Muitas vezes as últimas
palavras de alguém são marcantes e importantes. Por exemplo, uma das favoritas para mim é a
de William Wallace ( Como vimos no filme Coração Valente – interpretado por Mel
Gibson ) – William Wallace é um herói escocês do século XIII – cuja última palavra a ser dita ao ser executado foi: “Liberdade”.
Stonewall Jackson ( 1824- 1863 ), um general americano da guerra civil ( um cristão devoto
) - que os historiadores militares consideram como sendo um dos comandantes
táticos mais dotados na história dos Estados Unidos - foi inadvertidamente atingido por fogo amigo numa batalha... sofrendo uma amputação de um braço... e por complicações decorrentes do fereimento e uma pneumonia, estava morrendo 8 dias depois de ser ferido – percebendo que ia morrer disse
calmamente como um cristão que era: “Vamos passar o rio e me coloquem para descansar a sombra
das árvores”.
Agora, quais são as
última palavras conhecidas do apóstolo Pedro? Ele diz: “Antes crescei na graça
e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a
glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.” - 2 Pedro 3:18
Pedro foi executado
durante o reinado de Nero em 68 dC – crucificado de cabeça para baixo de acordo
com a tradição da igreja primitiva. Isso aconteceu pouco tempo depois dessas
palavras serem ditas. O desejo que Pedro manifestou perto de sua morte foi o
de ver os cristãos crescerem e se tornarem maduros!
Essa é, na verdade, uma
constante ênfase de Pedro: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente
nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo”
- 1 Pedro 2:2 – Não é difícil entender por que esta seria a sua constante preocupação.
Em sua imaturidade ele tinha negado o Salvador. Esse sempre é o lugar onde a
imaturidade deságua. Ele conhecia quais eram as consequências da imaturidade.
Eles estava ansioso que os outros fossem poupados da imensa dor que ele
experimentara.
Esse é um tema
necessário e fundamental – gostaríamos de falar sobre “chaves” para a maturidade espiritual. Esse
tipo de título pode não soar muito bem,
já que pode passar a ideia de que a maturidade pode ser adquirida por mera
aplicação de uma fórmula...
Mas é necessário
delinear alguns parâmetros da maturidade cristã. Estas “chaves” tomadas em
conjunto, e não individualmente, ajudarão a fomentar e aumentar o desejo de
nossos corações por crescer e ser mais e mais como Jesus.
Crescer na graça e se
tornar mais como Cristo é um ênfase e preocupação que se reflete em todas as
páginas do Novo Testamento.
“Que o Senhor faça o seu
amor crescer e transbordar.” 1 Ts 3:12.
“Sempre devemos,
irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo, porque a vossa fé cresce
muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta...” 2 Ts 1:3
“Eu ora para que o
vosso amor aumente mais e mais.” Fl 1: 9
“Treine-se para ser
piedoso.” 1 Tm 4: 7.
“Vamos ... nos
tornar maduros” Heb 6: 1.
Em algumas dessas
passagens a maturidade cristã é apresentada como um fato; em outras, como um
objetivo a ser alcançado. Há um sentido em que já conseguimos algo incrivelmente
significativo em termos de maturidade em nossa união com Jesus Cristo.
Nós não somos o que nós
éramos antes – muito já mudou se de fato somos regenerados! Isso reflete parte
da tensão entre o que somos "agora" e que ainda iremos "ser"
– o que estamos nos tornando. Aqui em 2 Pedro temos um imperativo. Ele assume
que ainda não temos atingido a plenitude do que devemos alcançar. Como A.W
Pink disse certa vez: “Não traz nenhuma glória a Deus que seus filhos sejam
anões.”
A maturidade cristã é
importante porque o crescimento é evidência de vida. Uma imagem ou pintura de
um homem não cresce... Mas estamos destinados a crescer! A falta de crescimento
é uma condição séria que rouba dos cristãos as alegrias e privilégios da vida
cristã, e no seu sentido último, é um alerta para possível hipocrisia, falsa
profissão, cristianismo meramente nominal.
1. A medição do
crescimento espiritual. Pedro menciona duas coisas que servem como uma medida
de como devemos crescer e nos tornar maduros. Crescer na graça e no
conhecimento.
Graça. Pedro era apaixonado
pelo pensamento da graça. Ele começa ambas as suas epístolas por mencioná-la:
“Eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça
e paz vos sejam multiplicadas.” - 1
Pe 1: 2
“Graça e paz vos sejam
multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor” - 2 Pe 1:2
Na verdade, ele não só
menciona graça nessas observações de abertura, mas diz algo muito semelhante em
conhecer esta graça mais e mais. É a palavra-chave do Novo Testamento, não é? Favor imerecido!
