Devemos começar a
responder isso com outra pergunta: Por que insistimos com uma pergunta para a
qual já temos resposta?
Sabemos que ser
cristão, estar em Cristo, ser regenerado... não significa de forma alguma que
não haverá dor, perda, sofrimentos... Na verdade, Deus promete que teremos
aflições: “Tenho-vos dito isto, para que
em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o
mundo.” - João 16:33 – “Confirmando os ânimos dos discípulos,
exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa
entrar no reino de Deus.” - Atos
14:22 – Decepções, problemas familiares, acidentes, câncer, perda de um
bebê... o ponto é que tudo isso causa muita dor... Mas por quê?
Paz e tribulação (João 16.33) - Deus uniu essas duas
coisas de maneira maravilhosa, elas estão estreitamente ligadas neste mundo. “No
mundo tereis aflições” – Deus conhece perfeitamente nossos corações. Ele
conhece que ainda há uma estreita afinidade entre nossa natureza e um mundo
tentador e sedutor a nossa volta. Que você carrega um pequeno mundo em teu
próprio peito. Então ele declara – “no mundo tereis aflições” ao mesmo tempo em
que diz que “Nele teremos paz” – uma promessa dupla que muitos gostariam de
separar. Mas isso jamais devia ser assim, como a paz se mostraria poderosa se
no mundo não tivéssemos aflições? Mas temos que admitir a tendência natural de
nossa carne covarde encolher diante da tribulação. Só o pensamento muitas vezes
nos faz tremer. Mas Deus uniu as duas coisas, paz nEle e tribulação no mundo
que de tal forma nunca podem ser separadas.
Como é necessário para
nós que estas duas coisas estejam ligadas neste mundo, pois como estreitamente
ligado ao mundo nosso coração muitas vezes está. Ligado as coisas do sentido e
do tempo. A propensão de minuto a minuto seguir após os ídolos, para entorpecer
nossa mente, focados em interesses insignificantes que nos rodeiam e assim
abandonarmos o manancial de água vivas por cisternas rotas. Quão difícil tem
sido ser convencido que o mundo não é nossa casa ou habitação permanente.
Vivemos num mundo caído onde em Cristo temos paz, mas no mundo, tribulações.
Mas em sua infinita
misericórdia e graça faz uso da tribulação em diversas formas e tamanhos
diferentes para nos desmamar do mundo para não sermos nem condenados com ele,
nem fazer dele nosso descanso e repouso. E ele faz isso nos dando paz em Cristo
e tribulações no mundo.
No mundo há infinitos
caminhos para a tribulação e sofrimento. Nossa conexão com ele certamente
implica em tribulação. Se temos negócios neste mundo, isto implica certamente
as tribulações inerentes a ele. Perspectivas arruinadas, esperanças
frustradas... tudo isso tão intimamente ligada a vocação secular pela qual
ganhamos o pão de cada dia – nesta fonte de subsistência natural, não podemos
escapar da tribulação.
Nossas famílias aqui –
os mais íntimos laços familiares são fontes de tribulação – Filhos amados
muitas vezes crescem se tornando fonte de lamento. Se temos a benção de ter uma
esposa ou esposo... chega o momento em que eles são arrancados de nosso seio
carinhoso. Nossas aflições mais agudas normalmente nascem dos laços de amizade
mais íntima. Não há como escapar disso – “tereis aflições!” – nenhuma sabedoria
ou artifício pode nos livrar. Eles são nomeados por Deus, colocados em nosso
caminho...
Estamos cercados por um
mundo caído – que por isso, continuamente algum mal está sendo enredado nele. Cada
olhar neste mundo é uma forma de conceber pecados no coração. Mal teus ouvidos
se “abrem” a cada manhã, e não podem ficar sem que possam ouvir algo para
contaminar e poluir a imaginação. Dificilmente podemos abrir a boca sem que
algo pecaminoso, mundano ou egoísta tende se infiltrar em nosso discurso...
tudo isso se torna fonte de tribulação – O pecado do olho, ou o pecado do ouvido, ou o pecado do coração, ou o pecado
da língua... trazem com eles tribulação e tristeza ao verdadeiro filho de Deus.
Se formos fiéis em
seguir ao Cordeiro neste mundo – temos que contar como certo sofrer perseguição
– e então a aflição chega. Do flagelo da língua que difama até o martírio, tem
sido a experiência dos cristãos através dos séculos de história da igreja,
costas açoitadas, corpos queimados em fogueiras...
Mesmo nossa laço íntimo
com a igreja na terra, a estreita ligação com a família de Deus, se torna
muitas vezes fonte de tribulações. Grande parte das aflições de Paulo, por
exemplo, fluía disso, desse relacionamento. O que podemos ver então, é que por
todos os lados, dentro e fora de nós, existem fontes de tribulação.
