• Puro conteúdo Reformado!

    ReformedSound

    .

    .

    #

    É impossível combinar os Reformadores e a psicologização da Bíblia.




    Artigo do site - https://www.oapedeuta.com/

    É quase inacreditável algum pastor ( ou qualquer cristão ) dizer ter lido As Institutas da Religião Cristã de João Calvino, por exemplo,  e ter lido um livro de psicologia cristã e não ter visto o contraste final entre Calvino, por um lado, e o livro da psicologia cristã, por outro - é a diferença entre o dia e a noite.

    Deus desenha uma linha na terra para nós e diz: "De que lado você está?" Eu jamais conseguiria ultrapassar a linha. Todo pregador, cristão... deve se arrepender da versão pscilogizada da fé e voltar ao cristianismo centrado em Deus, fundado para sempre na suficiência de Cristo nas Escrituras.

    É um mal incalculável a mistura do cristianismo e psicologia. Assim como em Israel de antigamente, os homens "temiam ao Senhor e serviam aos seus próprios deuses conforme o costume das nações" (2 Reis 17:33) -  Muitos cristãos  caíram ( Até mesmo pastores ditos reformados ) em uma mistura sincrética de cristianismo e mundanismo - psicologia. Mas os dois não se misturam!

    Todo assunto deve ser olhado à luz das Escrituras. Temos que ser seletivos num artigo, mas há tantas áreas onde a chamada “psicologia cristã” está em desacordo com a Verdade bíblica.

    O movimento da psicologia cristã é construído sobre uma visão inadequada da salvação e do poder do Evangelho. A salvação psicológica e a salvação cristã não tem pontos em comum. O homem psicológico quer ser feliz, o homem cristão quer ser santo (viver para a glória de Deus) e nisto consiste a felicidade.

    Há muitos anos me mostraram um o livro para avaliar, que era proposto para um “Grupo de Recuperação” - O era -  When your world makes no sense de Henry Cloud - 1990 - Psychology - 288 páginas – Me pediram para avaliar o livro e disseram que era um livro que ajudaria muito a entender as “pessoas feridas”. Tentamos dar o benefício da dúvida ao ler o tal livro, mas logo no início do livro aparecia algo totalmente perturbador – Cloud afirma que para essas “pessoas feridas” o “cristão padrão” responde que elas devem lidar com seus dramas lidando “com o pecado, fé, compreensão do Evangelho, obediência, tempo com a Palavra, oração, etc... Cloud diz: “Isso simplesmente não funciona e não funcionará”. Ele compara essas coisas mencionadas dadas como conselho, como os conselhos dados pelos amigos de Jó – Cloud chamou de “remédio inútil” – Em seguida ele propõe sua solução, que essencialmente é apenas uma versão cristianizada da psicologia do desenvolvimento.

    Alguém que tinha lido o livro e a abordagem de Cloud, disse que pessoas como sua esposa, que vinham de lares disfuncionais, não podiam relacionar a pregação centrada em Deus, sua glória, nossa submissão... porque essa centralidade, obediência... não podiam ser assimiladas por ela. Por ter tido pais rigorosos, frios e autoritários, pessoas como sua esposa não se relacionam bem com autoridade. Respondi que na pregação do Evangelho, toda ênfase está na Graça Soberana e infinita como a motivação final da obediência pela beleza indescritível de quem Deus é. Mas então ele disse que pessoas como sua esposa não podiam sequer se identificar com a graça de Deus – que tudo isso passa direto por ela. Eu disse: “Então quer dizer que toda vez que ela ouviu sermões sobre a graça de Deus, ele sequer ouviu realmente?” Ele disse: “Sim”. Ela jamais sentiu a graça e o amor de Deus em um nível pessoal.

    Então tive que pressionar o que ele disse fazendo perguntas esclarecedoras para ver se ele estava entendendo o que dizia. Depois respondi: “Se tua esposa jamais sentiu o amor e a graça de Deus, ela nunca foi regenerada, nunca foi justificada, jamais se converteu”

    No seu clássico – Um Tratado sobre afeições Santas – todo argumento bíblico de Jonatahn Edwards, é que a fé salvadora é muito mais do que um assentimento intelectual  ao evangelho, mas algo que ao dar um novo coração, afeta todas as afeições do homem. A ideia de que alguém nasceu de novo, recebeu um novo coração, é uma nova criatura... mas que isso não afeta decisivamente a alma, mente, coração... com amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade... é totalmente absurdo. Paulo diz: “Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei... Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz...” A Salvação bíblica é diferente da salvação do “homem psicológico”.  Aquele homem ficou muito chateado por eu ter dito que sua esposa não foi justificada, regenerada...

