Um “nunca”
paira sobre a busca que muitos em nossa geração pensam ser o evangelho: “Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento
da verdade.” - 2 Timóteo 3:7 - O
conhecimento que não se mistura com a obediência endurece o coração:
"Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido
o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados" –
Hebreus 10.26
Como é possível
“aprender” sempre e nunca chegar ao conhecimento da verdade? Isso me lembra uma
conversa de Sherlock Holmes, o legendário detetive de Sir Arthur Conan Doyle, e Dr Watson.
Sherlock Homes é um
homem extraordinário, seu parceiro, Dr Watson, é um tipo comum. Num famoso
diálogo entre Holmes e Watson, observe qual personagem se parece mais com você:
Holmes: “Você vê, mas
não observa. A diferença é clara. Por exemplo, você tem visto frequentemente os
degraus que conduzem ao corredor desta sala.”
Watson: “Sim.
Frequentemente.”
Holmes: “Quantas
vezes?”
Watson: “Bem, mais ou
menos umas cem vezes.”
Holmes: “Então quantos
degraus são?”
Watson: “Quantos? Não
sei.”
Holmes: “Aí está! Você
não observou. E, no entanto, viu. É exatamente nesse ponto que desejava chegar.
Pois bem, sei que são dezessete degraus, porque não só vi como observei” ( Um
Escândalo na Boêmia ).
Eis uma bela descrição
do “aprender sempre e nunca chegar ao conhecimento da verdade” – Uma tarefa
inútil, mas não só inútil, mortal. É o nunca de uma busca infrutífera, de
um “conhecimento” que não faz diferença alguma. O homem fica no mesmo lugar que
sempre esteve.
O que pode ser mais
triste do que adquirir conhecimento, falar da Soberania divina, das Doutrinas
da Graça... debater tudo isso... ter conhecimento de livros de homens que foram
usados por Deus para expor a Palavra, ouvir regularmente bons sermões... e
ainda assim não ter o conhecimento da Verdade que muda todas as coisas na vida de um
homem? Não chegar a nenhum conhecimento espiritual verdadeiro, nenhum
conhecimento experiencial da verdade. Um “nunca”
continua pairando sobre a mente e o coração – “...e nunca
podem chegar ao conhecimento da verdade.” – Continuam com a mesma sede do
homem natural. Uma sede que não estando saciada em Deus, se volta para o mundo,
seu ego... Outro “nunca” jamais substitui o princípio vital na alma - "Aquele que crê em mim jamais terá sede" (João 6:35).
Esse é o "nunca" de uma
fonte inesgotável. É essa alma saciada e que se deleita completamente em Deus
que “vence o mundo”, como diz João – “Porque todo o que é nascido de Deus vence
o mundo” – 1 João 5.5
A Regeneração jamais
deixa o homem onde ele estava antes. O homem natural pode ter um conhecimento
desprovido de vida espiritual. O Senhor
não lhes deu "um coração para
entender, nem olhos para ver e ouvidos para ouvir" -Deuteronômio 29:4. Se for o caso, a
mente é "corrupta" e a verdade aprendida, é resistida, relativizada e
combinada com uma vida mundana. O “conhecimento” é usado justificar uma vida
não centrada em Deus com uma “graça barata” – que é tão somente perdão sem nova
vida: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas
já passaram; eis que tudo se fez novo.” - 2
Coríntios 5:1
A verdade inexorável é
que se você é um cristão, você já morreu. Este morrer não é um estágio avançado
da vida cristã, é seu princípio básico. É o verdadeiro significado de ter se
tornado cristão. Morrer! “E os que são de
Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” - Gálatas 5:24
Se pertencemos a
Cristo, se somos cristãos verdadeiros, isso já aconteceu: “crucificaram...” –
Nossa carne, o coração rebelde, o homem egocêntrico separado de Cristo, foi
crucificado. Foi unido a Ele e experimentou o que ele experimentou: “Porque, se fomos plantados juntamente com
ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; Sabendo
isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do
pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.” - Romanos 6:5-6 – É mais do que um mero
aprender infrutífero, é chagar ao conhecimento da verdade: “Santifica-os na tua
verdade; a tua palavra é a verdade.” João
17:17 - Sua morte se tornou a nossa
morte, para que sua vida pode se tornar a nossa vida.
