Quando Jesus disse a Nicodemos que "se" alguém não nascesse de novo, ele estava afirmando aquilo a que chamamos de condição necessária. Uma condição necessária é um requisito absoluto para que um resultado desejado qualquer tenha lugar. Por exemplo, não pode haver fogo sem a presença do oxigênio, pois o oxigênio é uma condição necessária para que haja combustão.
No jargão do cristianismo evangélico, as pessoas falam em "crentes nascidos de novo". Tecnicamente falando, essa frase é uma redundância. Se uma pessoa não nasceu de novo, se ela não foi regenerada, então tal pessoa não é crente. Tal pessoa pode ser um membro de uma igreja local evangélica. Pode professar-se um crente. Mas a menos que uma pessoa seja regenerada, ela não está em Cristo, e nem Cristo está nela.
A palavra "se" faz da regeneração um sine qua non da salvação. Não havendo regeneração, não haverá vida eterna. Sem a regeneração uma pessoa não pode nem ver o reino de Deus e nem entrar no reino de Deus.
Estando Nicodemos perplexo diante do ensino de Jesus, replicou:
Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? (João 3.4)
A resposta de Nicodemos soa quase como uma tentativa de lançar no ridículo o ensino de Jesus. Usando termos crassos, Nicodemos sugeriu que Jesus, sem dúvida, indicava que uma pessoa plenamente adulta deve tentar a tarefa impossível de retornar ao ventre de sua mãe.
Nicodemos não distinguiu, por conseguinte, entre o nascimento biológico e o nascimento espiritual. Ele não diferenciou entre a carne e o espírito. Jesus respondeu à reação dele, ao dizer:
Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito. Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo (João 3.5-7).
Novamente, Jesus prefaciou suas palavras ao dizer: "Em verdade, em verdade te digo". Essas palavras — do hebraico amém, transportado para o Novo Testamento — denota uma forte ênfase. Em outras palavras, quando Jesus falou sobre a regeneração como uma condição necessária para ver e entrar no reino de Deus, ele declarou essa condição necessária de maneira enfática. Argumentar contra a necessidade do novo nascimento para alguém ser um crente, como muitos de nossos contemporâneos fazem, é manter-se em clara oposição ao ensino enfático de Cristo.
As palavras não pode também são cruciais ao ensino de Jesus. Trata-se de uma expressão negativa que aborda a idéia de habilidade ou possibilidade. Sem a regeneração, ninguém (negativa universal) é capaz de entrar no reino de Deus. Não há exceções. É impossível alguém entrar no reino de Deus sem ter renascido.
Ninguém já nasce crente. Ninguém nasce biologicamente no reino de Deus. O primeiro nascimento é da carne. Carne gera carne. Não pode produzir espírito.
Mais adiante, no mesmo evangelho de João, Jesus adicionou o seguinte comentário:
O Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito, são espírito e são vida (João 6.63).
Quando Martinho Lutero estava debatendo se o homem caído é totalmente dependente do Espírito Santo quanto à regeneração, ele citou este texto e adicionou: "A carne para nada aproveita. E esse 'nada' não significa 'um pouco'".
A carne não é meramente fraca no tocante ao poder do renascimento. Ela é totalmente impotente. Ela não tem o menor poder para efetuar o renascimento espiritual. Não pode ajudar e nem fomentar a obra do Espírito. Tudo quanto a carne produz é mais carne. Não pode produzir um grama do Espírito. O nada não é um pouco.
Finalmente, Jesus disse: "Importa-vos nascer de novo". Se havia a mais leve ambigüidade com o uso da palavra condicional "se", essa ambigüidade se evapora completamente com o uso do termo "importa".