    Mas eu agarrei minhas armas e faço isso agora -  que se uma pessoa pode sentar numa igreja por anos e nunca ser movida pela graça e amor de Deus como mostrado para nós na cruz de tal maneira que todas essas coisas sejam tocadas, então essa pessoa não é verdadeiramente convertida.

    Enquanto pensava nesse homem, em tantos que se dizem cristãos e Henry Cloud diziam e dizem, percebi que, na verdade, eles estavam dizendo que o poder transformador do evangelho, que sustentou os santos em todos os aspectos concebíveis e aflições inimagináveis, não foi suficiente para lidar com os problemas emocionais destes cristãos do século XXI. E eu percebi que a abordagem psicologizada do cristianismo foi construída sobre a teologia inadequada que equaciona a conversão com a decisão de convidar Cristo para o seu coração - ou mero assentimento intelectual. Mas nada do que chamam de conversão tem relação com a verdadeira transformação soberana operado pelo Deus Todo-Poderoso pelos méritos infinitos de Seu Filho Todo-Poderoso, aperada pelo Todo-Poderoso Espírito Santo.

    Biblicamente, a conversão é o ato sobrenatural de Deus pelo qual Ele dá vida espiritual a uma pessoa que está morta em ofensas e pecados (Efésios 2: 1-5). Não é algo que o homem possa efetuar (João 1: 12-13). Como Calvino (e Edwards) me ajudaram a ver quando eu tinha 17 anos -  Deus, invariavelmente,  revelou à pessoa verdadeiramente convertida algo de Sua majestade e santidade. Instantaneamente, como Isaías após sua visão de Deus, o pecador é atingido por sua profanação completa do coração na presença desta luz inacessível, e ele grita: “Ai de mim, pois estou perdido!” Em vez de se sentir melhor consigo mesmo, ele se sente muito pior quando percebe sua verdadeira condição perante o Santo Deus. Como o homem na história de Jesus, ele não está disposto a erguer os olhos para o céu, mas ele bate no peito e grita: “Deus, tenha misericórdia ( sê propício – provê o sacrifício que propicia tua Ira)  de mim, o pecador!” (Lucas 18:13). E, então conhecem a Beleza infinita de um Deus misericordioso para com todos que realmente o invocam.

    O psicólogo Henry Cloud (p. 16) sustenta que qualquer abordagem que faça a pessoa que sofre se sentir culpada por sua dor - seja por falta de fé em Deus ou por falta de obediência, seja o que for - é “crítica” e causa apenas "incalculável dano". Mas Calvino inicia as Institutas na direção oposta:

    “Ora, como no homem se depara um como que mundo de todas as misérias, e desde que fomos despojados de nosso divino adereço, vergonhosa nudez põe a descoberto imensa massa de torpezas, do senso da própria infelicidade deve necessariamente cada um ser espicaçado para que chegue pelo menos a algum conhecimento de Deus.

    E assim na consciência de nossa ignorância, fatuidade, penúria, fraqueza, enfim, de nossa própria depravação e corrupção, reconhecemos que em nenhuma outra parte, senão no Senhor, se situam a verdadeira luz da sabedoria, a sólida virtude, a plena abundância de tudo que é bom, a pureza da justiça, e daí somos por nossos próprios males instigados à consideração das excelências de Deus. Nem podemos aspirar a ele com seriedade antes que tenhamos começado a descontentar-nos totalmente de nós mesmos.” (1.1.1).

    Creio que a maioria das pessoas na maioria das igrejas evangélicas ouviram: “paz, paz, quando não há paz”. Elas acham que estão certas com Deus, Justificadas... porque seguiram em frente ou fizeram uma oração, ou assentiram intelectualmente com algo dito... mas nunca conheceram nada de sua própria corrupção de coração através do ministério convincente do Espírito Santo. Eles não sentem, como disse Spurgeon, o laço em volta do pescoço, e por isso não choram de alegria quando o Salvador corta a corda ( Se dizem salvos, justificados... mas não há nada da alegria indizível dessa realidade ). Não foram verdadeiramente convertidos – “...se alguém está em Cristo, é uma nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo!” - 2 Coríntios 5:17 ( Mesmo muitos pastores reformados falam da conversão como mero assentimento intelectual – dizem: “É... essas realidades dominantes estão aí... o evangelho não pôde tratar disso... mas se foram justificadas... )

    Todo o movimento da psicologia cristã é construído sobre essa visão falha da salvação que minimiza a depravação e faz da conversão algo que o pecador pode fazer se decidindo por Jesus – tudo sendo mero assentimento intelectual que “justificou” o homem – Negam completamente o poder e suficiência do Evangelho para a alma, coração, mente...

