Será que precisamos da
igreja?
Um dia dois homens se
encontram e se tornam grandes amigos. Eles se dão tão bem que acabam
trabalhando juntos. Cada homem tem seus talentos, cada um com suas dificuldades
e limitações, mas juntos eles formam uma grande equipe. Isso, claro, não é uma
história incomum. Na verdade, é tão comum que dificilmente parece valer a pena contar.
Mas eu vou contar assim mesmo.
Porque às vezes uma
história é tão singular - e tão instrutiva - que merece nossa atenção. De fato,
às vezes uma história resume o que significa ser um ser humano – e mais, ser um
ser humano regenerado. A amizade e o relacionamento de trabalho de Eli Bowen e
Charles Tripp é apenas uma dessas histórias.
Eli Bowen nasceu no
norte de Ohio em 1844. Da cintura para cima, ele parecia um cara comum,
provavelmente um que poderia se dar bem na academia do bairro. Um peito desenvolvido.
Braços fortes, bíceps de aço. O tipo de cara que você quer ao seu lado em uma boa
briga. Mas da cintura para baixo, ele era tudo menos mediano. Ele nasceu com um
raro defeito conhecido como focomelia,
no qual seus pés não desenvolvidos estavam presos aos quadris. Ele não tinha
pernas.
Onze anos após o
nascimento de Eli, outro menino veio ao mundo. Charles Tripp nasceu em Ontário
em 1855. Ao contrário de Eli, da cintura para baixo, Charles parecia um cara
normal. Duas pernas, dois pés. Mas ele era diferente fisicamente da pessoa
comum de um jeito: ele nasceu sem braços. Desde cedo, ele aprendeu a usar seus
pés para praticamente tudo que a maioria de nós usa nossas mãos para fazer:
desde pentear o cabelo até escrever e fazer a barba.
Tanto Eli como Charles acabaram
sustentando suas famílias ao se apresentarem no circo. Mais tarde, eles se
conheceram e se tornaram amigos e colegas de trabalho. Sua parceria única foi
capturada em uma foto inesquecível. Ali está Charles na parte de trás de uma
tandem, os pés nos pedais, pronto para coloca-los em movimento. E lá está Eli
na frente da tandem, com as mãos no guidão, pronto para guiar.
Para mim, o que é
especialmente memorável nessa imagem é que é tão comum. Eles não estão no
trapézio. Eles estão de bicicleta. Indo para um passeio. Parece que eles estão
apenas se divertindo, fazendo o que amigos fazem, agindo como se fosse a coisa
mais comum do mundo.
Dois homens, cada um
forte, capaz e talentoso em uma área, e também carente em outra área, foram
capazes de fazer juntos o que nenhum dos dois seria capaz de fazer sozinho.
Nós fomos criados para
precisar dos outros. Esta fotografia em preto-e-branco, tirada na década de
1890, captura perfeitamente em uma única imagem o que significa florescer como
ser humano imperfeito mas regenerado por Deus para um dia ser a perfeita imagem
do Seu Filho. Nós não podemos ser desafiados por qualquer deficiência física
como eles, mas todos nós temos deficiências de uma forma ou de outra. E nossas
deficiências, entre outas coisas, são a razão pela qual Deus nos une aos
outros. Nesses relacionamentos dependentes, aprendemos que não precisamos
apenas dos outros, mas que , de fato , somos criados para precisar dos outros .
O primeiro "não
bom" deste mundo foi um homem sozinho. Não era bom que Adão fosse um
indivíduo isolado. Ele precisava de alguém para ajudá-lo, estar ao seu lado,
pois sem essa outra pessoa ele não poderia ser o homem que Deus o havia criado
para ser – mesmo ainda sendo sem pecado e vivendo no Paraíso. Sozinho, Adão não
podia guardar e manter o jardim. Ele não podia subjugar a terra... Ele seria
totalmente prejudicado por seu próprio isolamento. Ele pode ter parecido o
indivíduo perfeito, mas ele não era. Para verdadeiramente florescer no mundo,
ele precisava de outra pessoa ao lado dele.
O ethos de nossa cultura proclama o ideal do indivíduo
robusto que não precisa de mais ninguém – e esse ethos infelizmente dominou a
mente de muitos que se dizem cristãos hoje – fingem que não, mas são apenas um
eco de uma cultura centrada em si mesma – amantes de si mesmos. Mas isso não é
apenas uma mentira; é também a receita para o desastre. Em nossas vidas nunca
seremos as pessoas que Deus quer que sejamos, se fingirmos que podemos ser e
fazer tudo por conta própria. Precisamos de amigos, família e igreja - e eles
precisam de nós. Nós não florescemos isoladamente, mas unidos.
Na bicicleta, Eli era
os braços de Charles, enquanto Charles era as pernas de Eli. A imagem me lembra
a imagem que Paulo nos dá do corpo de Cristo. Alguns de nós são os olhos,
alguns os pés, alguns as mãos, outros os ouvidos. O ouvido não pode dizer aos
olhos: "Eu não preciso de você". Nem as mãos podem dizer aos pés:
"Não precisamos de você". Todas as partes do corpo funcionam melhor
quando todas as partes do corpo conhecem e reconhecem sua dependência de todas
as outras partes do corpo.
