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    Deus preordena todas as coisas – John Flavel (1628-1691)




    Se todas as coisas são governadas por causas naturais, como é que os homens são convertidos do caminho mau no qual andam tão afoitos?

    Paulo estava a caminho de Damasco para prender e matar cristãos quando subitamente foi atingido por uma luz vinda do céu. Ele foi desviado do seu propósito e foi feito apóstolo de Jesus Cristo (Atos 9:18). Mais tarde, quando os judeus planejavam matá-lo enquanto estivesse sendo transferido como prisioneiro de Cesaréia para Jerusalém, o governador Festo (embora ignorasse a trama), decidiu julgar Paulo em Cesaréia e não em Jerusalém, assim fazendo com que a intriga deles desse em nada (Atos 25:14). Agostinho, um grande líder da Igreja Primtiiva, estava indo a certa cidade a fim de ensinar o povo de lá e levou um guia para lhe mostrar o caminho. O guia errou o caminho certo, mas mesmo tomando outra estrada eles chegaram à cidade em segurança. Mais tarde eles souberam que tinham escapado da morte às mãos de inimigos que estavam emboscados à espera de Agostinho para matá-lo. Quem pode deixar de ver o dedo de Deus em tudo isso?


    Se não há uma providência suprema conduzindo todas as coisas para o bem dos servos de Deus, como é que o bem ou o mal feito a eles neste mundo é retribuído àqueles que assim procedem para com eles?


    Quando Faraó ordenou a matança de todos os filhos homens nascidos aos israelitas, as parteiras recusaram-se a obedecer a ordem dele. Por causa disso o Senhor abençoou as parteiras (Êxodo 1:21). Raabe escondeu os espiões enviados a Jericó e por isso ela foi preservada quando todo o povo da cidade foi destruído (Josué 6:25). A mulher sunamita foi gentil para com Elias, o profeta, e providenciou um quarto para seu uso sempre que precisasse, e Deus concedeu a ela a alegria de ter um filho (II Reis (4:9-17). Públio, o chefe da ilha de Malta, deu a Paulo alojamento após seu naufrágio. O Senhor prontamente lhe retribuiu a gentileza curando seu pai que estava enfermo (Atos 28:7-8).


    Do mesmo modo, os males cometidos contra o povo de Deus têm sido retribuídos aos seus inimigos. Como já vimos, era propósito de Faraó destruir os inocentes filhinhos dos israelitas. Deus o retribuiu matando todos os primogênitos egípcios numa só noite (Êxodo 12:29). Hamã construiu uma forca bem alta para o bondoso Mordecai, mas Deus ordenou que o próprio Hamã e seus dez filhos fossem pendurados nela (Ester 7:10). Aitofel conspirou contra Davi e aconselhou como provocar a sua queda, mas esse conselho se voltou contra ele e causou a sua própria ruína (II Samuel 17:23).


    Após o cruel Imperador Maximinus ordenar a extinção completa da religião cristã, ele foi atacado por uma doença terrível, como aconteceu a Herodes nos dias dos apóstolos (Atos 12:23). Às vezes a recompensa do mal foi muito exata. Quando Nabote foi morto, disseram a Acabe: ". . .no lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, os cães lamberão o teu sangue. E foi justamente o que aconteceu (I Reis 21:19 e 22:38).


    Assim as Escrituras são cumpridas pela providência. "O que faz uma cova nela cairá, e o que revolve a pedra, esta sobre ele rolará" (Provérbios 26:27) e "Com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós" (Mateus 7:2).


    Se essas coisas forem meras casualidades, como é então que elas concordam tão exatamente com as Escrituras em todos os detalhes?


    Será que Deus suspende miraculosamente o poder dos processos naturais? Isso não é casual, mas está de acordo com esta palavra: "Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti" (Isaías 43:2). Será que as coisas naturais operam para o bem do povo de Deus? Isso está de acordo com o texto: "Tudo é vosso. . . e vós de Cristo" (I Coríntios 3:22).


    Quando a providência impede que os homens bons caiam no mal, ou que os perversos façam o mal, a verdade e a certeza das seguintes Escrituras se tornam salientes de maneira muito real: "Não é do homem o dirigir os seus passos" (Jeremias 10:23) e "O coração do homem considera o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos" (Provérbios 16:9). Quando as coisas más que os homens fazem se repercutem neles, o Salmo 9:16 se torna uma realidade para eles: "Enlaçado ficou o ímpio nos seus próprios feitos". Ciro, cabeça do Império Persa, deixou o povo de Deus sair livre conforme as Escrituras haviam dito que ele faria, embora isso fosse contra seus próprios interesses (Isaías 45:13). Todo mundo está sempre cumprindo os propósitos de Deus, até mesmo quando não querem fazê-lo.

    Se essas coisas acontecem por puro acaso, então como é que elas ocorrem exatamente no tempo certo?

    O Velho Testamento está cheio de exemplos dessa natureza. Hagar foi informada sobre um poço de água quando julgava que seu filho Ismael ia morrer de sede (Gênesis 21:16-19). O anjo chamou Abraão e lhe mostrou um carneiro para o sacrifício quando ele estava prestes a matar seu filho Isaque (Génesis 22:10-14). Foi dito ao rei Saul: "Os filisteus com ímpeto entraram na terra", bem no momento em que ele estava pronto para pegar Davi e matá-lo (I Samuel 23:27). Notícias sobre um ataque vindo de outra direção fizeram com que o exército assírio recuasse de Jerusalém, no justo momento em que se preparava para avançar sobre a cidade (Isaías 37:7-8). Quando a conspiração de Hamã contra os judeus estava para ser praticada, "naquela mesma noite fugiu o sono do rei" (Ester 6:1). Muitos acontecimentos similares a esses no transcorrer dos anos poderiam ser relatados como provas da maneira exata pela qual a providência opera a favor do povo de Deus.

    Se estas coisas são meras casualidades, como é que elas acontecem de acordo com as orações dos santos, os quais sabem ter recebido respostas claras aos seus pedidos particulares? (I João 5:15).

    O servo de Abraão orou pedindo sucesso quando ele foi procurar uma esposa para Isaque. Sua oração foi respondida de acordo com as palavras que ele usou (Génesis 24:14, 46). Os filhos de Israel clamaram ao Senhor quando Faraó e seu exército os perseguiam, e o Mar Vermelho se dividiu à frente deles (Êxodo 14:10). O rei Asa se defrontou com um exército que sobrepujava o seu em milhares de homens, e ele clamou ao Senhor, seu Deus. Ele disse: "Senhor, nada para ti é ajudar, quer o poderoso, quer o de nenhuma força. Ajuda-nos, pois, Senhor nosso Deus; porque em ti confiamos, e no teu nome viemos contra esta multidão". A resposta de Deus veio através de uma retumbante vitória (II Crônicas 14:11). Pedro foi encarcerado, todavia a igreja orou incessantemente por ele. Veja como as orações foram respondidas (Atos 12:1-2).

    Quem pode dizer que as providências de Deus não O revelam como um Deus que ouve e responde orações?

    "Porque os olhos do Senhor passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com ele” (II Crônicas 16:9).