Deus fez este mundo
cheio de beleza e de glória, tudo muito bom? Então, que coisa nociva é o
pecado, que colocou em desordem toda a criação. O pecado eclipsou a beleza,
deixou amarga a doçura e arrumou a harmonia do mundo. Como esse fel é amargo,
pois uma gota pôde tornar amargo um mar inteiro. O pecado trouxe tormento e
tornou vão o mundo, sim, uma maldição. Deus amaldiçoou a terra por causa do
homem (Gn 3). Houve muitos frutos da maldição, veja alguns:
i. A fadiga no
sustento. "Em fadigas obterás dela [da terra] o sustento" (v. 17).
"Em fadigas" deve ser entendido em todos os problemas e cuidados
desta vida.
ii. A pena no trabalho.
"No suor do rosto comerás o teu pão" (v. 19). Na inocência, Adão
cultivava a terra, pois não devia viver ociosamente; porém, era mais um prazer
que um trabalho. Esse arado era sem labuta. O sustento com fadiga e o suor da
fronte vieram após o pecado.
iii. A desordem na
natureza. "Ela [a terra] produzirá também cardos e abrolhos" (v. 18).
Durante o período da inocência a terra produzia cardos, qual motivo de após a
queda serem considerados uma punição? É provável que a terra produzisse cardos,
porque quando Deus terminou a criação não produziu outras espécies ou outros
tipos de coisa. Porém, o significado é que, agora, depois do pecado, a terra
produziria cardos de maneira mais abundante e, também, que eles seriam danosos
e sufocariam o trigo, pois a qualidade de serem nocivos não estava neles antes.
Desde a queda, todos os confortos desta vida têm um espinho e um cardo neles.
iv. A expulsão do
paraíso. O quarto fruto da maldição foi a expulsão do homem do paraíso.
"E, expulso o homem..." (v. 24). No princípio, Deus colocou o homem
no paraíso como numa casa recém-decorada, como um rei em seu palácio.
"Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal
que rasteja pela terra" (Gn 1.28). O fato de Deus expulsar Adão do paraíso
significou seu destronamento e o seu banimento significou que ele devia
procurar um paraíso celestial e ainda melhor.
v. A maldição da morte.
Um quinto fruto da maldição foi a morte. "Ao pó tornarás" (v. 19). A
morte não era natural para Adão, mas veio após o pecado. Josefo61 é de opinião
que o homem devia morrer, embora devesse ter um longo período de anos
acrescentado à sua vida; porém, é inquestionável que a morte cresceu da raiz do
pecado, como diz o apóstolo: "e pelo pecado, a morte" (Rm 5.12).
Portanto, veja que
coisa amaldiçoada é o pecado, que trouxe tantas maldições sobre a criação. Se
não odiarmos o pecado por sua deformidade, então odiemo-lo por causa das
maldições que traz.
Deus fez este mundo
glorioso? Ele fez tudo bom? Havia na criatura tanta beleza e doçura? Então,
quanta doçura há em Deus? "A causa é sempre mais nobre que o efeito."
Pense por si só: há muita excelência em casa e em propriedades? Então, quanto
mais há em Deus, que as fez. Há beleza numa rosa? Quanta beleza, então, há em
Cristo, a Rosa de Sarom. O azeite dá brilho ao rosto? (SI 104.15) Como, então,
não deve brilhar o semblante de Deus. O vinho alegra o coração? Quanta virtude
há no verdadeiro vinho. O fruto do jardim é doce? Como são deliciosos os frutos
do Espírito. Uma mina de ouro é preciosa? Quão precioso é aquele que fundou a
mina. Quão precioso é Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros? (Cl
2.3). Deveríamos ascender da criatura para o Criador. Se há algum conforto aqui
neste mundo, quanto mais há em Deus, que fez todas essas coisas. Como é
irracional que tenhamos mais prazer no mundo que naquele que o fez. Os nossos
corações deveriam estar assentados em Deus e deveríamos estar com ele, em quem
há infinitamente mais doçura que em qualquer outra criatura!