Após a conversão,
quando um homem de fato foi regenerado, a motivação para tudo na vida deve ser
o desejo de agradar a Cristo, que, como Kurios (Senhor), tem direitos de
propriedade sobre a sua vountade – douloi (Escravo) – “Paulo, escravo de Cristo
Jesus...” (Romanos 1.1) - “E ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” - 2
Coríntios 5:15
Este é o ponto crucial
se estamos falando de uma doutrina, casamento, membresia ou frequência à
igreja... ou qualquer outra área da vida cristã. Quando respondemos a
mandamentos divinos com um “mas” ou uma série de desculpas, nós exibimos a
Serpente (questionando com Eva a clara ordem de Deus), e tratamos a Deus como
nosso colega de debates. Isso não é pensar como um escravo. E não se engane, se
não somos escravos de Deus, então somos escravos do pecado (Romanos 6.15-23).
Mas nós somos escravos! Então, o que você faz quando confrontado com um
mandamento claro, com o claro ensino das Escrituras.
Sem argumentação
bíblica, argumentamos como ímpios. O ensino das Escrituras muitas vezes
atravessa a nossa vontade natural, sobre casamento, igreja, trabalho, lazer...
mas grande parte das argumentações se opondo a verdade não partem de textos
bíblicos. Pessoas dizem: “não faço parte de nenhuma igreja – não congrego...
porque há muitos erros...” – Esse não é um raciocínio bíblico. Não flui de
nenhum texto e ensino das Escrituras, que na verdade, ensinam o oposto:
“"Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns..." -
Hebreus 10.25
Deus instituiu o
casamento. Você crê nesta instituição? O homem pode argumentar da mesma forma –
como se quisesse vencer Deus num debate. Nós precisamos de argumentos bíblicos
- mas grande parte dos argumentos nem são lógicos e nem bíblicos -
Por exemplo - Deus
criou a instituição do casamento - o casamento de muitas pessoas é um fracasso
- Aí alguém dirá - "eu não acredito na instituição do casamento!" -
Mas isso o coloca em rota de colisão com Deus que instituiu o casamento - o
argumento (muitos casamentos são um fracasso) em nada justifica sua rebeldia
contra o claro ensino de Deus sobre o casamento, nem anula o que Deus instituiu.
A mesma coisa se aplica
a igreja e a todas as coisas que Deus instituiu - quando argumentamos sem
argumentação bíblica, argumentamos como ímpios!! Se não cremos em Cristo no que
diz respeito a igreja, casamento...não podemos tê-lo como Senhor e salvador...
Repito, o que você faz
quando é confrontado com um claro ensino bíblico? Tomamos um caminhão de
desculpas e justificativas e racionalizações (argumentando sem a Bíblia ) em
“lógicas” ímpias... para não nos submetermos? Argumentação pífia e que racionaliza
qualquer mal – Deus instituiu a família, a maioria das famílias são uma
fracasso – eu não acredito na instituição da família – Essa é a ‘lógica’ do
diabo! Não pode haver argumentação mais ímpia.
Quando recebemos
orientação clara da bíblia, devemos abandonar racionalizações, devemos dizer:
“sim, eu vou precisar de ajuda”, e então tomar a nossa cruz, nos contarmos como
mortos para nós mesmos e nossas opiniões e “lógicas” ímpias, suplicarmos por
graça para que em tudo Deus nos leve a obediência.
Abandonamos assim o
“mas” – Muitos insistem: “Deus disse para eu obedecer, mas eu tenho estas
desculpas, desafios e dificuldades – eu não consigo aceitar...” – Não! Pare! Se
você insiste em argumentos não bíblicos sobre família, casamento, igreja...
você coloca o seu juízo sobre Deus. O que quer dizer que não importando o que
sua boca professe sobre o evangelho, suas escolhas dizem que você acha o juízo
de Deus deficiente e inapropriado, se coloca como seu superior. Você não é
escravo, Ele não é Senhor... Significa que você é um tolo, e de fato blasfemo,
quer você tenha pretendido ou não ser.
Cristo preparou a
igreja local, ministérios, comunhão, disciplina... Diz que você precisa dessa
comunhão, crescer com todos os santos... “E ele designou alguns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o
corpo de Cristo seja edificado... até que todos alcancemos a unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da
plenitude de Cristo.” - Efésios 4:11-13 – Cristo diz que você é parte do corpo
que precisa de ministério, comunhão, disciplina... numa igreja local...
congregando... Você diz: não! Você ou Jesus? Você ou Jesus? Kurios (Senhor)
ou douloi (Escravo)?