    A psicologia cristã concentra as pessoas em si mesmas, não em Deus e em Sua glória. Não em Deus e seu poder eficaz no Evangelho.

    Um dos erros mais difundidos que inundou  a igreja nos últimas décadas é que a Bíblia ensina que precisamos nos amar e crescer em auto-estima.  Há muitos anos li o livro  Hide or Seek, de James Dobson, [1974], como o subtítulo  “Autoestima para a criança”. Ele afirma que há uma epidemia de baixa auto-estima em nossa sociedade que é responsável por muitos dos nossos males sociais. Sua ilustração de abertura é sobre Lee Harvey Oswald, e como esse pobre homem foi constantemente jogado para baixo. A única coisa que ele poderia fazer bem era atirar com um rifle, então ele finalmente foi levado a fazer algo em que pudesse se sentir bem consigo mesmo: atirou no presidente Kennedy. A mensagem clara é que, se de alguma forma este homem tivesse se sentido melhor consigo mesmo, talvez ele não tivesse feito essa terrível ação. Dobson também escreveu: O que as esposas desejam que seus maridos conhecessem sobre as mulheres [Tyndale, 1975], em que ele afirma que a baixa auto-estima é o problema número um que assola as mulheres cristãs americanas (p. 22).

    Essa noção permeia dezenas de livros cristãos populares. Em Worry-Free Living, Frank Minirth, Paul Meier e Don Hawkins afirmam que a falta de auto-estima “é a base da maioria dos problemas psicológicos” (p. 140). Eles dizem que a razão pela qual Davi derrotou Golias, mas Saul não pôde, é que Davi tinha boa auto-estima, enquanto Saul não tinha (p. 139). Eles também dizem que os dez espias que trouxeram de volta um relato negativo sobre os gigantes em Canaã, sofriam de um conceito negativo de si mesmos, enquanto Josué e Calebe tinham um autoconceito positivo e respeitavam a si mesmos (p. 136).

    Li um livro de Robert McGee, - The Search for Significance -  com reluzentes endossos de Billy Graham, Charles Stanley, Dawson McAllister, D.James Kennedy, Jerry Falwell, Beverly LaHaye... Nos endossos lemos: “Parte do sucesso de Rapha ( Rapha Treatment Centers, fundado por Robert McGee) encontra-se na capacidade única de visar e resolver problemas de baixa autoestima. No cerne de todos os problemas emocionais humanos e transtornos aditivos está a baixa autoestima. Nunca é o único problema; mas é uma questão tão importante que, se não for tratada adequadamente, impede-se de experimentar resultados duradouros e positivos de qualquer outra forma”.

    Muitos não vão tão longe no ensino de auto-estima. São  "mais equilibrados"! Ensinam que muito amor por si mesmo gera orgulho, mas que devemos ter uma quantidade adequada de amor-próprio para que possamos ter confiança suficiente para funcionar na vida e servir a Deus. E então tentam usar as verdades de nossa posição em Cristo para apoiar isso, junto com o mandamento de amar o próximo como a si mesmo.

    Mas muito cedo em minha vida, quando li Calvino – que explosão de verdade bíblica tão fresca e oposta me atingiu.  Ao discutir o pecado original, ele mostra como, pela natureza decaída, todos somos propensos a nos lisonjear por causa do amor próprio inato. Ele afirma (2.1.2),

    “Nada agrada mais ao homem do que o tipo de conversa sedutora que faz cócegas no orgulho que coça em sua própria medula. Portanto, em quase todas as épocas, quando alguém publicamente exaltava a natureza humana em termos mais favoráveis, ele era ouvido com aplausos.”

    Ele prossegue, dizendo que essa edificação da natureza humana caída nos ensina a estarmos satisfeitos com nós mesmos, mas que “engana a ponto de levar aqueles que creem nela a uma completa ruína”.

    Mais tarde, ao discutir nossa necessidade de amar o próximo como o cumprimento da lei, ele afirma (2.8.54),

    “Obviamente, uma vez que os homens nasceram em tal estado que estão todos muito inclinados ao amor-próprio - então, por mais que se desviem da verdade, eles ainda mantêm o amor-próprio - não havia necessidade de uma lei que aumentasse, ou melhor acenda esse amor já excessivo que o homem tem por si mesmo. Por isso, é muito claro que guardamos os mandamentos não amando a nós mesmos, mas amando a Deus e ao próximo; ou seja, que ele vive a melhor e mais santa vida quando vive e luta por si mesmo tão pouco quanto pode”

    De fato, para expressar quão profundamente devemos nos inclinar a amar os outros [Lev. 19:18], o Senhor mediu isso pelo amor que já temos ( todos ) por nós mesmos, porque ele não tinha em mãos nenhuma emoção mais violenta ou mais forte do que isso: O amor que o homem sente por si mesmo.

