Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus... (Romanos 2.5)
O que Deus planejou para bem do homem - coisas como o testemunho da criação e o testemunho da consciência - só serve para afundar mais esses rebeldes em sua rebelião.
Isso nos remete novamente a 1.16-18. O evangelho é "o poder de Deus para a salvação" (1.16). Por que precisamos de salvação? Porque estamos sob a "ira de Deus" (1.18), e os que desprezam ou se aproveitam da paciência de Deus não estão fazendo mais do que "acumular" mais de sua ira (2.5). Cristo fala de "acumular tesouros nos céus" (Mt 6.19-20). Quem despreza a paciência de Deus também está acumulando algo para si - não riquezas, mas a ira de Deus. Tanto o que crê quanto o incrédulo precisam dar-se conta de que tudo o que fazem tem conseqüências eternas.
Nossas vidas não se limitam ao período entre o nascimento físico e a morte física. Tudo o que dizemos ou fazemos representa um investimento - para o bem ou para a perdição - no banco da eternidade. Uma jovem pode até imaginar todo o seu futuro limitado ao dia do seu casamento, sem que seja capaz de enxergar nada além deste grande evento. Mas, se ela se conscientizar do quanto o seu caráter afetará o seu casamento, então isso mudará totalmente o modo como viverá sua adolescência. Tanto crentes quanto descrentes precisam conscientizar-se mais das conseqüências sobrenaturais e eternas das suas ações. A vida não se encerra com a morte. Ou estamos "acumulando" bons tesouros no céu, ou estamos "acumulando" o terrível tesouro da ira de Deus.
... que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento. (2.6)
Ninguém está falando aqui de alguma salvação por obras. O que Paulo está dizendo é que seremos julgados, não com base no que nós dizemos que acreditamos, mas a partir de nossas ações humanas. Estamos lidando com um Deus que está aí de fato. Nenhuma profissãozinha de fé, por mais bela que seja, contará diante dele. O que importa é o que realmente queremos dizer e que atitude de fato tomamos. Estamos lidando com o Deus que realmente está aí e que responde àquilo em que acreditamos verdadeiramente.
Dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos que desobedecem à verdade, e obedecem à injustiça... (2.7-8)
Eis aí a palavra "ira" outra vez. É a ira de Deus contra pessoas que invariavelmente têm uma consciência, que vêem a criação, que são seres racionais, que compreendem os princípios morais, e que, ainda assim, continuam incrédulas e desobedientes à verdade. Como cristãos, devemos estar profundamente preocupados com o fato de o mundo perdido estar sob a ira do Deus sagrado. Não devemos ser capazes de pensar sobre isto sem ter algum tipo de reação emocional. Precisamos sempre manter algo em mente: as pessoas estão perdidas. Quando encaramos o fato de que o mundo perdido está sob a ira de Deus como um conceito meramente intelectual, mantendo-nos emocionalmente distantes, já estaremos a meio caminho de uma ortodoxia morta. Estas pessoas são meus companheiros de humanidade, e elas estão sob a ira de Deus.
Tente por um só momento imaginar-se no lugar de um incrédulo, ouvindo falar de tudo isto pela primeira vez. Imagine que o Espírito Santo o estivesse tocando profundamente e, de repente, você se desse conta de que está sob a ira de Deus. Imagine como você estaria louco para ver se Deus tomaria alguma providência em relação ao seu caso. E a grande mensagem de Paulo é que Deus já tomou uma providência quanto ao caso. Ele já havia tocado nesse assunto anteriormente, em 1.16: a humanidade está sob a ira de Deus, mas existe salvação desta ira. Ficaremos sabendo mais acerca desta salvação a partir de 3.21.
Todos nós precisamos perceber que estamos sob a ira de Deus. Todos nós precisamos ansiar por descobrir se há alguma resposta para a nossa situação desesperadora. E não devemos esquecer jamais a maravilha que é aprender que existe uma resposta. Certa vez alguém perguntou a um velho evangelista americano: "Por que você é tão eufórico na sua pregação" E ele disse: "Bem, Deus o abençoe. Meu filho, eu nunca me esqueço da maravilha que isto tudo é". Que Deus tenha misericórdia de nós e nos livre de acabar com uma fé fria, ortodoxa, esquecendo-nos da maravilha que isto tudo é. Nunca se esqueça da maravilha de quando você pessoalmente ouviu falar de Cristo e creu nele.
Ao mesmo tempo, porém, não se esqueça de que a raça humana está perdida. Mesmo quando estiver sentindo a maravilha que é a sua própria salvação, nunca se esqueça de que, à semelhança de Paulo, você é um "devedor" em relação àqueles que ainda estão perdidos (1.14). Que Deus continue tocando os nossos corações, à medida que Paulo prossegue descrevendo a situação desesperadora em que eles se encontram.
Tributação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, do judeu primeiro, e também do grego; glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem; ao judeu primeiro, e também ao grego. Porque para com Deus não há acepção de pessoas. (2.9-11)
Deus não faz distinção entre judeus e gentios, entre bárbaros e gregos. Todas as pessoas, sem distinção, terão que se levantar e comparecer na presença de Deus.
Assim, pois, todos os que pecaram sem lei, também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram, mediante lei serão julgados. (2.12)
Todas as pessoas são consideradas condenáveis diante de Deus,, com base no que realmente sabem. A pessoa sem a Bíblia está condenada com base no julgamento que faz dos outros. Como vimos em 2.1, o ser humano conheceu e falou sobre os padrões morais, mas então falhou em viver, ele mesmo, de acordo com estes princípios.
A pessoa com a Bíblia, por outro lado, é condenável com base na Bíblia que possui. Ela "será julgada mediante a lei" e seus padrões morais.
Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. (2.13)
Que benefício alguém poderia ter em possuir uma Bíblia, se não acredita nela? Quando eu era pastor e visitava as pessoas em suas casas, costumava ler a Bíblia antes de ir embora, e perguntava: "Vocês têm uma Bíblia?" Freqüentemente eles respondiam.- "Sim, nós temos uma Bíblia" e iam procurá-la. Vasculhavam todas as estantes, todos os cantos em busca dela. Se ela fosse uma cobra, certamente os teria mordido! Sim, eles possuíam uma Bíblia - para escrever os nomes de seus filhos e amassar flores. Mas para que se incomodar? Se eles mal liam a Bíblia, poderiam muito bem escrever os nomes de seus filhos em outro livro qualquer! Não há nenhum poder mágico na mera posse de uma Bíblia, se você não acredita nem a obedece.