01. O pecado original
perverteu o intelecto. Como na criação, "havia trevas sobre a face do
abismo" (Gn 1.2), o mesmo sucede com o entendimento: a escuridão está
sobre a face desse abismo. Assim como há sal em cada gota d'água do oceano,
amargor em cada galho do absinto, assim há pecado em toda faculdade humana. A
mente está escurecida, por isso sabemos pouco de Deus. Desde que Adão comeu da
árvore do conhecimento e seus olhos foram abertos, perdemos nossa faculdade de
ver.
Além da ignorância da
mente, há erro e engano; não fazemos um julgamento honesto das coisas, trocamos
o amargo pelo doce, e vice-versa (Is 5.20). Mais ainda, há muito orgulho,
arrogância e preconceito, além de muito raciocínio carnal: "Até quando hospedarás
contigo os teus maus pensamentos?" (Jr 4.14).
02. O pecado original
corrompeu o coração. O coração é extremamente perverso (Jr 17.9). É um pequeno
inferno. No coração há legiões de concupiscências, de obstinação, de
infidelidade, de hipocrisia e de comoções pecaminosas que, à semelhança do mar,
agitam-se com ira e com vingança: "o coração dos homens está cheio de
maldade, nele há desvarios enquanto vivem" (Ec 9.3). O coração é a oficina
do diabo, em que toda a maldade é planejada.
03. O pecado original
corrompeu a vontade. A desobediência é o trono da rebelião. O pecador contraria
a vontade de Deus para cumprir a sua própria. "Queimaremos incenso à
Rainha dos Céus" (Jr 44.17). Há, na vontade, uma inimizade enraizada
contra a santidade; é como um tendão de aço que recusa se dobrar diante de
Deus. Onde está, então, a liberdade da vontade, pois está cheia não somente de
indisposição, mas de oposição ao que é espiritual?
04. O pecado original
corrompeu os afetos. Estes, como as cordas de uma harpa, estão desafinados.
Eles são as pequenas engrenagens, levadas com força pela vontade, a engrenagem
principal. Nossos afetos se estabelecem sobre alicerces errados. Nosso amor
está alicerçado sobre o pecado, nossa alegria sobre a criatura. Nossos afetos
são tão naturais como o apetite de um homem doente, que deseja coisas que lhe
são prejudiciais e nocivas; febril, ele pede vinho. Temos luxúria em lugar de
santos anseios.
Thomas Watson (1620-1686)
Thomas Watson (1620-1686)