    Ele continua a refutar certos homens em sua época que ensinaram, como muitos psicólogos cristãos modernos ensinam, que devemos primeiro aprender a nos amar antes de podermos amar a Deus e aos outros.

    Em oposição ao amor-próprio, Calvino enfatiza repetidamente a humildade como a principal virtude. Em um capítulo que lida com a escravidão da vontade no pecado (2.2.11), ele cita Agostinho: “Quando alguém percebe que em si mesmo ele não é nada e de si mesmo não tem nada que o ajude ou recomente, as armas dentro dele estão quebradas, as guerras se vão. E todas as armas da impiedade devem ser quebradas -  quebradas e queimadas; você deve permanecer desarmado, você não deve ter ajuda em si mesmo. Quanto mais fraco você for em si mesmo, mais prontamente o Senhor o toma. ” Calvino conclui: “ Mas só isso é necessário, deixar de lado a doença do amor-próprio e da ambição, pela qual o homem é cegado e pensa mais de si mesmo. [cf. Gal. 6: 3], O homem só se reconhece corretamente se se vê no fiel espelho da Escritura [cf. Tiago 1: 22-25].

    Além disso, Calvino tem um capítulo maravilhoso intitulado “A soma da vida cristã: a negação de nós mesmos” (3.7). Ao ler o sólido tratamento bíblico de Calvino sobre a natureza do homem e do pecado, estive desde muito cedo “vacinado” contra  o grande erro de cair na doutrina da psicologia “cristã” da “auto-estima” adequada. Percebi que a psicologia cristã serviu para edificar e firmar o homem em seu pecado ( Que virou neuroses, síndromes, baixa autoestima...)  e para derrubar a Deus como nosso bem infinito – que por nos amar soberanamente – se torna a base da nossa identidade centrada nele e não em nós. Mas a Bíblia ergue Deus como sendo santo e glorioso, enquanto tira o homem de seu orgulho e farisaísmo e coloca até o homem mais justo na terra no pó, de modo que ele proclama: “Eu sou insignificante; que responderia a ti?… me abomino e me arrependo no pó e na cinza ”(Jó 40: 4; 42: 6).

    Partindo da visão errada de si mesmo e de Deus, é fácil  ver que a psicologia cristã não direciona as pessoas para o foco apropriado de glorificar a Deus e viver para agradá-Lo, não importando o custo pessoal. Pelo contrário, usa Deus e a Bíblia para os fins egoístas de felicidade e paz interior. ( O homem psicológico que ser feliz e ponto. ) Os livros de psicologia / auto-ajuda cristã invariavelmente citam numerosas Escrituras e, às vezes, até parecem expô-las. Isso dá a esses livros o verniz de soar bíblico. Mas o cerne de sua abordagem é usar Deus para se fazer feliz ou realizado, em vez de se submeter a Deus para glorificá-lo, porque só Ele merece isso. É digno de toda glória e nós fomos feitos para glorifica-lo e gozá-lo para sempre – e aí está nossa felicidade e completude.

    Certa vez alguém me mostrou um material dos populares programas de 12 passos que invadiram a igreja – como todo modismo – do mundo da psicologização do evangelho.

    Ao examinar o material – que a pessoa disse ser muito bom... Vi que o material usava com frequência citações das Escrituras, mas isso era apenas uma forma de envolver e embrulhar tudo na já visão familiar sobre a baixa autoestima. Dizia que a cura para nossos problemas emocionais vem quando aprendemos a nos concentrar em nós mesmos, e nos amar e a construí nossa autoestima, que é o ingrediente que falta em nossas personalidades. Ou seja, como tudo no mundo psicologizado cristão, os programas dos 12 Passos era simplesmente usar Deus (Com consideração, é claro) para se fazer feliz. Que é tudo que o homem psicológico quer.

    Em contraste com a psicologia cristã, Jesus afirma que, se você quer segui-Lo, a primeira coisa é negar a si mesmo e tomar sua cruz diariamente (Lucas 9:23). As duas abordagens não podem ser combinadas ou misturadas em nenhum grau. Ou você se arrepende do amor-próprio e do orgulho e morre para si mesmo, a fim de viver para a glória de Deus e Seu propósito, ou você tenta em vão usar Deus para promover sua própria felicidade. Para seguir Jesus, o EU deve ser constantemente destronado.