A confissão de Jesus
como Senhor é fundamental para a fé cristã (Romanos 10.9; 1 Coríntios 12.3;
Filipenses 2.11). Em fé e verdadeiro arrependimento, nós dobramos os joelhos ao
senhorio de Cristo. O problema de nossa geração – os arroubos anti-igreja nada
tem do Novo Testamento. Slogans de
panfleto e não a Bíblia tem guiado grande parte das pessoas hoje. Muitos não
querem ser simplesmente cristãos - querem se ver como revolucionários -
"Ches Guevaras" -Mas a verdade é: O Novo Testamento não conhece nada
sobre cristianismo sem igreja. A igreja invisível é para os cristãos
invisíveis. A igreja visível é para você e para mim. Tire a camiseta de Che
Guevara, pare a "revolução", e se junte ao resto dos discípulos de
Cristo: "Não deixando a nossa congregação, como é costume de
alguns..." - Hebreus 10.25.
Eu não sou a igreja e
você não é a igreja. Você é parte da igreja. A palavra ἐκκλησία ( ekklesia )
significa "assembléia", e não, você não é realmente uma assembléia.
Você é um cristão. De todos os 112 casos em o Novo Testamento onde
"ekklesia" se refere à instituição fundada por Cristo, em todos,
exceto em cinco (por exemplo, se referindo a igreja - "ekklesia" - se
referindo a uma assembléia futura Efe. 5:25-32 e Heb. 12:23) - refere-se a uma
igreja particular, concreta, local, ou a uma pluralidade de igrejas
semelhantes, como "a igreja que estava em Jerusalém" (Atos 8:1);
"todas as igrejas dos gentios" (Rom. 16:4); "as igrejas da
Macedônia" (2 Cor. 8:1); "a igreja em tua casa" (Filemon 2); e
"as igrejas de Deus" (2 Tess. 1:4).
A raiz do problema hoje
não é falta de clareza bíblica, a raiz é um problema de autoridade. Não gostar
de se sentar e escutar enquanto outra pessoa fala. Não gostar da ideia de liderança.
Ânsia por ser um “rebelde revolucionário”. Não gostar do comprometimento, do
compromisso, de ser responsável... Não há nada de bíblico nisso, mas exatamente
o oposto do ensino bíblico.
Nossa raça foi
infectada por um a vírus anti-autoridade quando nossos pais ouviram no Jardim
do éden: “Sereis como deuses”. Mas conversão, conversão verdadeira trata e
extermina este vírus.
Arrependimento bíblico
não é pedir desculpas a Deus e depois tentar "cristianizar" todos os
seus gostos, desejos, tribo...
O arrependimento
bíblico consiste em uma transformação radical de pensamento, atitude,
perspectivas e direção .... Arrependimento bíblico é uma mudança do pecado para
Deus e seu serviço, Cristo o Senhor, eu o escravo. É a morte do Eu, do viver
para mim - para tomar a cruz e negar a mim mesmo.
Arrependimento é uma
revolução no que é mais determinante na personalidade humana e é o reflexo na
consciência de a mudança radical operada pelo Espírito Santo na Regeneração.
Mas o homem natural é –
Só você, só você... como você quer... exatamente por ser livre disso o homem
regenerado se torna um membro do corpo de Cristo que é a igreja – Você prefere
ficar em casa, ser “cristão” que diz que sozinho é a igreja – tolice. Você quer apenas fazer tudo quando quiser,
onde quiser... nenhum povo “chato” no qual você tenha que exercer a paciência,
longanimidade, amor... sem necessidade de se ajustar... Só você, você, você...
Mas Jesus – O Senhor – ordena estar uma igreja local, juntar-se a igreja,
participar da igreja, congregar ( em Corinto, Galácia, Éfeso, Colossos,
Tessalônica, Laodicéia... Seu bairro, outro bairro...), ter uma liderança
humana como ( Timóteo, Tiago, João, Silas, Barnabé... pastores, presbíteros...)
– Esse é o problema, Cristo é o Senhor! A igreja lhe pertence, ele determina o
que e o como da igreja... Ele é o Senhor em realidade ou teoria? Ele é apenas
um colegar de debates? Ele é Senhor quando é conveniente, ou não? É o nosso Ego
que controla os limites do Senhorio de Cristo.
Quanto mais velho eu
fico, mais eu sou grato por enxergar minhas limitações, minhas deficiências... todas
as áreas da minha vida onde eu não posso fazer sozinho. Sou grato por isso
porque, o que me falta, Deus fornece em outras pessoas. E essas outras pessoas
são verdadeiramente presentes de Deus para mim. Juntos, podemos montar essa
bicicleta tandem, podemos ser a igreja, podemos ser amigos que se completam.
O Pai organizou o mundo
de tal maneira e redimiu-o em Cristo, para tornar cada um de nós incompletos em
nós mesmos e suficiente em outros – e todos os redimidos completos assim em
Cristo. Agradeça a Deus pelo que te falta, pois no que está faltando,
aprenderemos não apenas a humildade, mas o amor pela pessoa por meio da qual o
Senhor supre nossa deficiência.