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    Deus tem medo da Beleza?




    A Bíblia tem muito a dizer, tanto direta quanto indiretamente, sobre o amor de Deus pela beleza. Mas muitos em uma suposta “espiritualidade” vão num caminho exatamente oposto.


    Muitos ligam, estranhamente, espiritualidade e feiura, ou pelo menos, falta de beleza. Hinos sem grandes arranjos instrumentais, vocais... sem grandes melodias e harmonias... Quase todas as regras humanas ( “espirituais” ) sobre louvor, por exemplo, tem um problema com a quantidade de beleza e complexidade vocal e instrumental... Certa vez alguém me disse: “Esse vídeo tem um conteúdo muito bom (Um texto de um sermão John Owen), mas essas imagens de paisagens lindas atrapalham, era melhor um fundo preto”. Eu na mesma hora agradeci a Deus por Ele não se parecer com essa pessoa e ter criado aquelas paisagens e não um mundo todo preto. Eu preferia, se tivesse tido o privilégio, ter visto e escutado John Owen falando aquelas verdade na beira de uma linda praia – Como Jesus no Mar da Galiléia ou no Sermão da Montana, do que diante de um fundo preto. Mas pessoas diriam que a Montanha e o Mar da Galileia atrapalharam os sermões de Cristo – e que se Ele tivesse ido para uma caverna escura para pregar, aí sim, a espiritualidade estaria presente. Essas pessoas realmente veem a beleza como concorrente de Deus e não algo que o manifesta. Elas não podem sinceramente dizer: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” - Salmos 19:1


    Como eu disse, a Bíblia tem muito a dizer, tanto direta quanto indiretamente, sobre o amor de Deus pela beleza. Certa vez o casal Shecffer disse:


    “O único artista que é perfeito em todas as formas de criatividade...  é, naturalmente, Deus - o Deus que é pessoal.” Edith Schaeffer.  Ou seu marido:


    “Venha comigo para os Alpes e veja as montanhas cobertas de neve. Não pode haver dúvida. Deus está interessado em beleza.” -Francis A. Schaeffer.


    Mesmo uma leitura rápida de Gênesis 1 demonstra a maravilhosa sabedoria e poder de Deus na criação. Vemos a luz surgir da escuridão ( Alguém “espiritual” hoje diria a Deus naquele instante: “não seria melhor deixar esse fundo preto?), vastos reservatórios de água levados para o céu, grandes formas de relevo se elevando do mar. Vemos árvores, gramas e flores da primavera instantaneamente brotando da terra, florescendo e dando frutos em um dia. Nós vemos o sol nascer no horizonte pela primeira vez, e a lua atravessar o céu noturno cravejado de estrelas.



    Vemos estrelas colocadas em constelações e galáxias. Vemos multidão de peixes e de pássaros para encher os mares e os céus. Vemos grandes criaturas das profundezas marinhas. Vemos animais, gado, felinos.... correndo através dos prados, campos e florestas tropicais da nova Terra. E, é claro, também vemos o primeiro homem e mulher, não maculados pela queda, levantando os olhos para o céu para ouvir a voz de Deus naquela paisagem deslumbrante e não num fundo preto. O tudo que os olhos do primeiro homem e primeira mulher viram, foi assombroso para se contemplar. E é neste momento que os adjetivos não podem expressar de maneira justa o que estão  tentando descrever. Na verdade, os filósofos da estética poderiam escrever longos volumes apenas neste primeiro capítulo do Gênesis sozinho.



    Mas, por trás de Gênesis 1, escondido na eternidade, está a beleza e a majestade do próprio Deus Triúno... Ele não tem medo dela, Ele a cria como expressão de Sua glória e beleza.  Pai, Filho e Espírito Santo. É importante saber que este Deus é simples em Sua essência. Ele não tem "peças ou partes". Ele não é parcialmente isso e em parte aquilo. Ele não é principalmente isso, mas só um pouco disso. A essência de Deus é idêntica aos seus atributos. Ele é a verdade e a luz. Ele também é beleza, glória e alegria.


    Mas aqui está o interessante:


    Este, Deus simples existe eternamente como três Pessoas distintas. Desde a eternidade, o Pai gera o Filho que então fala a Palavra divina. Desde a eternidade, o Filho é o unigênito do Pai. Este Logos divino é o brilho da glória do Pai.


    As implicações disso são enormes.


    A partir de um breve olhar na teologia trinitária, podemos fazer algumas observações básicas sobre os fundamentos ontológicos das artes, beleza... Primeiro, Deus é coerente e racional. Ele é luz, "e nele não há trevas" (1 Jo 1: 5). Não há cantos escuros em Seu ser. Ele não está evoluindo ou está a caminho de se tornar algo novo. Ele não está em processo de ser. Na verdade, não há espaço para surpresas. Seus atributos não estão em competição. Este Deus todo sábio e perfeitamente racional é ... ao mesmo tempo e ao mesmo grau ... Alegria, Beleza e Delícia. Não é que Deus não tenha simplesmente  problema com a beleza, é que Ele é Beleza.