    A psicologia  cristã nega a suficiência de Jesus Cristo e o poder do Espírito Santo. Muitos no púlpito ( incluindo muitos do mundo Reformado ) falam da suficiência de Cristo e do Evangelho, mas quando descem do púlpito e têm que aplicar a um caso específico – abraçam a “psicologia cristã”   (Psicologia secular cristianizada)

    Henry Cloud, no livro mencionado anteriormente, afirma categoricamente: “Eu tentei as respostas cristãs 'padrão' para mim e para os outros, e cheguei às mesmas conclusões que Jó alcançou: elas são remédios sem valor” (p. 17). Estas respostas padrão, segundo ele,  são dizer às pessoas que elas estão em pecado, que sua fé não é firmada na solidez das Escrituras, que elas não gastam tempo suficiente com a Palavra ou em tempos tranquilos de meditação bíblica, ou que elas são de alguma outra forma culpadas por seus pecados... oração, o poder do Evangelho e suficiência das Escrituras, a beleza da glória de Deus... (p. 16). Em outras palavras, Jesus Cristo e o Espírito Santo não são suficientes. Você precisa dos insights da psicologia para lidar com suas lutas emocionais e existenciais.

    Mas a Bíblia é clara ao dizer que o Senhor Jesus Cristo vivo é tudo para o crente. “Nele habita toda a plenitude da Deidade em forma corpórea, e nEle você se fez completo” (Cl 2: 9, 10). Além disso, Ele não nos deixou sozinhos, mas nos deu livremente o Seu Espírito Santo para nos habitar e capacitar. Se andarmos pelo Espírito, não realizaremos os desejos da carne e teremos Seus frutos como vimos - amor, alegria, paz, paciência, bondade,  fidelidade, mansidão, domínio próprio – essas coisas caracterizarão nossas vidas (Gl 5 : 16, 22, 23). Eu afirmo que essas qualidades descrevem uma pessoa completa e PSICOLOGICAMENTE MADURA. Sendo fruto, essas qualidades levam tempo de desenvolvimento, mas também será uma realidade inexorável se o Espírito habita em nós. Mas a Bíblia não diz que essas qualidades estão disponíveis para todos, menos aqueles que vieram de lares disfuncionais – esses teriam que esperar séculos até que finalmente nascesse a psicoterapia! Ele promete esse fruto para todo crente que é habitado pelo Espírito Santo.

    Não estou sugerindo que, para o crente, a vida seja fácil e sem esforço, onde nunca estamos para baixo, nunca lutamos com sentimentos de tristeza, ansiedade ou medo. A Bíblia nos mostra homens e mulheres piedosos que lutaram com emoções avassaladoras enquanto passavam por horríveis provações. O próprio Paulo disse que estava tão sobrecarregado que se desesperou até da vida. Mas ele foi visitar seu terapeuta e aprender a se sentir melhor consigo mesmo? Não, ele diz que o ponto de sua terrível provação foi para que “não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Co 1: 8, 9).

    Eu afirmo que um dos principais propósitos das provações é nos ensinar a mesma lição, não confiar em nós mesmos, mas confiar ainda mais plenamente na suficiência de nosso Senhor Jesus Cristo. Às vezes, as provações também nos ensinam que precisamos uns dos outros no corpo, para suportar as cargas uns dos outros. Então, quando falo da suficiência de Cristo, não estou excluindo a necessidade de irmãos para ouvir, cuidar e aconselhar. Mas devemos nos ajudar mutuamente a nos apropriar DE CRISTO, e não das técnicas mais recentes de psicoterapia autocentrada.

    A psicologia cristã mina a suficiência e autoridade da Palavra de Deus – e muitos, como falamos – que falam sobre a suficiência dela no púlpito... logo a negam em casos específicos do mundo real.

    Isso está relacionado à suficiência de Cristo e do Espírito Santo, é claro. Mas isso se estende a toda a Escritura. A psicologia cristã nos diz que a Palavra é boa, na medida que ela alcança, mas que ela não alcança muito na complexidade do que somos, na complexidade de nossas almas. Ela não pode lidar com todos os problemas complexos que enfrentamos hoje em dia. A Bíblia é boa para lidar com questões espirituais de salvação, mas quando se trata de lidar com problemas emocionais, você precisa da visão grandiosa da psicologia secular.

