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    Nossa Depravação - Thomas Watson (1620-1686)




    "Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm5.12).

    Adão era um representante: enquanto ele estivesse em pé, nós estaríamos; se ele caísse, nós cairíamos. Nós pecamos em Adão, assim está no texto: "... porque todos pecaram".

    Adão era o cabeça da humanidade e, uma vez culpado, nós somos culpados. Como os filhos de um traidor têm o sangue manchado. Agostinho diz: "Todos nós pecamos em Adão, pois somos parte de Adão".

    Pode-se levantar a seguinte pergunta: Se quando Adão caiu, toda a humanidade caiu com ele, por que quando um anjo caiu, nem todos caíram?

    O caso não é o mesmo. Os anjos não tinham relação uns com os outros. São chamados de estrelas da manhã: as estrelas não dependem umas das outras. Conosco, entretanto, foi diferente: éramos da carne de Adão, como um filho é parte do pai, éramos parte de Adão. Portanto, quando ele pecou, nós pecamos.

    Ou então perguntamos: Como o pecado de Adão se torna nosso pecado? Respondemos com as seguintes afirmações:

    a.       O pecado de Adão é nosso por imputação


    Os pelagianos do passado sustentavam que a transgressão de Adão é danosa para a posteridade somente por imitação, não por imputação. Porém, o texto "em quem todos pecaram" refuta essa idéia.

    b.      O pecado de Adão é nosso por propagação

    Não somente a culpa do pecado de Adão nos é imputada, mas, também, a depravação e a corrupção de sua natureza nos são transmitidas, como um veneno é levado da fonte à cisterna. Isso é o que chamamos de pecado original. "Em pecado me concebeu minha mãe" (SI 51.5). A lepra de Adão se apega a nós como a lepra de Naamã se apegou em Geazi (2Rs 5.27). Essa concupiscência original é chamada de:

    i. O "velho homem" (Ef 4.22). Diz-se velho homem não por ser fraco, como geralmente são os idosos, mas por causa de sua longa permanência e por sua deformidade. Na idade avançada, a beleza se perde. Da mesma maneira, o pecado original é o velho homem, pois ele fez murchar a nossa beleza e nos faz deformados aos olhos de Deus.

    ii. A "lei do pecado" (Rm 7.25). O pecado original tem o poder da lei que vincula a vítima à sujeição. A necessidade dos homens faz o que o pecado quer quando os homens têm ambos, o amor do pecado para atraí-los e a lei do pecado para forçá-los, assim precisam, necessariamente, fazer o que o pecado lhes reserva.

    1. No pecado original há algo exclusivo e algo absoluto
    a.       Algo exclusivo

    A falta de justiça que deveria ser nossa. Perdemos aquela excelente e aprimorada estrutura da alma que um dia tivemos. O pecado eliminou a estabilidade da pureza original, sobre a qual repousava a nossa força.

    b.      Algo absoluto

    O pecado original contaminou e corrompeu nossa natureza virginal. O envenenamento dos mananciais causou morte entre os romanos, o pecado original envenenou o manancial de nossa natureza, tornou beleza em lepra, transformou o brilho límpido de nossa alma em escuridão.

    O pecado original se tornou co-natural para nós. O homem natural não pode fazer outra coisa senão pecar. Embora não tenha sido dado a ele esse direito ou maus exemplos para serem imitados, ainda assim há no homem um princípio inato e não pode se abster de pecar (2Pe 2.14). Aquele que não pode parar de pecar é como um cavalo coxo que não pode trotar sem mancar. No pecado original há:

    i. Uma aversão ao bem. O homem tem o desejo de ser feliz, ainda que se oponha ao que promoveria sua felicidade. Ele tem repugnância à santidade, odeia ser corrigido. Desde que caímos da presença de Deus, não temos nos preocupado em voltar para ele.


    ii. Uma inclinação para o mal. Se, como dizem os seguidores de Pelágio,68 há tanta bondade em nós desde a queda, por que não há tanta propensão para o bem como há para o mal? Nossa experiência demonstra que a inclinação natural da alma é para o que é mau. O próprio ímpio, à luz da natureza, percebeu isso. Hierocles, o filósofo, disse: "pecar é algo que foi enxertado em nós pela natureza". Os homens brincam com o pecado como brincam com o mel na boca. Eles bebem "a iniquidade como água" (Jó 15.16). Como um hidrópico, que tem sede e nunca se satisfaz, eles têm em si uma espécie de seca que os faz sedentos pelo pecado.

    Ainda que estejam cansados de pecar, continuam pecando: "... se entregaram... para cometerem toda sorte de impureza" (Ef 4.19). Como o homem que continua seu jogo, mesmo estando cansado, tem prazer nele e não pode deixá-lo (Jr 9.5). Embora Deus tenha colocado tantas espadas flamejantes no caminho para deter os homens em seu pecado, eles permanecem nele, demonstrando que grande apetite eles têm pelo fruto proibido.