a. A providência divina é predeterminada,
mesmo que para nós pareça casualidade.
Uma segunda proposição
é que essas providências, que para nós são eventuais e acidentais, são
predeterminadas pelo Senhor. A queda de uma telha sobre a cabeça de alguém e o
surgimento de um incêndio, o que nos parecem casuais, são, na verdade,
ordenados pela providência de Deus. Tem-se um claro exemplo disso em 1 Reis
22.34: "Então, um homem entesou o arco e, atirando ao acaso, feriu o rei
de Israel por entre as juntas da sua armadura". Esse acidente foi casual
para o homem que entesou o arco, mas era divinamente ordenado pela providência
de Deus. A providência de Deus dirigiu a flecha para que atingisse o alvo. As
coisas que parecem acidentais, ou por acaso, são os canais dos decretos de Deus
e a interpretação da sua vontade.
b. A providência divina deve ser considerada,
mas não deve se tornar uma regra para nossas ações
Devemos considerar a
providência de Deus em todos os aspectos de nossa vida, mas não devemos agir
como que esperando apenas por ela. "Quem é sábio atente para essas
cousas" (SI 107.43). É bom observar a providência, mas não devemos fazer
dela nossa regra de vida. A providência é um diário do cristão, mas não sua
Bíblia. As vezes, um motivo ruim predomina e se estabelece, porém, não deve ser
apreciado por predominar. Não devemos pensar o melhor de algo que é pecado,
simplesmente porque é bem-sucedido. Tais fatos não devem se tornar regra para o
direcionamento de nossas ações.
c. A providência divina é irresistível, nada
há que impeça sua realização.
Não há no caminho da
providência de Deus nada que a embarace. Quando chegou o tempo da soltura de
José, a prisão não mais pôde detê-lo. "O rei mandou soltá-lo" (SI
105.20). Quando Deus satisfez os judeus com liberdade de religião, Ciro, pela
providência, baixou uma proclamação encorajando-os a irem a Jerusalém para
construir o templo e adorar a Deus (Ed 1.2,3). Se Deus pretendia defender e
proteger a pessoa de Jeremias no cativeiro, o próprio rei da Babilónia iria
alimentar o profeta e dar ordens para que nada lhe faltasse (Jr 39.11,12).
d. A providência divina é plena de confiança,
mesmo quando todas as circunstâncias parecem contrárias.
Deve-se confiar em Deus
quando suas providências parecem contrárias às suas promessas. Deus prometeu
dar a coroa a Davi, fazê-lo rei. Porém, a providência caminhava em direção
contrária a essa promessa. Davi foi perseguido por Saul e ficou em perigo de
morte, porém era dever de Davi confiar em Deus. Por favor, note que o Senhor,
por intermédio das providências da cruz, sempre cumpre sua promessa. Deus
prometeu a Paulo a vida de todos aqueles que estavam com ele no navio; mas, a
providência de Deus parecia contrária a essa promessa, pois os ventos sopravam
e o navio rachou e partiu-se em pedaços. E foi assim que o Senhor cumpriu sua
promessa: boiando sobre os pedaços do navio, eles chegaram a salvo na praia.
Confie em Deus quando as providências parecem contrárias às promessas.
e. As providências de Deus são um conjunto
de vicissitudes, são entrelaçadas
Na vida futura não
haverá misturas: no inferno só haverá amargura, no céu, somente doçura. Porém,
nesta vida, as providências de Deus são misturadas, há nelas tanto algo doce
como algo amargo. As providências são como a coluna de nuvem de Israel, que
conduzia o povo em sua marcha, que era escura de um lado e tinha luz do outro.
Na arca estavam a vara e o maná, assim são as providências de Deus para seus
filhos: há algo da vara e algo do maná. Dessa maneira, podemos falar, como
Davi: "Cantarei a bondade e a justiça" (SI 101.1). Quando José estava
na prisão, estava do lado escuro da nuvem; mas Deus estava com José, era o lado
luminoso da nuvem. Os sapatos de Aser eram de bronze, mas seus pés eram
banhados em azeite (Dt 33.24). Portanto, a aflição é o sapato de bronze que
aperta, mas há graça misturada à aflição, por isso os pés estão banhados em
azeite.
A mesma ação, se vier
da providência de Deus, pode ser boa; mas se vier dos homens pode ser pecado Por
exemplo, José vendido ao Egito por seus irmãos foi pecado, muito perverso, foi
o fruto da inveja deles. Porém, como ato da providência de Deus foi bom porque,
por causa disso, Jacó e toda a sua família foram preservados no Egito. Outro
exemplo é a maldição de Simei sobre Davi. Simei amaldiçoou Davi, e isso foi
perverso e pecaminoso, pois foi consequência de sua malícia. Porém, como sua
maldição foi ordenada pela providência de Deus, foi um ato da justiça do Senhor
para punir Davi e humilhá-lo por seu adultério e assassinato. A crucificação,
como vinda dos judeus, foi um ato de ódio e de maldade contra Cristo. A traição
de Judas foi um ato de cobiça. Porém, como cada um desses acontecimentos foi,
também, um ato da providência de Cristo, então havia bondade neles. A morte de
Cristo foi um ato do amor de Deus pelo mundo.