    Por exemplo, Christianity Today [1992] diz, “Mito: Só com a Bíblia sermos capacitados a aconselhar nos complexos problemas da alma. Fato: A maioria está armada apenas com um conhecimento bíblico, mas escasso conhecimento de terapias comportamentais. Isso pode servir para ajuda meramente espiritual, ajudando as pessoas a encontrar alguma força na presença de Deus e um certo senso de direção divina em meio à dificuldade. Mas o ajustamento psicológico é um assunto diferente e, requer uma atenção séria e não superficial assim, é necessário se fazer parcerias com conselheiros profissionais munidos com as armas eficazes da psicologia”

    Infelizmente, mesmo em veículos tão bons como a revista “Tabletalk” [2/94], vemos coisas como um artigo de John Coe da Rosemead School of Psychology. Coe desenvolve o argumento de que a Escritura é apenas parte da revelação de Deus. ( E como ele desenvolve isso?)  Ele chama Tomás de Aquino para testemunhar que Deus não apenas nos fala através da Palavra, mas também na natureza. Então Coe afirma: "Só quando todos as formas de revelação são tomadas juntas, podemos falar da suficiência da revelação”. Ele diz que “a Bíblia fornece a interpretação divina de aspectos da história e da natureza. Mas sozinha é insuficiente”. Ele afirma que o autor de Eclesiastes “está consciente tanto da insuficiência da Bíblia quanto da sabedoria natural somente”. As duas sozinhas são insuficientes.

    Coe está tentando estabelecer que precisamos da sabedoria adquirida através da psicologia para SUPLEMENTAR a Escritura, porque “toda a verdade é a verdade de Deus”. A Bíblia não nos diz tudo o que precisamos saber sobre medicina ou matemática. Então, é tolice ignorar a "sabedoria" da psicologia moderna.

    Mas esses argumentos são falaciosos e prejudiciais à autoridade das Escrituras. A questão real é, como podemos determinar o que é a verdade, especialmente no campo da psicologia? A psicologia invade questões que são tratadas com bastante clareza na Bíblia: pecado... raiva, luxúria (“dependência sexual”), amargura, ansiedade, fala abusiva... e muitas outras áreas. Toda a Bíblia visa nos ajudar a ter relacionamentos saudáveis ​​("ame o seu próximo"). A Bíblia não trata de matemática... Mas nos diz claramente como lidar com os próprios problemas que a psicologia pretende nos ajudar a resolver de uma forma totalmente humanista e como se Deus não existisse. Com pressupostos que negam totalmente a Palavra de Deus. E a psicologia, invariavelmente, adota uma abordagem diferente da Escritura, porque é focada em si mesma e não se preocupa em agradar a Deus – pelo contrário – tem um berço humanista, materialista, ateísta. Além disso, é falacioso supor que a psicologia é uma ciência no mesmo nível da medicina moderna. Existem literalmente centenas de psicoterapias concorrentes que não possuem qualquer validade cientificamente estabelecida. Discordam completamente uns dos outros em teorias opostas e sem fim. Se existem "verdades finais" psicológicas, então elas se alinharão com as Escrituras, caso em que a psicologia é supérflua.

    Uma das coisas que me impressiona na leitura de Calvino é que através da Escritura ele foi capaz de se libertar da influência monolítica do catolicismo romano. Porque ele estava mergulhado na Palavra, Calvino viveu uma vida piedosa, apesar da doença corporal quase constante e severa e apesar da intensa oposição ao seu ensino. Seu teste universal para tudo foi: O que as Escrituras dizem? Como pastor, ele ajudou seu povo a lidar com todas as provações da época ( Aflições inimagináveis )  pregando e aconselhando estritamente pela Palavra de Deus. A Bíblia afirma que irá equipar o homem de Deus para toda boa obra. Uma pessoa psicologicamente ou emocionalmente debilitada não está tão equipada ou bem equipada. As preciosas e magníficas promessas de Deus, juntamente com o Seu poder divino, nos concedem tudo o que diz respeito à vida e à piedade (2 Pe 1: 3, 4). O que mais precisamos para enfrentar os problemas da vida? Certamente não é a psicologia mundana humanista!

    A psicologia cristã minimiza ( nega ) a visão bíblica do pecado e da depravação do coração humano.

    Se você leu alguma literatura popular sobre psicologia cristã, não precisarei provar para você que o movimento da psicologia cristã minimiza muito a visão bíblica do pecado e da depravação do coração humano. O movimento consistentemente usa terminologia médica que implica que a pessoa não é responsável por seus problemas. Ele é "um viciado sexual", não escravizado pela luxúria. Ele é um alcoólatra, não um bêbado. Ele está em recuperação, não em arrependimento. Um livro de exercícios chamado “Os Doze Passos para os Cristãos” diz:

    “Para os cristãos que sofrem de uma doença aditiva, ou que são o produto de uma família com traços aditivos, as mensagens de julgamento da Igreja podem ser especialmente problemáticas. Eles podem impedir que uma pessoa busque recuperação….

    Quando nos dispusermos a admitir nossa DISFUNÇÃO para nós mesmos e para os outros em recuperação, veremos que esse processo é curativo e gratificante.”

    Continua nos dizendo que precisamos "reconhecer e até mesmo fazer amizade com nossa natureza negativa ou reprimida". Aprenderemos a "aceitar nossas tendências indesejáveis, como raiva, comportamento sexual inadequado, hostilidade ou agressão".

