Às vezes penso que as
orações dos crentes dão uma prova mais forte de uma natureza depravada, do que
até mesmo todas as profanações daqueles que não conhecem o Senhor.
Que estranho é que,
quando eu tenho a convicção mais completa de que a oração não é apenas o meu
dever, não é só necessária como o meio designado por Deus de recebermos o que Ele
determinou, sem a qual nada posso fazer, mas também a maior honra e privilégio
que um homem como eu pode ter na vida presente, - Eu ainda me encontre tão sem
vontade de praticá-la tantas vezes.
No entanto, eu acho que
não é da oração em si que eu me sinto cansado, mas das orações como as minhas
tantas vezes são. Como é que pode ser contabilizada a oração, quando o coração
está tão pouco afetado? - Quando ele está poluído com uma tal mistura de
imaginação vis e vãs? - Quando eu mal sei e pouco meditei no que estou dizendo,
mas digo coisa que passam em minha mente, e no minuto seguinte, meus
pensamentos estão voando nos confins da terra?
Se eu pudesse expressar
com meus lábios, juntamente com o que estou dizendo, os pensamentos que estão
passando em minha mente, o que está nas entrelinhas de cada pensamento... tudo
junto, tudo tomado em conjunto... seria tal absurdo e incoerente, que sua
inconsistência poderia ser facilmente atribuída ao delírio de um lunático.
Quanto Satanás então
aponta do absurdo desse arranjo e pergunta: “Isto é uma oração que possa ser
apresentada a um Deus santo? Uma oração que Deus aceitaria?”
Eu sinto que não tenho
como responder, até que sou levado a lembrar que não estou sob a lei, mas debaixo
da graça. Que todas as minhas esperanças não estão colocadas em minhas próprias
orações, mas na justiça e intercessão perfeita de Jesus. Então eu continua
orando cada vez mais. Quanto mais pobre e mais vil eu sou em mim mesmo – e percebo
isso claramente – tanto mais poder e riqueza da Sua graça deve operar em mim –
e redimir mesmo as orações de alguém como eu. Então eu oro...
Portanto, deve, e,
conhecendo que o Senhor me ajuda, eu oro cada vez mais, e admiro a Sua
condescendência e amor, que Ele possa
ouvir a oração de tal criatura – e que essas orações que desagradam até
a mim mesmo – indigno como sou – possam ser aceitáveis a Deus. Que poder
infinito tem a intercessão de Seu Filho. De que outra forma Deus poderia
responder minhas orações?
Que eu ainda esteja
autorizado a chegar ao Trono da Graça – com todo meu caminho e obras
imperfeitas e indignas... e que meus inimigos aqui não prevaleçam contra mim,
não triunfem sobre mim... é uma prova cabal de que Deus, por amor a Cristo e por
Suas intercessões, ouviu e aceitou minhas pobres orações.
Sim, é possível que as
orações das quais mais nos envergonhamos, sejam as mais agradáveis ao Senhor, e
por essa única razão, porque nos envergonhamos delas e não o contrário. Seria
trágico achar por um instante que Deus nos ouviu por causa da dignidade de
nossas orações. Ficarmos satisfeitos conosco mesmo, acharmos que fizemos bem e
por isso fomos aceitos.
Por isso, apesar de
tudo, em vez de orar menos, oro mais.
John Newton, Twenty-Five Letters Hitherto Unpublished of the Rev. John Newton , Ed.Robert Jones (Edinburgh: J. Johnstone, Hunter Square, 1847).
John Newton, Twenty-Five Letters Hitherto Unpublished of the Rev. John Newton , Ed.Robert Jones (Edinburgh: J. Johnstone, Hunter Square, 1847).
John Newton (1725-1807 ).