Ainda sabemos o que é
arrependimento? O que Jesus queria dizer com "Arrependei-vos"? Essa
foi a primeira demanda do ministério de Jesus.
Desde
então, Jesus começou a pregar, dizendo: "Arrependei-vos, porque o Reino
dos céus está próximo." – Mateus 4.17
Esse versículo é o
contexto para o Sermão da Montanha. Duas perguntas precisam ser feitas. Uma
delas é, o que Jesus quis dizer por "arrepender-se"? A segundo, o que
ele quis dizer com "porque o reino dos céus está próximo"?
Hoje ficaremos na
primeira.
Charles Spurgeon
escreveu:
“O arrependimento é uma
retirada de toda cobertura e racionalização do mal do pecado em nossa vida, um
luto que vivemos por causa dele, uma resolução para abandoná-lo... É, de fato,
uma mudança de mente de caráter muito profundo e prático, o que faz o homem
amar o que antes odiava, e odiar o que uma vez ele amava.”
Toda a superficialidade
deve ser esquecida aqui... e superficialidade e a grande característica de
nossa geração. Duas coisas centrais nos mostram que o arrependimento é uma
mudança profunda e interna da mente e do coração – não é mera tristeza pelo pecado
ou simples melhoria implementada em parte de nosso comportamento.
O significado da
palavra grega por trás do “arrependei-vos, ( Português – Metanoia – [μετάνοια]
) aponta nessa direção. É composta por duas partes. A segunda parte (νοια )
refere-se à mente e seus pensamentos, percepções, disposições e propósitos. A
primeira parte (μετά ) – é um prefixo que aponta para movimento ou mudança. O
significado básico da palavra então, é experimentar uma mudança de percepção da
mente, disposição e propósitos.
Nossa geração está num
terreno completamente desconhecido aqui. Se temos uma característica marcante
em nossa geração ( incluindo grande parte dos que se dizem cristãos ), é uma
falta de “especialistas” no assunto arrependimento hoje.
Mas se formos para o
início da era cristã, vamos ver que este problema já estava lá. Jerônimo, um
homem brilhante, traduziu a Bíblia para o latim por volta de 400 AD, e sua
tradução da Bíblia se tornou padrão no mundo ocidental por mais de mil anos.
Mas ele traduziu esta palavra – “Arrepender-se”, como “fazer penitência”. Ou
seja, mostrar como você está arrependido. Que, de modo geral, é algo bom a ser
feito. Mas podemos fazer coisas externas, chorar baldes de lágrimas... sem um
pingo de arrependimento ou mudança de mente, ou odiar o que antes se amava e
amar o que antes se odiava. Fazer a penitência é um ato momentâneo e
essencialmente externo. Isso não nos muda. Mas faz nós sentirmos que fizemos o
que devíamos fazer, “pagamos” nossa dívida e estamos fora do gancho da culpa,
para que possamos então, voltar a viver como sempre vivemos – até a próxima vez
que precisemos fazer um “pagamento” pelo que ainda amamos, já que a mente,
propósitos, disposições... não foram atingidos.
“Fazei penitência” – A tradução
de Jerônimo, aprisiona todos nós na superficialidade piedosa que em nada muda o
coração e mente do pecador. Na tradição judaica, arrependimento também foi
reduzido a atos de esmola, boas obras, jejum... e assim por diante. Jesus, a Palavra de Deus, como vimos, tinha
algo muito mais profundo em mente.
Martinho Lutero na
primeira de suas 95 teses fala exatamente sobre este texto, e diz: 1. Ao dizer: "Fazei penitência",
etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos
fiéis fosse penitência.
Ou seja, o verdadeiro
arrependimento não é mera oração para se ver livre da culpa, escapar das consequências,
aliviar a mente... O verdadeiro arrependimento é muito maior do que apenas um
momento. É uma nova inclinação no centro do seu ser, porque você vê a
hostilidade, inimizade, e desprezo em relação a Deus em cada pecado, e ainda assim
quando é levado pelo Espírito a ver como Deus te amou e chamou soberanamente,
algo dentro de você muda, e você quer o mesmo que Ele agora. O verdadeiro
arrependimento flui de um novo coração que toca tudo sobre nós. Apesar de lutar
com inconsistências, entramos em verdadeiro arrependimento se Deus tem livre
acesso a tudo em nossas vidas. Estamos abertos. Isso é o que Jesus quis dizer
quando disse: “Arrependei-vos”.
O “preço” a ser pago no
arrependimento, é enfrentar quem nós realmente somos. Há algo ( muitos ) sobre
todos nós – algo que não queremos enfrentar, algo que você fez, algo que você
é... que você não pode suportar olhar... é tão vergonhoso, tão embaraçoso, tão
assustador como verdade sobre você, tão destrutivo, paralisante... que você
quer enterrar, que você quer ignorar, que você quer fingir que não está lá.