    Você notou que não há menção de pecado, corrupção, arrependimento ou favor não merecido de Deus? Algumas páginas depois, o manual lista alguns marcos na recuperação. Um é que “geralmente aprovamos e aceitamos a nós mesmos”. Outro afirma que “estamos nos recuperando através do amor e da concentração em nós mesmos”. “Nos sentimos confortáveis ​​em nos defender quando é apropriado.” “Adoramos pessoas que amam e cuidam de nós mesmos.” “Temos um saudável senso de autoestima.”

    Eu poderia continuar citando exemplos da psicologização que inundou a igreja. Simplesmente ecoa a atual ênfase cultural na vitimização e na auto-aceitação, não importa o quão terrivelmente uma pessoa tenha pecado.

    Em contraste, Calvino é refrescantemente humilde ao classificar a si mesmo e a todos os crentes como pecadores. Em seu grande capítulo sobre o arrependimento, ele declara (3.3.10): “Nós (…) ensinamos que nos santos, até que sejam despojados de corpos mortais, sempre há pecado; pois em sua carne reside aquela depravação que contende contra a justiça.” Mais adiante no mesmo capítulo (3.3.20), ele nos chama a uma vida de “contínuo arrependimento e mortificação da carne...”. Ele afirma: “Portanto, o homem se beneficiou muito quando aprendeu a ficar muito insatisfeito consigo mesmo, não para ficar firme nessa lama e não progredir mais, mas sim para correr para Deus e ansiar por ele... tendo sido enxertados na vida e morte de Cristo”.

    Em seu capítulo sobre “Abnegação” (3.7.4; você não encontrará nenhum tratamento bíblico de abnegação nos livros da psicologia cristã), Calvino escreve com muita perspicácia sobre nossa natureza pecaminosa:

    "Pois, tal é a cegueira com a qual todos nós nos precipitamos no amor-próprio que cada um de nós parece ter orgulho de si mesmo e de desprezar todos os outros em comparação. Se Deus nos conferiu algo... imediatamente elevamos nossas mentes, e não apenas estamos cheios, mas quase explodindo de orgulho. Os próprios vícios que nos infestam, nos esforçamos para esconder dos outros, enquanto nos lisonjeamos com a pretensão de que são leves e insignificantes, e às vezes os abraçamos como virtudes. Se os outros manifestam os mesmos dons que admiramos em nós mesmos, ou mesmo superiores, nós menosprezamos e ultrajamos esses dons, a fim de evitar ceder lugar a tais pessoas. Se houver alguma falha em outros, não contente em nota-los com críticas severas e duras, nós os exageramos de maneira odiosa. Daí surge a verdade insolente  que cada um de nós, como se estivesse isento da sorte comum, deseja se elevar acima do resto, e arrogantemente e selvagemente abusa disso todo homem mortal, ou pelo menos olha para o outro como inferior…. Mas não há ninguém que não nutra dentro de si alguma opinião de sua própria preeminência.”

    Se eu não estivesse me sentindo bem, gostaria que o médico me dissesse a verdade sobre a minha condição. Ele pode me dar abraços e me dizer que eu sou o cara mais maravilhoso do mundo. Ele pode me assegurar que o meu problema é menor e me dizer que eu deveria ignorar como me sinto e dizer a mim mesma como eu estou ótimo. Mas se eu tenho câncer, todos os seus abraços e conversas tranquilizadoras são inúteis. Eu preciso enfrentar a dura verdade sobre a minha condição. Só então há alguma esperança que me leve a cura, por mais dolorosa que seja.

    Nós não fazemos favor aos pecadores ocultando a natureza séria e penetrante de seu orgulho, luxúria, desejos pervertidos, cobiça, ciúme e egocentrismo. Somente verdadeiramente ajudamos os pecadores quando os amamos, mas honestamente, os ajudamos a ver a verdade revelada na Palavra de Deus. Quanto mais próximo alguém se aproxima da luz inacessível da santa presença de Deus, mais ele vê a contaminação do pecado em seu próprio coração. Se ele realmente conhece Cristo como seu Salvador do pecado, ele odiará o pecado que ele vê dentro de si, e, felizmente, se apropriará da graça e do perdão abundantes de Deus.

