Há passagens bíblicas
que estão constantemente em minha mente. Uma dessas passagens é gênesis 15.
Neste capítulo, Deus e Abraão participam de um rito de Aliança que era comum no
antigo Oriente. Abraão não podia imaginar como Deus poderia cumprir a promessa
feita a ele. “Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar.
E disse-lhe: Assim será a tua descendência.” - Gênesis 15:5 - Como ele poderia
ter certeza? Como poderia saber que teria, não só essa descendência, mas que no
fim, a salvação deste mundo viria através disso. Como viria um descendente de
Abraão que por esta Aliança traria salvação definitiva.
Então Deus manda Abraão
trazer uma bezerra, uma cabra, um carneiro, uma rola e um pombinho. Diz para
ele cortá-los pelo meio, colocando os pedaços um na frente do outro fazendo um
corredor sangrento no meio, e então esperasse. “E disse-lhe: Toma-me uma
bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma
rola e um pombinho. E trouxe-lhe todos estes, e partiu-os pelo meio, e pôs cada
parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu.” - Gênesis 15:9,10. Abraão
esperou até o anoitecer.
A ideia por trás disso
tudo era bastante simples ( mais incrivelmente poderosa). Duas pessoas
caminhariam através do corredor sangrento das partes dos animais cortados e
separados, e com isso selariam um voto, uma aliança. Implicitamente estavam
dizendo um para o outro: “Que o que aconteceu com esses animais aconteça
conosco se quebrarmos nosso voto”. Era uma aliança... e tudo isso mostrava a
seriedade de uma Aliança ( Hoje trocamos anéis... naqueles dias eles queriam
algo mais óbvio sobre a seriedade de uma Aliança ).
Abraão entendeu... Deus
vai fazer uma Aliança comigo... Se eu cumprir minha parte, Ele cumprirá a parte
dele. Se eu não cumprir... tudo dependeria da fidelidade de Abraão... Ele teria
que passar entre os animais partidos e fazer o juramento.
Abraão esperou muitas
horas, até que a noite caiu... e animais, abutres... queriam comer as carcaças
e Abraão tinha que enxotá-los.
Mas então Deus rompe
com todo o costume aqui, e se você olhar para a história, Abraão não faz voto
nenhum – somente Deus faz um voto e juramento...
Abraão fica de pé ali
como uma testemunha quando Deus “aparece” numa teofania, como um brilho
esfumaçante e uma tocha de fogo. E só Deus passa entre as partes dos animais.
Nada poderia ser mais surpreendente para Abraão.
Você consegue
imaginar-se lá naquele instante? Ver as chamas cintilando nos olhos de Abraão,
o brilho intenso e a tocha de fogo fazendo com que todo aquele sangue e as
vísceras expostas dos animais brilhassem como joias diante do céu incrivelmente
escuro e estrelado. Deus se revelou como luz na escuridão. Deus mostrou e
pronunciou uma solução violenta para o maior problema do homem.
Há uma mistura de um
estômago “revoltado” e alívio na mente de Abraão. Embora a cerimônia não fosse
estranha a ele, mas todos aqueles animais despedaçados com sua vísceras
expostas... deve ter feito seu estômago revirar. Era uma imagem de extrema
violência...
No entanto, um peso
enorme saiu de sobre os ombros de Abraão e um poderoso alívio se apodera dele.
Só Deus passa pelas carcaças. Somente Deus fez o juramento. Deus colocou todo o
preço sobre a sua Sagrada Cabeça, dizendo: “Que o que aconteceu com esses
animais aconteça comigo se o voto for quebrado, se a promessa de salvar todos
os que prometi salvar em ti não acontecer... cada um... nome por nome da sua
descendência espiritual – os verdadeiros filhos de Abraão...”.
Deus está dizendo,
ninguém pode quebrar a promessa ou será partido. Mais eu assumo toda a
responsabilidade, pelos dois lados, por isso, passarei sozinho entre os
animais.
É um alívio para Abraão
imenso, porque ele sabe que não poderia manter perfeitamente qualquer
promessa... ele não passa de um homem pecador. Deus certamente, Abraão sabia,
pode manter sua palavra e promessa, mais eu...
Ele sabe que nele não
há capacidade para passar entre os animais com Deus sem que ele por fim não
leve tudo a ruína... somente Deus pode permanecer fiel às promessas feitas,
como demonstra a própria história de Abraão como sabemos.
