Antes de olharmos
diretamente para a acusação tão antiga de Plínio, podemos olhar a mesma
acusação hoje. Vivemos no meio de uma alta tensão, em meio a uma guerra
cultural no Ocidente... Por exemplo, por causa da ideia de casamento
homossexual e a visão cristã do casamento, os cristãos foram e são golpeados
com todo o tipo de rótulos pejorativos. Descritos como intolerantes,
arrogantes, exclusivistas, dogmático, homofóbico...
Mas um dos rótulos que
mais se destacam é o de intolerante.
Os cristãos são considerados intolerantes religiosamente, por exemplo – porque afirma
as palavras de Cristo: “Ninguém vem ao
Pai a não ser por mim” – João 14.6
– E são considerados intolerantes eticamente, porque se recusam a aprovar todo
o comportamento da cultura atual como moralmente bom.
Então os cristãos
passam a ser considerados “inimigos” a serem combatidos – Porque, de uma forma
arbitrária, a cultura que vivemos se refere ao ato de dizer às pessoas que elas
estão erradas como uma forma de ódio. Não há honestidade intelectual na
acusação, já que ela não se aplica no sentido inverso – ou seja – pode ser dito
que os cristãos estão errados – e isso não é ódio – mas os cristãos se disseram
que determinada coisa é errada – é acusado de ódio.
O propósito da acusação
é desencorajar os cristãos em nossa cultura. Podemos nos desesperar em pensar
que a igreja está entrando em dias escuros. Mas um pouco de perspectiva histórica
será muito útil para nós agora. Verdade seja dita, esta não é a primeira vez
que os cristãos recebem tais rótulos. De fato, estes mesmos rótulos pejorativos
foram dados aos cristãos desde o início.
Plínio,
o Jovem: Cristãos são intolerantes!
Nós sabemos como o
mundo Greco-romano tinha um panteão de deuses. Cada grupo tinha seus próprios
deuses, e eles era colocados facilmente ao lado de outras divindades. Praticamente
ninguém levantava objeção à existência de outros deuses. Era um mundo e uma
cultura politeísta.
É claro que os cristãos
naquela cultura eram monoteístas – como seus predecessores judeus – e totalmente
indispostos a estar em sincronia com o padrão da cultura Greco-romana. Porque a
função dos magistrados romanos era tentar manter a paz, a intolerância cristã a
outros deuses era uma frustração para os magistrados da época.
Plinío
-
conhecido como Plínio, o Jovem, o Moço
ou o Novo, foi um grande orador, jurista, político, e governador imperial
na Bitínia (111-112). Sobrinho-neto de Plínio,
o Velho, que o adotou, estava com o mesmo, por exemplo, no dia da grande
erupção do Vesúvio (79 d.C.), mas não o acompanhou na viagem de barco até o
vulcão em erupção que se revelaria mortal. Seus escritos sobre esse dia, no
qual Pompeia foi destruída, são o principal documento escrito que falam a
respeito de como sucedeu tal erupção. Hoje, as erupções desse tipo são chamadas
de erupções plinianas.
Plínio, quando
governador romano da Bitínia, escreveu expressando sua frustração com o fato de que os cristãos insistiam em não “invocar
os deuses”. Em uma carta ao Imperador Trajano, ele lamenta a “teimosia e obstinação inabalável dos
cristãos”. Ele se mostra
completamente irado contra o que chamou de intolerância
dos cristãos.
Por que Plínio estava
tão incomodado? Porque a influência cristã estava deixando templos pagãos
vazios e, assim, diz ele – “havia pouquíssimos compradores de animais para os
sacrifícios nos templos”. Em outras palavras, havia um grande prejuízo
econômico.
Para resolver o
problema “econômico” – Plínio decidiu forçar os cristãos a adorar os deuses
pagãos e amaldiçoar a Cristo - e se eles
se recusassem, eles seriam condenados a morte. Ele diz: “Fui informado que pessoas
que realmente são cristãs não farão isso de forma alguma”.
É interessante notar
que Plínio, enquanto se decide em torturar e matar estes cristãos, reconhece
seus elevados padrões morais. Plínio diz: “Os cristãos ao se comprometerem, sempre
cumprem seus juramentos e palavra – não cometem crimes... não fraudam, não
cometem roubo ou adultério, não falsificam... são realmente confiáveis quando
são chamados a fazerem todas as coisas que lhe são ordenadas.”
Aparentemente, apenas a
intolerância aos deuses Greco-romanos foi suficiente e razoável para eles
matarem os cristãos apesar de serem testemunhas de suas vidas íntegras.
Nero:
os cristãos odeiam!
No final do primeiro
século, o imperador romano Nero ficou famoso por sua perseguição aos cristãos.
O historiador romano Tácito nos diz que sob Nero:
“Não só a morte, mas
zombaria de toda sorte foi adicionada a morte dos cristãos. Cobertos com peles
de animais, eles foram rasgados por cães ferozes, foram pregados em cruzes, ou
foram transformados em tochas humanas para servir de iluminação noturna quando
a luz do dia já havia sumido... Nero ofereceu seus jardins para este tipo de
espetáculo, como se fosse um show de circo.”
Então, que crimes
terríveis os cristãos cometeram para ser autorizado contra eles tal tortura
impensável? Tácito reconheceu que os cristãos não tinham qualquer culpa nas
acusações forjadas de atear fogo a cidade. Em vez disso, ele admite que eles
foram mortos por “ódio a humanidade!”
O que os cristãos
haviam feito para justificar tal acusação de “inimigos da humanidade”? Mas uma vez, eles se recusaram a adotar
juntamente com o cristianismo o panteão de deuses romanos e as práticas
defendidas por aquela cultura “inclusiva”.
Em suma, as histórias
de Plínio e de Nero são ao mesmo tempo encorajadoras e assustadoras.
Assustadoras, porque são estranhamente similares ao tipo de linguagem e
acusação que estão sendo usadas hoje contra os cristãos. Mais uma vez os
cristãos estão sendo “convidados” a
prestar homenagem e culto aos deuses romanos da “tolerância” e a toda sorte de
práticas proibidas pelas Escrituras – como o casamento Gay, por exemplo.
Ao mesmo tempo – apesar
de assustadoras, essas histórias são animadoras - porque elas nos lembram que esse
tipo de perseguição não é nova. De fato, esse tipo de perseguição está sobre o
cristianismo desde o início. E em meio a essa perseguição a igreja sempre
prosperou e cresceu. A promessa de Cristo está de pé em meio a guerra cultural
que estamos vivendo: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” – Mateus 16.18.