Mesmo um ateu como Nietzsche afirmou: “Minha memória diz, eu fiz isso. Mas meu
orgulho diz, eu não posso ter feito isso. Em nosso orgulho então, tentamos
apagar a memória” – Eis uma das razões porque o entretenimento é um deus poderoso
em nosso mundo. Ele ajuda nós a continuarmos em negação. Se você permanece em
negação e continua assistindo TV o suficiente, usando de todo o entretenimento
possível para manter tua mente ocupada, Jesus continuará a ser uma boa teoria,
mas não um poder, muito menos uma realidade na vida. Mas quando você fica vazio
o suficiente, exausto o suficiente... e enfrenta a realidade sobre você exposto
nas Escrituras... e vai a Deus, por Cristo, e derrama tua história em sua santa
presença... só aí o verdadeiro Jesus começa a se tornar realmente real para
você – porque finalmente, você está sendo real e verdadeiro com Ele.
O Breve Catecismo de
Westminster de 1648 fez a pergunta - O que é o arrependimento para vida? ( Pergunta 87 ).
A resposta é esta:
Arrependimento
para a vida é uma graça salvadora pela qual o pecador, tendo um verdadeiro
sentimento do seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se
enche de tristeza e de horror (ódio ) pelos seus pecados, abandona-os e volta
para Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe nova obediência.
(2Co 7.10; At 2.37; Lc 1.77-79; Jr
31.18-19; Rm 6.18.).
Três coisas estão na
resposta. Uma delas, é um sentimento de pecado. Se queremos que Jesus, nós temos que parar de adorar no santuário
de auto-estima. O filho pródigo disse: "Pai,
pequei. Eu já não sou digno "(Lucas 15:21). A melhor maneira de
amortecer e endurecer nossas almas é pensar: "Pai, eu sou digno."
Jesus Cristo
tornando-se real para nós não é primariamente um problema intelectual, embora
perguntas honestas mereçam uma resposta honesta. Mas a maior barreira é a nossa
falta de auto-consciência. Razão pela qual cultuamos hoje a auto-estima.
William Kilpatrick (1871
– 1965 – um dos maiores pedagogos americanos no século XX ) escreveu o
seguinte:
Um colega ( professor )
na faculdade de Boston ... uma vez pediu aos alunos de sua aula de filosofia
para escreverem um ensaio anônimo sobre uma luta pessoal sobre o certo e o
errado, o bem e o mal. A maioria dos alunos, no entanto, foi incapaz de
completar a tarefa. "Por quê?", Perguntou. "Bem", eles
disseram - e, aparentemente, isso foi dito sem ironia - "Nós não fizemos
nada de errado" – Esse é o resultado de cultuarmos a auto-estima... temos mil
justificações e racionalizações para cada ato... é a única forma de nos vermos
como bons...
Mas e se Deus que toda
a vida do homem natural é um erro? E se ele quer falar conosco especificamente
sobre isso... sendo essa a única direção da cura que Ele dá? No Sermão da
Montanha, Jesus vai nos confronta com verdades embaraçosas o suficiente para
nos libertar.
Um senso verdadeiro de
pecado é produzido pelo Espírito Santo, jogando luz na verdade sobre nós que
não queremos ver, na culpa que preferimos não sentir, na realidade que
preferimos ignorar. Isso é a verdadeira misericórdia, não a falsa proteção que
o culto a auto-estima estabelece. É a dura misericórdia de Deus que ignora
nossas melhores desculpas. É a paz de Deus que declara guerra total contra a
falsa paz com que queremos nos contentar cultuando nossa auto-estima...
Dois
- Junto com isso, o Espírito Santo nos dá um senso profundo da misericórdia de
Deus em Cristo. Um senso de pecado sozinho nunca vai nos mudar. Sozinho ele
apenas nos levará para o subterrâneo escuro de nossa realidade. O que nos faz
tentados a nos esconder em nossas hipocrisias.
O sentido de pecado que
o Espírito produz junto com a visão da misericórdia de Deus em Cristo, é o
caminho da mudança. A Palavra de Deus diz: “A bondade de Deus se destina a nos
levar ao arrependimento” - (Rm 2.4 ).
Aqui está o que devemos
saber sempre. Quando fugimos de Deus, o desonramos, traímos sua glória... se
estamos em Cristo, Ele está intercedendo por nós... manifestando seu amor ... O
arrependimento não gira, principalmente, sobre o pecado em si, mas contra quem
ele é cometido. Primeiramente o arrependimento é um voltar-se para Deus, porque
Ele é o único que finalmente nos ama. O
filho pródigo – em sua prodigalidade, foi o “melhor amigo” de todo mundo, até
que o dinheiro acabou. Mas o Pai ainda estava lá. Se achamos que depois de tudo
que fizemos, Deus vai nos desprezar, precisamos ouvir o evangelho de novo e de
novo... "Porque, quando ainda éramos
fracos, no momento certo, Cristo morreu pelos ímpios" (Romanos 5: 6).
Três - nova
obediência. Ser aceito por Deus e amado, depois de tudo o que fizemos, nos
muda. O poder do amor de Deus é um poder para novidade de vida de maneira
prática, porque um coração arrependido anseia por mais de Deus, mais de Sua santidade... Um coração arrependido
tem fome da Palavra de Deus, se a mensagem for de conforto ou repreensão. Um
coração arrependido goza o povo de Deus. Corações arrependidos desejam espalhar
o evangelho aos outros. Um coração arrependido diz: "Eu quero ir mais
longe com Deus e para Deus, do que eu já fui antes, ainda mais longe do que eu
já sonhei em ir." Isso é o que Jesus estava falando quando ele disse: "Arrependei-vos."