Embora Deus tenha
falado para Abraão preparar a cerimônia e se preparar para ela. Deus toma sobre
si mesmo fazer o voto dizendo: “Eu vou fazer isso sozinho, eu vou fazê-lo.”
Deus está dizendo, se
você ou tua descendência espiritual... que te dou através de um Filho que no
futuro virá de ti... falhar, pecar... o mínimo que seja. Eu serei partido como
os animais, meu sangue será derramado, a quebra da Aliança será punida... por
mim mesmo que passei sozinho entre os animais... sobre mim cairá a maldição...
mas nenhum dos que eu te dei... daqueles que você contou quando eu mandei você
contar as estrelas, se perderá. Porque Eu sou o responsável pela Aliança, pelos
dois lados da Aliança – minha parte, e a parte dos que salvarei, pois eu passei
sozinho entre os animais.
Mas como isso seria
possível? Abraão não podia entender. Como Deus poderia morrer como esses
animais? Como Ele poderia ser partido como esses animais? Isso é impossível...
Deus não pode morrer, Deus não pode ser partido, Deus não pode derramar seu
sangue... Deus não tem um corpo para ser partido... Deus não pode morrer... Deus
não tem sangue para derramar... Abraão não podia entender tudo o que estava
acontecendo ali.
Eu posso imaginar
aquela escuridão. Todo aquele sangue... eu posso sair dessa cena e viajar
milhares de anos... tudo é muito parecido ao pé da cruz... vendo aquele Deus
que criou o mundo... que passou como uma tocha entre os animais através de uma
teofania... vejo aquele Deus ( Perfeito Deus – Perfeito Homem ) sangrando e
agonizando para respirar, e, finalmente, morrendo. Ele foi partido como animais
e seu sangue foi derramado... porque é óbvio, nem Abraão, nem seus descendentes
espirituais cumpriram a Aliança... Mas Deus tinha passado sozinho dizendo que
sobre Ele cairia a maldição daquela Aliança, mas que Abraão e seus descendentes
seriam salvos.
Aquela cerimônia em
Gênesis 15, nada mais era do que a repetição na terra de algo que tinha sido
feito na eternidade, com a segunda Pessoa da Santíssima Trindade – que um dia
como homem seria um descendente de Abraão – se comprometeu, na Aliança eterna,
cumprir toda a exigência para que cada eleito, jamais vissem a maldição e a ira
que mereciam.
Você consegue viajar
com tua imaginação, da Eternidade – Onde a Aliança eterna foi feita, até chegar
em Gênesis 15, onde Deus a mostra a Abraão passando sozinho entre os animais
partidos, e chegando ao Calvário?
Não me admira que no
Calvário, apesar de ser meio-dia, o céu tenha ficado negro. Lá, Deus manteve
sua Palavra, e o preço da Aliança quebrada foi exigido... não sobre os homens
que ele deu ao Seu Filho, e que seu Filho se comprometeu a representar na
Aliança eterna, lá o preço exigido caiu sobre Deus. O inimaginável aconteceu.
Deus morreu e seu sangue foi derramado... Ele foi partido... como os animais de
Gênesis 15. Ele tomou tudo sobre si mesmo, e quando morreu, Ele disse: “Está
terminado!” Fui partido como os animais, meu sangue foi derramado, recebi a
maldição... mas em mim os Eleitos, filhos de Abraão, cumpriram a Aliança.
Nenhuma condenação pode cair mais sobre eles.
Quando nos reunimos com
a igreja e tomamos o cálice e partimos o pão... lembramos daquele dia escuro que
Abraão viu a tocha passar sozinha entre os animais partidos... compartilhamos, como se estivéssemos de pé ali, do lado de Abraão, sua revolta e seu alívio.
A Cruz é revoltante e
linda. Quando a contemplamos, olhamos
com horror os resultados violentos e de ira infinita do nossos pecados contra
um Deus santo, santo, santo. Mas também olhamos com um grande alívio. A
promessa foi mantida, e se Deus já passou entre os animais... e se depois ele
foi partido como os animais... e se seu sangue foi derramado como daqueles
animais... então sabemos que o que Deus começou, Ele vai terminar. Por isso
Paulo diz com certeza: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em
vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus.” - Filipenses 1:6






