do Guia. Confiemos nEle por Sua bondade, e confiaremos nEle por Sua direção!
Você duvida da bondade de Deus? Haverá, oculta em toda a sua busca dele, uma suspeita de que Ele não é aquilo que revelou ser no Senhor Jesus Cristo? Firme-se nas palavras de Paulo:
"Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?"- Romanos 8:32
Somos influenciados com demasiada facilidade pelas atitudes da época em que vivemos. O clamor atual é pelo imediato, não pelo longo prazo e pelo duradouro. Nem a Igreja escapa disso. O cristianismo evangélico, com toda a profissão que faz da sua fé num Deus eterno e numa esperança futura, tem mostrado muitos sintomas desoladores de uma paixão míope e mentalmente estreita pelo imediato.
Precisamos dar ouvidos às contundentes palavras de A. W. Tozer. Escrevendo sobre o tema, "A Incompetência do Cristianismo Imediato", disse ele:
"O cristianismo imediato tende a fazer da fé o ato terminal e, assim, abafa o desejo de progresso espiritual. Não entende a verdadeira natureza da vida cristã, que não é estática porém dinâmica e evolutiva. Negligencia o fato de que um cristão recém-convertido é um organismo vivo, tão certamente como o é um bebê recém-nascido, e deve receber nutrição e fazer exercício para garantir crescimento normal. Não considera que o ato de fé em Cristo estabelece uma relação pessoal entre dois seres morais inteligentes, Deus e o homem reconciliado, e um único encontro entre Deus e uma criatura feita à Sua imagem jamais poderia ser suficiente para estabelecer uma comunhão íntima entre eles. Tentando condensar a salvação toda numa ou duas experiências somente, os advogados do cristianismo imediato alardeiam a lei de desenvolvimento que impregna a natureza toda. Eles ignoram os efeitos santificantes do sofrimento, do levar a cruz e da obediência prática. Deixam de lado a necessidade de treinamento espiritual, a necessidade da formação de hábitos religiosos corretos e de lutar contra o mundo, o diabo e a carne ...
O cristianismo imediato é a ortodoxia do século vinte. Pergunto se o homem que escreveu Filipenses 3:7-16 reconheceria nele a fé pela qual ele finalmente morreu. Receio que não."
Deus não tem pressa. E um artífice paciente enquanto modela vidas à imagem do Seu Filho. Ele tem disposição para esperar. Ele sabe que há toda uma eternidade para o desfrute do artigo pronto. Do mesmo modo, eu e você devemos evitar os métodos imediatistas, procurando conhecer a vontade de Deus a longo prazo.
Deus não ignora as nossas dificuldades e ansiedades. Ele nos compreende perfeitamente, bem como as nossas fraquezas. Ainda mais, está disposto a nos auxiliar. Seria um erro total, pois, se só olhássemos para as dificuldades que temos que superar, sem considerar também os numerosos estímulos que Deus nos dá para esperarmos por Ele.