Nossos corpos,
tabernáculos terrenos, estão se corrompendo a cada dia. Sementes de doença e
morte habitam em nosso vaso de barro e as carregamos conosco. De forma que a
partir de fora e de dentro, da igreja visível e do mundo, do corpo e da alma,
do amigo e do inimigo, dos pecadores e dos santos... tudo potencialmente são
fontes de problemas e tribulações.
Mas tudo isso não tem
um fim sábio? Não foi da vontade de Deus que seu próprio Filho amado suportasse
o sofrimento por nós? Ele não bebeu até a última gota do cálice? Ele não foi a
nossa frente neste caminho? Se estamos sendo conformados a sua imagem, não
devemos sair pois a Ele fora do arraial levando seus sofrimentos? Não devemos
sofrer com Ele para que com Ele sejamos glorificados? É necessário, portanto,
indispensavelmente, que andemos no caminho da tribulação – no mundo – enquanto temos
paz em Cristo como sua única fonte.
A pergunta não é “por
que está acontecendo isso?” – e sim: “Estamos enxergando o fruto misericordioso
destas aflições?” – É claro para nós que há uma voz neles?
Quando nossos ouvidos
estão abertos por Deus, a tribulação fala. Que doce voz ouvimos. Que doce voz
vai exterminando todos os “por quês”? – Exemplos?
Nosso coração não é,
por natureza, muito preso a este mundo? Naturalmente não temos a propensão de
amá-lo e nos unir a ele? Se olharmos para nossos corações não vemos que
naturalmente estão sempre saindo a busca de algo idólatra que os agrade e
divirta, ocupe nossa mente natural? Podemos caminhar nas ruas da cidade sem que
a mente natural esteja caçando alimento? Deus irá romper essa união e mostrará
que Cristo é a fonte da paz – “, para que
em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições” – Misericordiosamente Deus
nos faz sentir que este não é nosso lugar permanente, que nenhuma felicidade
final pode ser encontrada nele – a tribulação operada pela sabedoria infinita
de um Deus santo em homens verdadeiramente regenerados vai realmente e
diariamente os separando do mundo.
Quando tribulações nos
alcançam, quão pobre e inútil o mundo nos parece. Precisamos de consolação
interior e o mundo não pode dar – entretenimento, viagens, paisagens lindas,
amizades... precisamos de óleo para
nossas consciências e o mundo pode apenas feri-la ainda mais. Precisamos da
garantia absoluta do amor de Deus por nós, e o mundo longe de ser uma ajuda, se
interpõe, fecha os caminhos... Precisamos de paz, paz interna, que fale a nossa
alma... e só a encontramos no sangue que faz a propiciação... mas o mundo tenta
nos distrair dessa fonte. Por graça precisamos de tribulação após tribulação,
aflição após aflição, dor após dor, tristeza sobre tristeza... para cortar cada
pedaço da íntima comunhão que existe entre nós e o mundo e nos convencer em
nosso coração, de maneira mais profunda possível a um ser humano, que não há consolo, não há descanso, não há
paz, não há alegria... que possa ser de fato encontrado em qualquer coisa e de
qualquer forma que o mundo ofereça e apresente.
Essa é a boa notícia em
toda a nossa aflição. Deus não nos deixou no escuro. Ele não só disse que
haveria aflições, mas disse o por quê. Ele explica o seu principal objetivo em
cada uma de nossas aflições – “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria
o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua
fé produz perseverança.E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que
vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.” - Tiago 1:2-4
O resultado?
Ficamos firmados,
satisfeitos e inabaláveis. Mais seguros
- porque confiamos mais na Rocha inabalável - Salmos 62:2. Mais satisfeitos -
porque confiamos mais no Pão da Vida que é totalmente satisfatório - João 6:35...
Cada dia mais parecidos com e perto do
objetivo final – “...também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” - Romanos 8:29
O propósito específico
de cada sofrimento nós não entenderemos até chegarmos ao céu. Mas Ele disse o
único propósito que precisamos saber
Deus nos dá provas, aflições e tribulações para aperfeiçoar a nossa fé - para nos ajudar a ver a fraqueza de outros fundos e meios, para que nós confiemos ainda mais em Jesus Cristo - e tenhamos mais segurança,
satisfação e firmeza, como resultado - “...para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições”
Como você vê as aflições,
sofrimentos e tribulações?
Se você é como eu -
você os vê muitas vezes como intrusos, inimigos, ladrões...
Mas Tiago diz que cada aflição
é dom de Deus - um presente que nos dá mais segurança, mais satisfação e mais
firmeza nele.
É a imagem de um rei
que lhe dá um presente precioso em uma bandeja de ouro. Isso é o que Deus está
fazendo cada vez que uma aflição vem a caminho.
Por isso, Tiago diz: “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de
passarem por diversas provações” - Tiago
1:2