A eleição é o segredo
familiar dos filhos de Deus, algo acerca do que eles têm o direito de saber e
que deveriam saber para seu próprio bem. Não é por acaso que Pedro nos exorta: "Procurai, com diligência cada vez
maior, confirmar a vossa vocação e eleição" (2 Pe 1.10). Em outras
palavras, os crentes devem estar certos da realidade da eleição, e, portanto,
de sua própria eleição.
Na vida de uma pessoa,
a eleição se faz conhecida por seus frutos. Paulo reconheceu a eleição dos
crentes tessalonicenses devido à fé, à esperança, ao amor e à transformação
operada pelo evangelho nas vidas deles (1 Ts 1.3-6). Quanto mais se
manifestarem em nossas vidas as qualidades às quais Pedro nos exorta — virtude,
conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor —
tanto mais seguros estaremos de nossa própria eleição.
Como Isso nos Ajuda?
Qual é o valor e o
efeito do conhecimento de nossa própria eleição? Isso permite que nos tornemos
complacentes e concluamos que, visto sermos eleitos, não importa como vivemos?
Não, pois, conforme nos indica o texto citado de 2 Pedro, somente se estivermos
diariamente "aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Co
7.1), eviden¬ciando assim a genuinidade de nossa fé através de nossas obras,
teremos o direito de estar seguros de nossa eleição. De fato, o conhecimento
que o crente fiel tem de sua eleição leva a uma tendência bem diferente. Tal
conhecimento desperta nele o senso de reverência, por exibir aos seus olhos a
grandeza do Deus em cujas mãos todos estamos, o qual dispõe de nós todos
segundo o seu próprio prazer. Tal conhecimento humilha o crente, pois fá-lo
lembrar que a sua salvação não é obra sua em qualquer aspecto: ele nada possui
que não tenha recebido. Mas, esse conhecimento também o emociona, por assegurar
que a sua salvação deve-se inteiramente a Deus e que, nas mãos de Deus, ele
está seguro para sempre. A razão pela qual ele agora está em Cristo é que Deus
o escolheu para isso, desde a eternidade. E a escolha feita por Deus garante
que ele será mantido seguro em Cristo, para a eternidade. "E aos que
presdestinou, a esses também chamou... justificou... glorificou.''
Certeza Exultante
Portanto, o
conhecimento que temos de nossa eleição transforma a nossa esperança de glória
de um tímido anelo em uma exultante certeza e nos fortalece para encararmos
qualquer horrendo futuro na terra, com um senso de triunfo em nossos corações.
Não foi o acaso, mas a mais coerente lógica espiritual, que levou Paulo, depois
de ter revisto o pro¬pósito eletivo de Deus a exclamar: "Que diremos,
pois, à vista destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?... Quem
intentará acusação contra os eleitos de Deus?... Quem nos separará do amor de
Cristo?... somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque
estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem
cousas do presente, nem do porvir... nem qualquer outra criatura poderá
separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm
8.31-39). Quando o crente perscruta esse insondável, todo-poderoso, gratuito e
infindo amor do Pai e do Filho, que se apossou dele antes que o tempo
começasse, que o redimiu e vivificou e que se comprometeu a conduzi-lo em
segurança através de todas as batalhas e tempestades da vida até às indizíveis
alegrias que Deus tem reservado para os seus filhos, então ele fica a anelar,
mais do que nunca, por responder com amor a esse amor. E a linguagem do seu
coração torna-se a linguagem do hino de Murray M'Cheyne:
Escolhido,
não por qualquer bem em mim, Despertado, para da ira fugir; Ao lado do
Salvador, ocultado, E pelo Espírito, santificado. Ensina-me a mostrar na terra,
Senhor, Pelo meu amor, quanto sou devedor.