Quando pensamos em Deus
morrer, precisamos ter certeza de que entendemos o que isso quer dizer, ou
então, certamente ideias heréticas estão forjando nosso pensamento sobre Deus.
Existe um famoso hino
de Charles Wesley (1707 –1788) que diz:
“Ó amor divino, o que fizeste!
O Deus imortal morreu
por mim!”
Temos que admitir que
isso é uma coisa ousada demais para se dizer e pode ser entendida facilmente de
forma errada e herética. É ousada pois põe na mesma frase “Deus... e Morreu”
Mas a Bíblia usa sem
rodeios termos assim: “...a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio
sangue.” Atos 20:28. A voz da fé fala ousadamente dessa forma, mas será que
entendemos o que ela está dizendo?
Quando mestres,
pastores... pegam declarações rígidas e paradoxais como “Deus morreu” – logo é
despertado neles um instinto de esclarecer o que está sendo dito e de que as
pessoas tenham um entendimento correto dessa verdade difícil.
Não existe o desejo de
remover a força e o choque espantoso ( o que seria péssimo ) da declaração, mas
sim de se certificar de que o verdadeiro e imenso PARADOXO da afirmação está
sendo compreendido pelos que a ouvem. Que o sentido do paradoxo está sendo
corretamente assimilado. Que o
entendimento errado dele – da declaração que deve provocar o choque – não seja
mal entendida levando a um choque falso, herético e de completa incoerência
lógica.
Como assim, você
pergunta. Por exemplo, é possível e provável pensar que “Deus morreu” significa
algo assim: “Da mesma maneira como existe uma morte humana para que os seres
humanos possam morrer, aparentemente pela declaração, existe também uma morte
divina para que Deus possa morrer, e foi isso que aconteceu no Calvário”. Esse
entendimento seria um completo absurdo. Seria uma analogia ilógica.
A morte necessariamente
é um conceito que só pode funcionar dentro de um contexto da criação. Por que?
Porque você precisa de uma existência finita e contingente para ter sua
dissolução ou eclipse no que a morte é.
Então, pensar na “morte
divina”, como análogo da “morte humana” não é uma ideia sequer lógica e
coerente. Fica na categoria de “truques” que você pode fazer com a linguagem
onde você combina qualquer adjetivo com qualquer substantivo sem ter nenhuma
lógica, coerência e racionalidade. Como: Um calor frio, um círculo quadrado,
uma altura profunda, ou morte divina.
Quando você remove a
ilógica e a quimera de uma morte devidamente divina, você começa a poder ver o que
a afirmação “Deus morreu” realmente significa. Significa que Deus experimentou
o único tipo de morte que existe, o único tipo de morte que há para se
experimentar, que é a morte da criatura. Agora, como isso poderia ter
acontecido?
Com uma grande
preocupação com as heresias que surgiram devido ao não entendimento correto
disso, houve um Concílio na antiguidade para tratar disso. O Concílio da Calcedônia.
O Concílio foi
realizado de 8 de Outubro a 1 de Novembro de 451AD – e emitiu importante
definição. Foi o quarto dos primeiros sete concílios ecumênicos da história do
cristianismo, onde foi repudiada a doutrina de Eutiques relativa ao monofisismo (Monofisismo (do grego: monos - "único, singular" e physis -
"natureza") é o ponto de vista cristológico que defende que, depois
da união do divino e do humano na encarnação histórica, Jesus Cristo, como
encarnação do Filho ou Verbo (Logos) de Deus, teria apenas uma única
"natureza", a divina, e não uma síntese de ambas. O monofisismo é
contraposto pelo diofisismo (ou "diafisismo"), que defende que Jesus preservou em si as
duas naturezas.) e declarada a dualidade humana e divina de Jesus, a
segunda pessoa da Santíssima Trindade.
Então é precisamente
aqui onde as categorias, que poderíamos chamar de calcedonianas, entram em jogo, e em vez de despojar todo o poder
poético e choque das palavras de Charles Wesley, “Deus morreu” – a teologia da
encarnação da Calcedônia, por assim dizer, ( na verdade da Bíblia) coloca a poesia no entendimento correto de sua
chocante e maravilhosa declaração.
Ou seja, o Filho de
Deus entrou em união pessoal consigo mesmo, o Deus eterno, como uma natureza
humana completa, e assim existiu e existe, como uma pessoa teantrópica ( Divina
e humana – completamente divina e completamente humana, sem que estas duas
naturezas se misturem ou se fundam ).
Ele jamais deixou de
ser Deus, mas tomou a natureza humana em união hipostática ( pessoal )
com Ele mesmo. (O Concílio de Calcedónia, em 451, declarou que em Cristo há
duas naturezas, cada uma mantendo as suas próprias propriedades distintas, e
juntas unidas numa substância e, em uma única pessoa.).
Ele tornou essa
humanidade sua, e é nessa humanidade apropriada é que Ele se apropriou da
verdadeira morte humana. Cristo morreu a única morte que se há para morrer, a
nossa morte.
Ao declarar tão
claramente a encarnação desta maneira, temos implicado um de seus pressupostos,
a doutrina da Santíssima Trindade. Quando você ouve a sentença: “Deus morreu” –
o sujeito, “Deus”, deve significar a Segundo pessoa da Santíssima Trindade,
Deus Filho.
Cada uma das três
pessoas da Santíssima Trindade é Deus,
mas são pessoas distintas que mantêm relações interpessoais uns com os outros.
O Deus Filho não é um terço de Deus, uma parte de Deus, a versão agradável de
Deus... não, mas apenas Deus. Como o Pai e o Espírito Santo também. Em Seu
Plano eterno, Deus Pai enviou seu Filho para morrer na cruz. Assim Deus morreu
na cruz. O Concílio da Calcedônia, já fornece a cristologia na perspectiva
trinitária.
Assim, a incrível e
chocante frase: “Deus morreu”, poderia ser dita de maneira mais longa: “A
eterna segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus Filho, tomou em pessoal união
consigo mesmo – sem dividir sua natureza divina, ou confundi-la, ou mudá-la, ou
separar-se dela – uma natureza humana completa através da qual Ele experimentou
a morte pelos eleitos de Deus”.
É óbvio que Charles
Wesley não poderia colocar essa loooonga frase no hino. Mas não há dúvida de
que essa frase longa e clara é exatamente o que ele quis dizer com a frase
curto: “Deus morreu”. Se pudéssemos perguntar
a ele hoje, Charles Wesley teria dito que sendo ele um cristão ortodoxo
e não um herege, ele não poderia ter pretendido qualquer outra coisa. A
sentença mais longa, é o que significa a sentença mais curta: “Deus morreu”, e
ambas as sentenças são verdadeiras somente assim – verdadeiras exatamente e tão
somente na medida em que se referem uma a
outra.
Deus não escolheu o
caminho “mais fácil” para nos salvar. Ou
encontrou uma maneira de nos salvar que o deixaria intocado pela profundidade
do nosso sofrimento. Podemos ter certeza que o Deus Todo-Poderoso foi
exatamente aos limites extremos para realizar a nossa redenção.
DEUS MORREU NA CRUZ!
Charles Wesley conhecia profundamente o valar da verdade e estrutura do
conceito encarnacional e trinitário, porque quando ele escreve e canta:
“Ó amor divino, o que Tu
fizeste!
O Deus imortal morreu
por mim!”
Ele imediatamente
mostra como essa verdade está nos termos da Segunda Pessoas na ação vicária da
Trindade em nosso favor e então ele completa:
“O Filho coeternal do
Pai,
Levou todos os meus
pecados sobre a Cruz!”






