B.
B. Warfield (1851 – 1921) explica as raízes
teológicas comuns de todo o perfeccionimo moderno:
“Foi John
Wesley (1703 - 1791) que
infectou o moderno mundo protestante com esse conceito de "santificação instantânea total". Ao dizer isso, não
estamos fazendo uma acusação ferrenha contra ele. Não há elementos em seus
ensinos que lhe traga maior satisfação que este. Não há elementos dentre os
quais seja mais louvado por seus seguidores, ou mais se felicitem por o
possuírem...
Quando ondas após ondas
do "movimento Holiness"
despencaram sobre nós no século passado, sem dúvida cada uma trouxe algo
particular de si mesmas. Mas uma qualidade comum e fundamental instruiu a
todas; e essa qualidade lhes foi comunicada pela doutrina wesleiana. Os
elementos essenciais dessa doutrina se repetem em todos esses movimentos e
formam seus aspectos característicos. Em todos eles, a justificação e a
santificação são divididas uma da outra, como se fossem dois presentes
separados de Deus.
Em todos eles, da mesma
maneira, a santificação é representada como sendo obtida, exatamente como a
justificação, por um simples ato de fé, mas não pelo mesmo ato de fé pelo qual
a justificação é obtida, mas por um novo e separado ato de fé, exercitado para
este específico propósito. Em todos eles, a santificação que vem neste
[segundo] ato de fé, vem imediatamente pela fé, e de uma vez, e em todos eles como
esta santificação, assim recebida, é santificação completa.
Em todos eles portanto,
é acrescentado, que esta santificação completa não traz libertação de todo
pecado, mas somente, digamos, libertação de pecar; ou apenas libertação de
pecar conscientemente; ou da comissão de "pecados conhecidos". E em
todos eles, essa santificação não é uma condição estável, na qual, pela fé,
entramos de uma vez por todas, mas uma obtenção momentânea, que deve ser mantida
momento a momento, e que prontamente pode ser perdida e frequentemente o é, mas
pode também ser repetidamente e recuperada instantaneamente”.
O erro que Warfield descreve — essa tendência a fazer uma
separação radical entre santificação e justificação — é o erro-chave do
perfeccionismo. Virtualmente todos os perfeccionistas tratam a santificação
como se ela fosse um segunda experiência de conversão. Sob esse esquema, a
santidade deve ser obtida por um ato separado de fé que acontece algum tempo
depois da salvação inicial — uma "segunda benção", como é frequentemente
chamada.
Biblicamente, como
veremos, a santificação começa imediatamente na justificação e continua sua
obra — apesar das nossas falhas freqüentes — até
o fim da nossa vida. Em meu livro Faith Works [A Fé Funciona], examino essa
questão de uma perspectiva completamente diferente. Nesse livro estava
respondendo ao erro daqueles que dizem que a santificação é opcional. Aqui,
portanto, meu propósito é examinar como o processo de santificação se
desenvolve na vida dos crentes enquanto eles travam a batalha — que dura a vida toda — contra o pecado
em sua própria carne. É interessante notar como as questões são virtualmente
idênticas. Isso é porque a chave para examinar uma doutrina na questão da
santificação é um correto entendimento da íntima relação entre santificação e
justificação.
Contrário aos
perfeccionistas, contrário aos professores da assim chamada "vida mais
profunda", e contrário aos conceitos predominantes de que significa ser
cheio do Espírito, santificação não é algo que começa com uma experiência de
crise algum tempo depois da conversão. A santificação começa no exato momento
da justificação e continua por toda a vida do cristão na terra. Como o Dr.
Warfield sugeriu na citação acima, a santificação é obtida no pelo mesmíssimo
ato de fé pelo qual recebemos a justificação. Jesus Cristo se torna para todo
aquele que crê "sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção"
(ICo 1.30, ênfase acrescentada). Se a santificação não acontece no momento da
salvação, não poderia ser dito a todos os que crêem " vós vos lavastes,...
fostes santificados,... fostes justificados" (ICo 6.11).
Essa doutrina não é
somente para cristãos maduros. Nada é mais prático na vida cristã do que uma
correta compreensão de como o Espírito Santo trabalha para nos moldar à imagem
de Cristo. De modo inverso, é difícil imaginar alguma coisa que debilite mais
desastrosamente a vida saudável do cristão do que uma interpretação errada da
santificação.
John
MacArthur Jr.