Filhinhos, não vos
deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como
ele [Cristo] é justo.
1
João 3.7
Antinomianismo, que
significa ser "antilei", é um nome aplicável a diversas opiniões que
têm negado que a lei de Deus na Escritura deve controlar diretamente a vida do
cristão.
O antinomianismo dualístico
aparece nos gnósticos heréticos, contra os quais Judas e Pedro escreveram (Jd
4-19; 2 Pe 2). Esta corrente considera que a salvação é somente da alma, e o
comportamento do corpo é irrelevante, seja no interesse de Deus ou da saúde da
alma, de modo que podemos agir dissolutamente sem qualquer implicação negativa.
O antinomianismo
centrado no Espírito coloca tal confian¬ça na ação inspiradora do Espírito
Santo a ponto de rejeitar qualquer necessidade de ensino da lei sobre como
viver. A libertação da lei como meio de salvação é admitida para trazer consigo
a libertação da lei como guia de conduta. Nos primeiros 150 anos da Reforma,
esta espécie de antinomianismo ameaçava frequentemente, e a insistência de
Paulo de que uma pessoa verdadeiramente espiritual reconhece a autori¬dade da
Palavra de Deus por meio dos apóstolos de Cristo (1 Co 14.37; cf. 7.40) sugere
que a igreja de Corinto obcecada pelo Espírito estava sob domínio da mesma
obstinação.
O antinomianismo
centrado em Cristo argumenta que Deus não vê pecado nos crentes, porque eles
estão em Cristo, que cumpriu a lei por eles, e, portanto, o que eles fazem realmente
não faz nenhuma diferença, contanto que continuem crendo. Mas 1 João 1.8-2.1
(explanando 1.7) e 3.4-10 apontam para uma direção diferente, mostrando que não
é possível estar em Cristo e, ao mesmo tempo, admitir o pecado como um meio de
vida.
O antinomianismo
dispensacional sustenta que não é neces¬sário em nível algum que os crentes
guardem a lei moral, considerando que já vivemos sob a dispensação da graça,
não da lei. Mas Romanos 3.31 e 1 Coríntios 6.9-11, mostram claramente que a
observância da lei é uma obrigação contínua dos cristãos. "Não [estou] sem
lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo", diz Paulo (1 Co 9.21).
O antinomianismo
dialético, como em Barth e Brunner, nega que a lei bíblica seja mandamento direto
de Deus e afirma que as declarações imperativas da Bíblia ensejam a Palavra do
Espírito, a qual, quando vem, pode ou não corresponder exatamente ao que está
escrito. E evidente aqui a inadequabilidade da visão neo-ortodoxa da autoridade
bíblica, que explica a inspiração da Escritura em termos da instrumentalidade
da Bíblia como canal para os pronunciamentos de Deus a seu povo na atualidade.
O antinomianismo
situacionista diz que um motivo e intenção do amor é tudo o que Deus requer
agora dos cristãos, e os mandamentos do Decálogo e outras partes éticas da
Escritura, por mais que sejam atribuídas diretamente a Deus, são meras regras e
métodos de amar, regras que o amor pode a qualquer momento rejeitar. Porém
Romanos 13.8-10, texto ao qual esta visão recorre, ensina que, sem o amor como
motivo, estes mandamentos específicos não podem ser cumpridos. Vem à tona, mais
uma vez, uma visão inaceitavelmente fraca da Escritura.
Deve ser ressaltado que
a lei moral, cristalizada no Decálogo e reiterada no ensino ético de ambos
Testamentos, é uma lei coerente, dada para ser um código de prática para o povo
de Deus em todas as épocas. Além disto, o arrependimento significa a decisão
de, doravante, buscar a ajuda de Deus ao guardar essa lei. O Espírito é dado
para capacitar a obediência à lei e tornar-nos cada vez mais semelhantes a
Cristo, o arquétipo cumpridor da lei (Mt 5.17). Esta observância da lei é, de
fato, o cumprimento de nossa natureza humana, e a Escritura não oferece nenhuma
esperança de salvação para qualquer um que, seja qual for sua profissão de fé,
não procura mudar do pecado para a justiça (1 Co 6.9-11; Ap 21.8).