Durante os primeiros 30
anos da vida de Jesus ele foi um carpinteiro desconhecido que não estava
fazendo "grandes" coisas para Deus. Ele trabalhou ao lado de seu pai
usando as mãos para trabalhar a madeira, fazer a barba, consertou telhados, fez
janelas...
Quase todos nós
conhecemos a história de um sapateiro cristão que procurou Lutero e perguntou
como ele poderia servir a Deus e glorificá-lo. Tendo Lutero respondido a ele: “Faça
o melhor sapato que você puder e o venda por um preço justo” – Lutero disse que
nisso aquele cristão estaria vivendo e glorificando a Deus tanto quanto ele,
Lutero, como um pastor e teólogo.
A Reforma – e Lutero
aqui em particular – defendeu a verdade bíblica de que os cristãos servem a
Deus e o glorificam e servem aos outros não através de atos individuais de “super
obras” ( Em qualquer função secular ou na Igreja ), mas através dos movimentos
comuns cotidianos das vocações diárias.
Mães servem a Deus e o
glorificam sendo boas mães. Da mesma forma, os pais servem e glorificam a Deus
sendo bons pais. Os lojistas servem e glorificam a Deus vendendo os bens
necessários a um preço justo e um produto bom. E assim, a história continua...
Normalmente, mesmo sem
perceber, tendemos a pensar diferente – tanto no mundo teológico como no mundo
em geral. A “especialidade” é mais comumente celebrada do que os atos cotidianos
“mundanos” de normalidade da vida, que na maioria das vezes passam
despercebidos... ou vistos como menores.
“Heróis” são pessoas
que fazem coisas extraordinárias – tanto no mundo da vida cristã, como no mundo
em geral. “Heróis” do mundo salvam bebês de prédios em chamas e atos
semelhantes a esse de valor incomum. O sapateiro achou que Lutero lhe diria
para fazer algo incomum para glorificar e agradar a Deus, estando em Cristo. “Heróis”
espirituais abandonam as armadilhas do padrão comum da vida humana para dar
todos os dias para alimentar crianças famintas na Índia, África... Se pensa que
as mães que amamentam seus filhos às 3 da madrugada estejam fazendo o que as mães
normalmente fazem, mas certamente não são vistas como “heroínas” – nem como
fazendo algo que glorifica a Deus totalmente.
Em toda loucura que
pode ter surgido ou estar vindo a tona no medo descontrolado devido ao coronavírus,
podemos ver uma, dentre outras coisas boas acontecendo. Há um dilúvio de bobagens na internet e redes sociais... mas podemos ver também, pessoas comuns elogiando
outras pessoas comuns apenas por fazerem seu trabalho comum. Como Lutero disso
ao sapateiro cristão para fazer e assim glorificar a Deus. Trabalhadores de
supermercados, mercearias, coletores de lixo, balconistas de farmácias,
motoristas de ônibus, policiais, médicos, enfermeiros... sendo chamados de “heróis”
só por trabalharem diante do perigo potencial e continuar – como todos devemos
fazer – prestando o serviço necessário a todos nós. Ou seja, apenas estão
fazendo o que sempre fizeram – o trabalho deles.
Podemos ver melhor –
numa época como essa – o que Lutero estava tentando ensinar ao sapateiro
cristão. Esse momento estranho do Coronavírus, está trazendo a tona o que devia
ser óbvio o tempo todo, que o serviço na vocação de alguém – coisas comuns do
dia a dia – está sendo elogiado como serviço à comunidade em geral.
Aquele sapateiro que
conversou com Lutero, estava fazendo o que quase todos fazem – mesmo cristãos –
ele estava negligenciando o trabalho cotidiano das mãos em favor do que é
considerado um trabalho mais “glamouroso” da mente – ou mais “espiritual”.
Fazemos isso para nosso próprio prejuízo e perdemos como todos os cristãos
podem levar uma vida que realmente glorifica a Deus.
Infelizmente a igreja –
como naqueles dias – e vemos isso na visão do sapateiro que foi corrigida por Lutero
- adotou com demasiada frequência a ideia
de "serviço especial" a Deus contra a doutrina bíblica da vocação:
que servimos a Deus na vida cotidiana quando cumprimos chamados comuns da
melhor maneira possível – exercendo isso diante e para Deus e não para os
homens simplesmente: “Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a
carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em
simplicidade de coração, temendo a Deus. E tudo quanto fizerdes, fazei-o de
todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” - Colossenses 3:22,23. Fico
feliz em ver o reconhecimento disso nessa momento tão único em que nós estamos
vivendo.
Muitas vezes parece
difícil encontrar o que é bom em momentos como esses que estamos vivendo. Mas é
bom, correto e salutar ver pessoas apreciando os aspectos subestimados da
vocação comum, em que as pessoas comuns servem todos os dias de uma maneira
quase ignorada. Portanto, sejamos gratos pelas oportunidades que Deus nos deu
para servi-Lo nos atos cotidianos da nossa vocação comum – era isso que Lutero
queria que o sapateiro percebesse como um filho de Deus.
Então, graças a Deus
por mães e pais, balconistas de supermercado, catadores de lixo, enfermeiras e
médicos, amigos e vizinhos, maridos e esposas, filhos e netos, e todos os
obreiros e servos do Senhor que esqueci de mencionar aqui. E que Deus nos guie
a reconhecer Sua mão na vida cotidiana através de nosso próximo, mesmo quando a
vida voltar ao normal.
Ativismo! Muitos dizem:
faça mais, faça mais... mas esse “mais” nunca será o suficiente. Como servo de
Deus você deve lembrar a cada manhã que o que as pessoas mais precisam de você
é a sua santidade pessoal no seu chamado comum e cotidiano.
Como dissemos no
início, durante os primeiros 30 anos da vida de Jesus um carpinteiro
desconhecido que não estava fazendo "grandes" coisas para Deus. Ele
trabalhou ao lado de seu pai usando as mãos para trabalhar a madeira, fazer a
barba, consertou telhados, fez janelas...
Ele calmamente estudou
as escrituras e cresceu em estatura com Deus e diante dos homens. Ele não tinha
um ministério público. Ele não escreveu nenhum livro, não fez nenhuma
"turnê" de conferências, não adotou um órfão, não doou 80% de sua
renda, ou fez viagens missionárias... Ele amava o Senhor com todo o seu
coração, honrou seu pai e sua mãe e ficou calado sobre seu propósito no mundo.
Jesus estava
desperdiçando sua vida? Absolutamente não. Ele estava fazendo exatamente o que
Deus o chamou para fazer. Enquanto suas mãos criavam calos nas tábuas ásperas
de madeira, ele foi discretamente ganhando a nossa salvação, vivendo uma vida
santa e justa que seria creditada a nós para sempre. Jesus, o carpinteiro
humilde e fabricante de móveis. E por 30 anos ele ficou quieto.
Muito da agitação que
atribuímos a Deus é mais expressão de nossa era do que de nosso chamado.
Corremos tanto e nos vemos como tão importantes que a impressão que passamos é
que o mundo irá desabar e o plano de Deus ruir quando nós morrermos. Vamos lá... vamos glorificar a Deus sendo pessoas comuns em seus trabalhos comuns.