James Brown conta como
foi sua experiência no enterro de Elvis Presley:
“Quando entrei e vi o caixão aberto, senti que precisava desesperadamente de consolo. Eu coloquei minha mão sobre o seu coração ( de Elvis Presley ) e disse com lágrimas nos olhos: ‘seu rato', por que você nos deixou? Como você pôde deixar isso acontecer? Como você pôde deixar isso acontecer?’ – “Foi muito estranho, era apenas a segunda vez que eu tocava em alguém morto. Isso me fez pensar sobre o desperdício de um talento tão grande, o que me fez questionar o que eu estava fazendo com minha própria vida. Durante toda minha vida eu não pude encontrar nenhum caminho seguro para sair dela. Se nem o Elvis pôde encontrar alguma maneira de não morrer, como alguém poderia?” -
James Brown: The Godfather of Soul (Nova Iorque,
1986), páginas 247 –
Como sair da vida? Como?
"Tudo
tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: Há
tempo de nascer e tempo de morrer" - Eclesiastes 3.1,2
As vezes, diante da
perspectiva da morte os nossos sonhos desertam. A morte chega como alguém que
não foi convidado, como alguém que não barganha nada. Quando o homem a vê de
perto; o pânico vem: "... pelo pavor
da morte, estavam sujeitos a escravidão por toda a vida" - Hebreus
2.15
Há pânico, há pavor. O
homem pode algumas vezes tentar enfrentar bravamente; com indiferença na
fisionomia, mas intimamente ele se sente só, sem recursos. O homem é incapaz de
enfrentar esse último inimigo. No livro de Jó a morte é chamada de "Rei dos horrores" - "É
arrancado da sua segurança da sua tenda, e é levado ao rei dos horrores".
É por isso que muitos sequer pensam ou gostam de falar sobre isso. Mas olhe a
sua volta, as pessoas, amigos, parentes são levados pela morte a todo momento.
Davi disse: "ainda
que eu andasse pelo vale da sombra da morte". Em muitos lugares na Bíblia
a morte é chamada assim - "sombra da morte". E é isso mesmo; uma
sombra escura, que vem e escurece os nossos "melhores" dias. Dia a
dia vemos essa sombra se aproximando, logo nos envolverá.
Pensar sobre isso
parece melancólico para você? Parece mórbido? Esquecer essas coisas e ir
vivendo não é uma atitude sábia, é escapismo, é perigoso. Moisés, em um salmo
que fala sobre a morte diz: "Tu os
arrebatas no sono da morte. São como a erva que nasce de madrugada, de
madrugada cresce e floresce, e a tarde corta-se e seca... acabam-se os nossos
anos como um conto ligeiro... pois passam rapidamente e nós voamos...
Ensina-nos a contar nossos dias de tal maneira que alcancemos coração
sábio" - Salmos 90.5,6,9,10.
Isso é um passo inevitável para se alcançar um coração sábio. Isso é realismo
sóbrio. A morte é talvez, a única grande certeza da vida pra todos nós. O
Grande Filipe da Macedônia encarregou um escravo para lhe dizer todos os dias:
"Filipe, lembre-se que você haverá de morrer". Não temos
"escravos" para nos lembrar; mas será bom se fizermos todos os dias
como Filipe.
Não se pode lutar
contra um inimigo que se teme. Thamas à Kempis diz: "Pense diariamente em sua própria morte. Olhe o inimigo nos
olhos". Você é capaz? Isso deve ser uma experiência real para os
filhos de Deus: "Visto, pois, que os
filhos tem participação comum de carne e sangue, destes também Ele, igualmente,
participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da
morte, a saber o diabo, e livrasse a todos que, pelo pavor da morte, estavam
sujeitos a escravidão por toda a vida" - Hebreus 2.14,15.
Cristo se fez homem
para participar conosco do mesmo estado e da mesma natureza. Ele nos livra dessa
tirania diabólica pra não precisarmos viver esmagados pelo medo que a morte nos
imprime. Cristo partilhou de nossa carne mortal para que experimentasse a morte
por nós, destruísse o "senhor" da morte, e construísse uma ponte
segura, ampla e forte sobre ela, para que passássemos por ela sem medo. O diabo
foi destruído até onde ele tinha o poder de nos arruinar - "o poder da
morte" - atribuído a ele, apenas pelo efeito de nos trazer ruína e
produzir a morte: "Porque assim como em Adão todos morreram... assim
também todos serão vivificados em Cristo... Cristo, as primícias, depois os que
são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim..." - 1Co 15.22-26.
Se você não pode
entender a morte, também não pode entender a vida. Qualquer
"filosofia" que nos ensina viver os melhores dias, o
"verão" da nossa vida, mas não nos ensina dominar a morte, o
"inverno" da nossa existência, não vale nada para nós. É nesse ponto
que as "filosofias" sucumbem e o evangelho assume o lugar que é seu,
é óbvio que o verdadeiro evangelho - não o evangelho hedonista, da
"prosperidade", o culto ao prazer que é visto hoje na
"igreja".
A ressurreição de
Cristo é um fato único. Outras ressurreições foram temporárias ( Lázaro,
Dorcas... ) - A de Cristo não: "...havendo Cristo ressuscitado dentre os
mortos, já não morre..." (Rm 6.9). Que coisa maravilhosa: "Estive
morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da
morte e do inferno" (Ap 1.18). No presente a vitória de Cristo trouxe
perdão e justificação: "Ele foi entregue pelos nossos pecados, e ressurgiu
para nossa justificação" (Rm 4.25), e a vida espiritual: "Fomos
sepultados com Ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressuscitou
dentre os mortos, pela glória do Pai, assim vós considerai-vos mortos ao pecado,
mas vivos para Deus em Cristo" (Rm 6.4-12). Vida hoje, vida agora:
"Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas" (Ef 2.10).
No futuro haverá
ressurreição física. Na volta de Cristo, se vivos, seremos transformados; se
mortos, seremos ressuscitados: "Eis que vos digo um mistério, na verdade,
nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados... a trombeta soará, e os
mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1Co
15.50-54).
O temor da morte física
- originado no senso de que ela é uma porta para o desconhecido, o sofrimento e
o juízo de Deus, foi abolido para os filhos de Deus. Seu aguilhão foi
arrancado: "Onde está ó morte o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua
vitória?" (1Co 15.55). Paulo canta esse hino, ele zomba da morte. Isso vem
do conhecimento de que nossos pecados foram perdoados, e de que sem sombra de
dúvida "nem a morte, nem a vida... nem cousas presentes, nem do porvir...
nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em
Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8.38,39).
O tema central do
evangelho, resumiu John Owen (1616-1683) - é a morte da morte na morte de Cristo.