O grande mito do
Iluminismo talvez esteja morrendo, mas é
uma morte dolorosamente lenta. Dolorosa, porque está demorando demais para as
pessoas descobrirem que é uma grande farsa. A ideia de que os seres humanos
estão progredindo numa escala de liberdade crescente continua a prevalecer no século
XXI, assim como o fez no início do século XX. Ainda que cada vez mais cambaleante. O mito de que o homem é
essencialmente bom...
Duas guerras mundiais e
muitas outras tantas. O abate de milhões de civis inocentes ainda não erradicou o
mito do Iluminismo. Mesmo com uma sociedade esfacelada moralmente, nós continuamos a acreditar agora, no início do século XXI,
que as pessoas civilizadas são incapazes das atrocidades cometidas durante a
Segunda Guerra Mundial. Cometidas por pessoas altamente civilizadas.
Mas estamos errados.
Enganamos a nós mesmos.
“Os
Alemães - Eles pensavam que eram livres.”
É o título de um livro (
que acabei de ler ) que expõe a vacuidade da perspectiva do mito da
"escalada ascendente" da sociedade humana:
Os alemães comuns –
eles pensaram que eram livres, 1933-45
por Milton Mayer - Publicado há
mais de quarenta anos, oferece uma janela única para os corações e as mentes
dos alemães dia a dia durante a ascensão de Hitler e do nazismo.
Mayer entrevista um
grande número de "alemães comuns," contando suas histórias e, em
seguida, adicionando seus próprios pensamentos e conclusões. O resultado é uma
imagem arrepiante de pessoas comuns, e de bom grado sendo levadas pelos
retórica vazia, como forma de garantir a satisfação das necessidades pessoais
básicas. Pão, trabalho, social, um país mais justo...
“Eles pensaram que eles
eram livres” - documenta a lenta progressão do anti-semitismo e seu papel que
aos poucos foi cegando a população das atrocidades do governo:
"As pessoas comuns
- alemães comuns – deles, não se
podia esperar tolerar atividades que ultrajasse o sentido comum de decência, a
menos que as vítimas fossem, de antemão, estigmatizadas como inimigas do povo,
da nação, da justiça social, do sucesso das políticas sociais..." ( p. 55)
Os alemães achavam que
seu espírito voltado para si era bom, não mal – que seria uma vitória contra a
miséria, dificuldade...
O auto-engano maciço do
povo alemão deve nos levar a fazer uma pausa, especialmente quando consideramos
a frequência com que podemos de fato estar cegos para nosso próprio mal:
Distraídos demais para
se preocuparem com "Coisas Fundamentais"
Mayer, nessa série de
entrevistas, mostra como as distrações embotaram os sentidos dos cidadãos
alemães, impedindo-os de realmente considerarem o mal ao seu redor:
Essas são as palavras
de um padeiro: “Eu não tinha tempo para pensar. Havia tanta coisa acontecendo."
Assim Hitler foi eleito
democraticamente e depois foi fazendo pequenas mudanças graduais: "A
ditadura, e todo o processo da sua entrada gradual, foi acima de tudo por meio
do desvio. O governo forneceu uma desculpa para não pensar a pessoas que já não
queriam pensar. Não falo só dos alemães comuns, trabalhadores e assim por
diante... falo dos meus colegas e eu, homens instruídos, intelectuais,
universitários... A maioria de nós não quer pensar sobre coisas fundamentais e
nunca o faz.” (p. 167)
Foram centenas de pequenos
passos em direção a Auschwitz.
E assim, Mayer
documenta uma progressão assustadora e constante em direção aos males cometidos
em grande escala:
“Uma coisa grande e
horrível, não parece assim, quando centenas de milhares de coisas menores são
feitas antes de chegarmos a ela. Essa é
a grande dificuldade. Se o último e pior ato de todo o regime tivesse vindo
imediatamente após a primeira ação daquele governo, os alemãs teriam ficado
chocados. Mas milhares de coisas vieram antes, as reformas que o país
precisava, o convencimento de quem eram os culpados pelas dificuldades... Se, digamos, a morte por gás dos Judeus em 43
viesse imediatamente após os adesivos colocados nas vitrines das lojas e
janelas das casas dos judeus em 1933, ninguém aceitaria.
Mas é claro, não é
assim que isso acontece. Entre as duas coisas, vêm todas as centenas de
pequenos passos, alguns deles imperceptíveis, cada um deles preparando você
para não ficar chocado com o próximo passo. O Passo C não é muito pior do que o
Passo B, e, se você não tomar uma posição no Passo B, por que deveria tomar no
Passo C? E assim por diante para o passo D, e assim sucessivamente
"(170)
O mito do Iluminismo não resiste a um bocado de pão e uma retórica vazia... e a enorme maldade humana explode.