    Há tanto para ser dito a esse respeito. Mas isso viraria um livro e não um artigo. Mas espero que você possa ver quão longe da verdade bíblica o atual “movimento psicológico cristão” se afastou da Verdade – e como mesmo pregadores proeminente acabam por propagar seus paradigmas - para que você  renuncie completamente qualquer “verdade” que contrarie a Verdade de Deus. Espero que você também veja como a doutrina da vida cristã de Calvino, dos Reformadores, dos Puritanos... é tão boa e bíblica que você comece realmente a ler a sabedoria bíblica que flui deles.  Mas não somente ler – mas confrontar com o que é oposto ao que eles ensinaram e ao que claramente a Bíblia ensina. Porque hoje muitos leem esses grandes gigantes da fé, pregam verdades das grandes doutrinas bíblicas, mas logo depois desfazem tudo quando juntam isso com aquilo que ensina o exato oposto vindo do humanismo secular e uma cultura totalmente oposta a toda Verdade.  Onde todos nós vivemos num mundo de vítimas.

    Alguns de vocês podem estar pensando: “Você não está sendo radical? Não está jogando o bebê fora com a água do banho? Não há algum benefício a ser obtido com a psicologia secular?

    Não muito! Pode haver alguns insights úteis na mesma linha que a Reader's Digest oferece  e algumas observações interessantes de vez em quando. Mas a psicologia não oferece nada necessário para a VIDA e PIEDADE que esteja  faltando na Bíblia. Se um problema é devido à disfunção orgânica.. uma pessoa pode precisar de uma solução médica (embora sempre se exija cautela com relação ao uso de drogas psiquiátricas – mas isso o médico dirá). Mas em termos de oferecer soluções para os problemas emocionais e relacionais que enfrentamos, a psicologia secular não tem nada a oferecer ao crente e tem muito a enganar e confundir.

    Alguém certa vez  citou para mim alguns problema para o qual a Bíblia não tem resposta, segundo ele, mas a psicologia tem. Ele disse que precisamos de psicólogos cristãos para ajudar os pais a determinar se um menino de seis anos está emocional e fisicamente preparado para entrar na primeira série; ajudar os pais de uma criança superdotada ou retardada; ajudar um homem cuja esposa se tornou esquizofrênica e correu gritando na rua; dar conselhos a um homem que pensa em mudança de carreira na meia-idade; e, para ajudar um adolescente que é extremamente rebelde e ressentido com seu pai.

    A fato é que aconselhamento educacional ou vocacional é muito diferente do absurdo psicoterapêutico que está inundando a igreja, e domina toda a moralidade da nossa geração.

    Por que precisamos de psicólogos para ajudar os pais a lidar com uma criança difícil? Elas não existiam antes? A Bíblia não nos dá sabedoria para lidar com tais provações? No caso da mulher esquizofrênica, se o problema dela é causado organicamente (Demência, Alzheimer... ou outros, ela precisa de um médico. Se não, se não é um problema médico -  Ele precisa aprender amá-la como Cristo amou a igreja ( Como também precisaria no Alzheimer... )  E ela precisa lidar com quaisquer pensamentos e comportamentos pecaminosos que estão por trás de seu “colapso” e aprender a confiar na suficiência de Cristo. E a ÚLTIMA coisa que um adolescente rebelde precisa é ouvir um psicólogo lhe dizer que ele precisa construir sua AUTOESTIMA!

    Por milhares de anos a Bíblia tem sido adequada para equipar os santos para passar por tragédias, para enfrentar a perseguição e até mesmo o martírio. Por que somos tão insistentes em nos desviar de nosso Senhor todo-suficiente, a fonte de águas vivas, para construir cisternas para nós mesmos, cisternas quebradas, cisternas rotas que não podem reter a água (Jeremias 2:13)?  Nós não precisamos de psicologia humanista secular para dizer o que o homem é, porque ele está quebrado e qual a causa dos dramas da alma humana. Precisamos do Senhor e da Sua Palavra.   Agradeço ao Senhor por servos como os Reformadores, os Puritanos... tão bíblicos... vivendo vidas tão difíceis e aflições sem fim em épocas terríveis -  que me ajudaram muito cedo na minha vida a ver a suficiência da Palavra, do Evangelho para a alma toda – e desde de muito cedo me deixar imune a chamada psicologia “cristã”!

    Agora, se alguém é como a esposa daquele homem – que depois de vinte anos ouvindo a Verdade da Graça... diz que por causa de ser criada num “lar disfuncional”, ela jamais sentiu a graça e o amor de Deus em um nível pessoal. O que resta para um cristão nominal a não ser o humanismo secular? Alguns me perguntam: Uma pessoa como ela não devia recorrer ao humanismo secular? Devia – é a única coisa que sobra para os ímpios se “tratarem”. Tudo que Calvino escreveu, Jonathan Edwards escreveu... eu pobremente escrevo aqui... é para homens regenerados que viram a suficiência de Cristo, do Evangelho, da Bíblia para a vida e piedade.

    Artigo do site - https://www.oapedeuta.com/