O aprendizado é
essencial, mas se não leva ao conhecimento da verdade assim, é inútil,
infrutífero e destruidor. Todo nosso crescimento espiritual está baseado na
verdade. A sã doutrina não é um adendo, é essencial: “Tu porém, fala o que
convém a sã doutrina” – Tito 2.1 – O apóstolo Paulo diz aos colossenses que o
novo homem é renovado pelo verdadeiro conhecimento – mas o novo homem, e não
informações infrutíferas na mente do velho homem: “E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou.” - Colossenses
3:10 – Esse “aprender” só vira conhecimento da verdade quando recebido na
plenitude de nossa nova posição em Cristo, onde com Ele, já estamos
crucificados: “...na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” -
Gálatas
6:14 – Como disse Spurgeon certa vez: “A velha natureza nunca muda e se transforma em
algo sagrado. O velho homem não é enviado para o hospital para ser curado, mas
para a cruz, para ser crucificado”. É nessa posição que aprendemos e chegamos
ao conhecimento da verdade.
Paulo então afirma com
precisão a importância fundamental para aqueles que já estão crucificados com
Cristo estarem familiarizados com sua nova identidade em Cristo. Não estamos
mais “em Adão”, mas “em Cristo”, não mais na carne, mas no Espírito, não mais
dominados pela velha criação, mas vivendo em novidade de Vida: “Vós, porém, não
estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós.
Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.” - Romanos 8:9 – ( Romanos 5.12-21; 2Co
5.17).
Paulo não poupa tempo explicando
tudo isso – Morremos com Cristo – Colossenses 3.3 – Fomos sepultados com Cristo
– 2.12 – Fomos ressuscitados com Cristo – 3.1 – E agora a nossa vida está escondida
com ele – 3.3. Toda a incapacidade para lidar eficazmente com a presença do
pecado sempre deve ser rastreada até o não crescimento da verdade aprendida –
da amnésia espiritual – o esquecimento da nossa nova identidade em Cristo. É
nessa nova posição, com uma nova natureza... que a Graça nos coloca, e não é de
forma nenhuma um mero perdão que nos deixa onde estávamos antes, como o mundo a
nossa volta. Como um cristão verdadeiro, fui tirado do domínio do pecado,
portanto, sou livre e estou motivado nas profundezas da minha nova natureza a
lutar vitoriosamente contra todo resto do exército de pecados que se levantam
no minha vida. O homem regenerado chegou ao conhecimento dessa verdade, descansa
nela, pensa e age então de acordo com sua nova identidade – que está em Cristo
e não no mundo, no Novo homem e não no velho, que já foi crucificado.
"Sabendo
isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do
pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem
morreu está justificado do pecado". - Romanos 6.6,7. - Chegamos ao conhecimento da verdade; estamos unidos
com Cristo em sua morte e ressurreição, e, portanto, livres da antiga escravidão
do pecado.
Alguém pode dizer: “O
que devo fazer a partir de então para me desvencilhar da influência do pecado?”
– Paulo diz – “Assim vós considerai-vos mortos para o pecado, mais vivos para
Seus, em Cristo Jesus” – Romanos 6.11
– Logizomai, a palavra usado por
Paulo aqui, significa “calcular ou contar alguma coisa” – É a palavra usada por
Cristo ao citar Isaías 53.12 – “Ele foi
contado com os malfeitores” - Lucas 22.37 – Esse “considerai-vos”
está muito além do conhecimento. Ele tira nossa fé do reino puramente intelectual
e a torna superlativamente prática, invade totalmente o viver real.
O fracasso na
compreensão aqui é terrível. Um ensino defeituoso leva o homem pensar que
alguém pode estar em Cristo e ainda estar escravizado ao pecado. Muitos foram
ensinados que a velha natureza ainda está viva com toda a sua fúria. Não
compreenderam jamais que Cristo, a Graça, quebrou o poder do pecado. E,
portanto, não só podem, mas devem viver vitoriosamente. O erro fatal está em
imaginar estar em Cristo e não se considerar genuinamente morto para o pecado.