Muitas pessoas, num
mundo que prega abertamente o individualismo, e cada homem como medida do que é
bom e correto para si mesmo, tentam encontrar desculpas que racionalizem o
problema nascido no Éden, o homem sendo “deus” de si mesmo.
Uma das desculpas é
sempre tirar a responsabilidade pessoal pelo meu fracasso e colocá-lo em grupos
maiores que não tem uma cara específica. Gostamos e abraçamos como desculpa os
pecados institucionais, tão condenados diariamente, e pouco falamos dos pecados
pessoais, que em última análise, são o nosso verdadeiro problema.
Muitos falam da
imperfeição da igreja apenas como uma desculpa para sua vida vivida em torno de
si mesmo.
Por exemplo, a unidade
da igreja – A unidade da igreja ( olhe para a igreja local) não significa a
ausência de conflitos. Quando Cristo orou pela unidade, ele também orou pela
santificação de sua igreja ( João 17.17). A necessidade de santificação
pressupõe a presença do pecado, e presença do pecado resulta muitas vezes, como
não podia deixar de ser, em desunião.
Cristo sabia disso, ele
não ora de forma ingênua, ele orou por igreja verdadeiras num mundo real e
caído, orou por igrejas imaturas, por igrejas perseguidas que lutariam com o
medo..., igrejas que teriam problema com o orgulho, igrejas com membros
pecadores... Ou seja, igrejas como as que o apóstolo Paulo fundou e dirigiu, e
Pedro, e João... e tiveram que escrever cartas, admoestar, repreender... Igrejas
como as que Jesus repreende através de João em Apocalipse 1-3. Mas a oração de
Jesus ainda é que esses pecadores justificados, regenerados... estejam juntos,
se mantenham juntos... Por quê? O plano de muitos hoje seria cada um ficar em
sua casa até que todos fossem perfeitos para se juntarem. Mas Jesus os quer
juntos e ora para que sejam santificados pela Palavra... pecadores que muitas
vezes tem conflitos juntos? Por que? Porque Jesus uso os pecados irritantes dos
outros para expor nossos próprios pecados, criando oportunidades de tolerar,
desenvolver a paciência, orar por transformação, aprender a perdoar...
cumprindo assim uma instrução fundamental: “amar uns aos outros” ( Jo
13.34-35). Como Ele nos amou, como Ele amou os discípulos... se havia algo
longe de qualquer perfeição era o grupo de discípulos que andou com Jesus
naqueles três anos: Pedro, Tiago e João, Tomé... Quanto orgulho e disputa por
primeiro lugar houve entre eles, quanto medo, quanta incredulidade... Tudo isso
levou a desunião muitas vezes, mas a contenda que naturalmente leva a desunião
traz consigo a possibilidade de refinar a igreja quando o pecado é confrontado,
confessado... e o evangelho da graça é aplicado (Mt 18.21-35).
O crescimento na
unidade da igreja não depende de faixa etária, música... Você cria tribos, “igrejas
tribais” – Em torno da juventude, estilos musicais, vestes... Não é Cristo o
ponto focal dessa união – ela é humana e carnal. Sempre é a isso que nossas
estratégias levam.
A unidade da igreja
depende da Palavra de Deus. Logo antes de Cristo orar pela unidade da igreja
nos versos 20,21 de João 17, ele ora para que Deus santifique o seu povo. A sua
oração deixa claro que a unidade tem uma base, a santificação. E ele afirma que
a santificação flui da Verdade: “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a
verdade!”
Apenas quando nos
humilhamos de fato sob a Palavra, não sobre partes, mas toda a Palavra, toda a
Verdade. Quando abandonamos a ideia de determinar o que é relevante ou não
nela, o que sempre é forjado na arrogância de um coração que não ama a Verdade,
sempre que nos reunimos em torno de sua mensagem integral, mudanças espirituais
verdadeira produzem unidade espiritual verdadeira.
Unidade construída em
qualquer outra base, quer seja a personalidade do líder, o estilo, o ministério
específico que se molda ao gosto natural de um grupo... está destinado ao
fracasso aos olhos de Deus. Só quando a Palavra é central, os membros podem de
fato ser reconciliados uns com os outros, aprender a perdoar uns aos outros,
amar uns aos outros... a unidade da igreja depende de empenho de todos juntos
crescerem na prática na compreensão da Palavra de Deus: “Santifica-os na
Verdade!”
Muitos esperam o que nunca
foi prometido por Cristo. Muitos esperam o que nunca foi experimentado por
nenhuma das igrejas fundadas por Paulo, Pedro, João... A unidade da igreja não
será plenamente realizada neste mundo. Portanto, muitos usam esse tema, como
outros, apenas para disfarçarem sua recusa em viver o evangelho e crescer como
povo e rebanho de Deus juntos. O que leva a compromisso, obediência,
sujeição... e tantas outras coisas que apesar de ser o claro ensino bíblico, a
mente desta geração detesta. Nesta geração um dos deuses mais cultuados é o individualismo. E muitos
usam de várias desculpas para cristianizarem esse deus em suas vidas.
Muitos esperam hoje o
que não está prometido até a volta de Cristo, o que o torna a pessoa inútil agora,
no único tempo que ela tem neste mundo no trabalho de Deus na edificação da Sua
igreja. Como Paulo poderia se manter útil e motivado em escrever cartas para as
igrejas locais, pessoalmente lutar pela verdade de Deus nelas, pelo crescimento
espiritual das pessoas... se pensasse assim?
A esperança do futuro
não pode distorcer a percepção do presente. Todos nós devíamos saber, pelo
claro ensino bíblico e pela nossa luta pessoal, que vivemos em um momento em
que o Espírito e a carne coexistem numa guerra. Que o mundo é um inimigo
poderoso, que Satanás engana e trabalha também em nosso meio. Devemos então, de
modo realista, como Jesus, orar pela paz e união da igreja, buscar “se possível
estar em paz com todos” – ou seja, no que depender de nós. Sermos filhos de
Deus, ou seja, pacificadores no meio da igreja (Mt 5.9)... mas não ficarmos
surpresos quando a desunião mostrar sua feia face. Devemos em momentos assim
avaliar a nossa própria contribuição tanto na quebra da união, como na
responsabilidade pela paz. Este é um assunto, como muitos outros, que nós temos
o já, e temos também o “ainda não”.
Devemos
avaliar a nossa própria contribuição para a luta, é preciso remover o registro
do nosso próprio olho, e devemos esperar de novo no evangelho de Jesus Cristo.
Sua paz é já, mas ainda não!
Exercer o perdão, a
paciência, a longanimidade, a benignidade, a mansidão, o amor... é estar
vivendo exatamente isso. Num perfeito ambiente de paz, esses frutos não
estariam sendo desenvolvidos. Um dia esse tempo chegará.
Se tua aspiração fixa
agora está no que ainda está no futuro, e com isso a tua desculpa está na
imperfeição da igreja, sua motivação não pode ser a mesma dos apóstolos... nem
mesmo a de igreja ao orar por sua igreja (João 17), mas não passa disso,
desculpa e racionalização. No entanto, paz perfeita está prometida, e está
prometida por um Deus soberano que não pode falhar e não falhará. Hoje já
estamos em paz com Ele (Rm 5.1). Agora oramos pela união, temos nos tornado
pacificadores, estamos sendo santificados pela Palavra... estamos engajados na
batalha, e não procurando desculpas para fugir dela.