“Eu não tenho fé na
evolução e aperfeiçoamento humano. Eu acho que o esforço humano não terá nenhum
efeito apreciável sobre a humanidade. O homem é agora apenas mais ativo, não
mais feliz, nem mais sábio, do que era há 6000 anos.” - Edgar Allan Poe
Quem diria que Edgar
Allan Poe teria uma compreensão muito melhor da depravação humana que a maioria
dos cristãos dos nossos dias. Ele percebe o óbvio apesar de não partir da clara
doutrina bíblica da depravação humana, ele entende que há um fator fatal na
humanidade que nos deixa completamente incapazes de melhorar o mundo de uma
forma significativa.
Nossos avanços
tecnológicos são apenas isso, tecnológicos. `Podemos fazer o mundo mais rápido,
podemos criar um ambiente mais confortável, com mais facilidades... podemos
fazer o mundo mais rápido... mas jamais melhor. Moralmente o homem está no
mesmo buraco onde sempre esteve desde a queda. Como diz Edgar Allan Poe, nós
tivemos milhares de anos para trabalhar nisso e falhamos completamente.
Winston Churchill
escreveu logo antes da Segunda Guerra Mundial:
“Certo é que, enquanto
os homens estão reunindo poder e conhecimento com sempre crescente rapidez, as
suas virtudes e a sua sabedoria não tem mostrado nenhum aperfeiçoamento
perceptível com o passar dos séculos. Sob suficiente pressão... fome, terror,
paixão... ou mesmo o frio furor intelectual, o homem moderno que conhecemos tão
bem praticará os mais terríveis atos, e a sua mulher moderna estará com ele,
apoiando-o” –
E Churchill disse isso
pouco antes dos horrores do holocausto nazista e da Segunda Guerra Mundial.
Muitos, inclusive
grande parte dos cristãos dos nossos dias fecham os olhos para isso, pois essa
afirmação parece muito deprimente, e sem dúvida, a intenção é que seja. Mas
é realista. É o eco do realismo bíblico
expresso por Edgar Allan Poe e Winston Churchill.
É a negação daquilo que
o pecado tenta incutir na mente do homem de que sua depravação não é tão
grande, que lá no fundo o homem é bom... é por isso que o pecado é descrito
como as “concupiscências do ENGANO”.
A verdade é que vivemos
num mundo mau deveras. Até Edward Gibbon, em sua obra, Declínio e Queda do
Império Romano, chegou à deprimente conclusão de que “a história é pouco mais
que o registro dos crimes, loucuras, paixões destruidoras, paixões egoístas...
e infortúnios da humanidade.”
O pecado está em toda
parte, em todos os homens, e no homem todo. A doutrina da depravação total da
humanidade não ensina que o homem é tão ruim quanto ele poderia ser. Mas que
todo o seu ser, todas as suas faculdades são caídas e opostas a Deus e sua glória,
escravizados as “concupiscências do engano”.
De acordo com a Bíblia,
não podemos compreender a história se não reconhecermos a feia realidade do mal
por trás de todas história humana e a inclinação inexorável do coração humano
para o mal, desde o nascimento até a morte.
A Bíblia relata a
história do homem, e desde o princípio o homem vem escolhendo o mal. Colocado
no Éden, o homem escolheu o mal e caiu... daí e diante – apesar da loucura de
falar que o homem é livre... o homem escolhe sempre a mesma coisa, o mal –
“Todos pecaram... todos estão destituídos da glória de Deus... não há ninguém
que faça o bem... não há ninguém que busque a Deus... todos juntamente se
fizeram inúteis...” ( Romanos 3).
A queda do homem está
registrada no capítulo 3 de Gênesis, e quando chegamos ao capítulo 6, lemos que
“viu Deus que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que TODA a
imaginação de seu coração era só CONTINUAMENTE má” (Gn 6.5).
Deus não está em seus
pensamentos ( a não ser quando criam um deus que se assemelhe e exista para
satisfazer seus desejos). Ele é um ser esquecido. A doutrina bíblica da
depravação e incapacidade total do homem declara que todos os homens nascem
mortos espiritualmente... e tudo que fazem, e tudo que escolhem... flui dessa
morte, dessa alienação de Deus... todas as suas escolhas fluem dessa natureza
caída e que ama o pecado.
Depravação total
significa que cada pessoa está corrompido em cada parte do seu ser, tão
corrompido que ficamos incapazes de realizar qualquer dever moral e espiritual
perfeitamente, ou seja, aceitável em qualquer nível por um Deus santo.
Significa que, desde a queda o homem repousa sob a maldição do pecado, que é
acionado sempre por princípios errados, e que ele é totalmente incapaz de amar
a Deus ou para fazer qualquer coisa que mereça a salvação.
O que depravação total
requer e necessita desesperadamente como única solução é a graça. Precisamos da
graça de Deus para nos atrair para Cristo , para abrir os nossos corações para
responder à Escritura, para nos fazer nascer de novo , para nos conceder fé e
arrependimento , e manter-nos na fé até o fim .
Nosso depravação total
nos deixou desamparados, mas não sem esperança, tão somente pela graça soberana
de Deus que Ele concede através de Jesus Cristo.