    Em segundo lugar, é a natureza deste Deus se revelar. Ele se expressa tanto pela Palavra como pelo Espírito iluminando nossos corações para e beleza dela, da Palavra. (Ele respira a vida). Deus se deleita com essa auto-revelação e auto-comunicação. Ele se alegra com a beleza, a glória e a verdade compartilhadas. Por isso Ele criou o mundo da beleza estonteante.



    Devemos então esperar que este Deus derrame Sua beleza e glória sobre e em qualquer coisa e lugar que Ele decida. Devemos esperar então, que Sua criação refletiria e declararia Sua glória. Também devemos esperar que Sua Palavra falada e escrita abundem em beleza, sabedoria, simplicidade e majestade.



    Deus é Trindade. Ele é a verdadeira diversidade na unidade perfeita. Em Deus, a unidade e a diversidade são igualmente fundamentais. O que é universal não devora os detalhes. Os detalhes não destrói o que é universal. A natureza de Deus é harmonia, equilíbrio, perfeita integração, complexidade, simplicidade, verdadeira comunidade e verdadeira individualidade.


    Este é o Deus que escolheu criar a Terra e muito mais. Um universo incrível para expressar Sua glória. O Deus que fez o mundo, o Deus que fala lindamente e poderosamente em Sua Palavra. Devemos esperar que a Palavra de Deus e o mundo criado de Deus sejam caracterizados pelos mesmos atributos.


    Não é de admirar, então, que quando abrimos as Escrituras, descobrimos que Deus fala de si mesmo como artesão ou artista.


    Fixe teus olhos  isto:

    Ele é um cantor: “O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você, com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com cânticos de alegria". Sof 3.17

    Ele é um oleiro: “Contudo, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; tu és o oleiro. Todos nós somos obra das tuas mãos.” Isaías 64:8.

    Ele um jardineiro - Isaías 5: 1-2.

    Ele um escultor - Zacarias 3: 9.

    Ele um joalheiro - Isaías 54:11

    Ele um arquiteto e construtor - Hb 11:10.

    E até mesmo um trabalhador de metal - Mal 3: 3. Poderíamos continuar...


    Deus também fala sobre si mesmo como uma obra de arte: "Naquele dia o Senhor dos exércitos será para uma coroa de glória, e um diadema de beleza, para o remanescente do seu povo" (Isaías 28: 5). E, é claro, nas primeiras linhas da Escritura, lemos: "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn 1: 1). Deus é o Artista que faz todas as coisas do nada e que não fez duas coisas exatamente iguais. Literalmente, tudo o que Deus criou com deslumbrante beleza ... fala de Sua glória e poder e não o oposto: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” 


    Antes que a Escritura nos mostre que Deus é Espírito infinito ( E isso é o que Ele é), ela nos mostra com grande detalhe que Deus é Criador. No seu primeiro capítulo, a Escritura é antitética, "está em desacordo" com qualquer visão gnóstica, platônica ou neoplatônica da criação ou da arte. Deus fez o mundo em toda a sua maravilha, beleza, complexidade, mistério, estranheza e glória. Em todas essas dimensões, a criação declara Deus como Ele realmente é. Deus criou o homem à Sua própria imagem. Ele também fez com que o homem o conhecesse, possa se comunicar com Ele e tenha comunhão, e viva e trabalhe em seu mundo. A ideia é clara que este é o lugar perfeito para começar qualquer discussão sobre o cristianismo, o culto, a beleza,  as artes...


    Ainda bem que o mundo de Deus não é uma tela preta para não atrapalhar nossa “espiritualidade”. Ainda bem que Ele criou a música, o mundo das notas musicais, com sua complexidade e beleza inacreditável. Ainda bem que ele nos deu uma mente que pode – expressando quem Ele é – criar instrumentos maravilhosos e usar – todos eles – para expressar beleza e complexidade em nossa adoração. Não só tocarmos e cantarmos – mas muitos mais: “Cantai-lhe um cântico novo; tocai BEM e com júbilo.” -Salmos 33:3.  Instrumentos musicais não são só para fazer um simples “acompanhamento” – não na Bíblia. Certa vez ouvi teólogo falando "espiritualmente" que a bateria era só para marcar o tempo. Mas o que só marca o tempo é um metrônomo, e não é um instrumento musical. Os instrumentos fazem parte da verdadeira adoração: “Louvai ao Senhor com harpa, cantai a ele com o saltério e um instrumento de dez cordas.” Salmos 33:2. “Louvem-no ao som de trombeta, louvem-no com a lira e a harpa, louvem-no com tamborins e danças, louvem-no com instrumentos de cordas e com flautas, louvem-no com címbalos sonoros, louvem-no com címbalos ressonantes. Tudo o que tem vida louve o Senhor! Aleluia!” Salmos 150:3-6


    Acredite, a beleza do Mar da Galiléia não atrapalhou os sermões de Jesus. A beleza da montanha não atrapalhou o Sermão do Monte.



    Como eu disse, os atributos de Deus não estão em competição. Este Deus todo sábio e perfeitamente racional é ... ao mesmo tempo e ao mesmo grau ... Alegria, Beleza e Delícia. Não é que Deus não tenha simplesmente  problema com a beleza, é que Ele é Beleza. Por isso criou um mundo para expressá-la. Se Deus expressou sua glória com belezas estonteantes. Queremos expressar esta mesma glória em louvor com beleza também.