Deus nos mostrar favor quando nós merecemos desfavor, julgamento, juízo... “Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efésios 2:8 – “Estando nós ainda mortos
em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)”
- Efésios 2:5
Pedro ao ler a Bíblia ( O
que era somente o Velho Testamento para ele ) - descobriu que a graça era a principal preocupação dos profetas quando
eles profetizavam sobre a grande salvação de Deus: “Da qual salvação
inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que
vos foi dada” - 1 Pedro 1:10
Aqui é que devemos
começar sempre – com a graça que traz salvação para nossas almas arruinadas
pelo pecado. É a graça que trouxe vida, regeneração... – quando nós estávamos “mortos
em nossos delitos e pecados” – como diz Paulo. Pedro coloca nestes termos:
“Nascemos de novo, não de coisas corruptíveis, como prata e
ouro ... mas pelo precioso sangue de Cristo” (1 Pedro 1:18). Podemos falar da graça
da justificação. Mas há um contínuo operar da Graça. A graça da santificação. Podemos falar sobre a Graça que nos preserva e nos faz perseverar até
o último dia - mesmo em meio nossas muitas falhas e contratempos.
Pedro está pensando nesse
tipo perseverante de graça. A graça que o salvou, salvou-o da cova, da sepultura
do pecado... o chamou soberanamente, levantou-o de novo e de novo quando ele
caiu.
Este é o último aspecto
da graça de Deus que ele tem em mente. Ele está falando sobre a Segunda Vinda:
“Virá, pois, como
ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os
elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão
descobertas. Ora, uma vez que todas estas coisas hão de ser assim dissolvidas,
que pessoas não deveis ser em santidade e piedade, aguardando, e desejando
ardentemente a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se dissolverão, e
os elementos, ardendo, se fundirão?” - 2 Pedro 3:10-12
Desde que você tenha
experimentado a graça, e graça vai levar infalivelmente você para casa... então você deve viver
tua vida em conformidade com esta realidade. Enquanto você está olhando com os olhos fixos para o destino final -
no novo céu e nova terra - viva no poder da Graça de forma pura e irrepreensível estando em paz e comunhão com Deus.
Ele está soletrando amorosamente como para filhos pequenos - como ter seus
fundamentos seguros - “Vós, portanto,
amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que pelo engano dos homens
perversos sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza” - no verso 17 - cf. 1.12: “Pelo que estarei
sempre pronto para vos lembrar estas coisas, ainda que as saibais, e estejais
confirmados na verdade que já está convosco.”
Tudo isso em face de
pessoas que deturpavam a Verdade e estavam sugerindo todo tipo de erros,
incluindo em relação a Segunda vinda de Cristo.
Pedro está afirmando: Assim
como a graça de Deus salvou você e te segurou, sustentou e fortaleceu no passado, cresça
nessa consciência. Ainda mais quando você vê as pessoas em torno de você escorregando
e caindo em toda forma de erro em seu cristianismo meramente nominal, "eu quero" –
Pedro diz - "que você cresça."
Como um grande exemplo
de crescimento na graça podemos pensar em Paulo. Podemos ver Paulo crescendo
em sua apreciação e admiração com a graça soberana sempre que ele fala sobre seu próprio
senso de indignidade. Paulo escreveu aos Coríntios nos anos 57/58 – e ele chama
a si mesmo de “o menor de todos os apóstolos” – 1Co 15.9. Pelos anos 61/62, ele, escrevendo aos Efésios, chama a si mesmo de “o menor de todos os santos” – Ef 3.8.
Mas Paulo no final de sua vida, nos anos 65/66, escreve a Timóteo e chama a si
mesmo “o pior (ou principal ) dos pecadores” – 1 Tm 1.16.
A preocupação de Pedro nesse crescimento dos cristão era sem exceção. Não importando como possam ser as
circunstâncias – é imperativo que nós cresçamos. E você pode olhar para todas
as coisas difíceis daquele momento – eram cristãos na fornalha – a maldade, a dor, o sofrimento... era a porção constante deles - Mas Pedro diz: Vocês podem crescer em meio a tudo
isso. Não precisam estar fora da fornalha da aflição, em dias e situações fáceis
para e crescimento acontece. Ele é real em meio a fornalha em que vocês estão. Ele pode dizer isso para cristãos em grande sofrimento, em situação que parecia impossível, porque
ele tinha uma firme visão da doutrina da eleição! Ele os chama de “povo
escolhido!” de Deus “...eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na
santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus
Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1.2) – “Vós sois a geração
eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo todo seu para que proclameis
as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” - 1
Pedro 2:9
Ele deseja que eles ( e
nós ) vejam que a história – mesmo a grande perseguição que eles experimentavam e que levaria o próprio Pedro ao martírio – era consequência do plano Soberano e propósito de Deus. Tudo que acontece através
de todo o curso da vida dos que Deus chamou soberanamente, é Graça! – “Porque os que dantes conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou,
a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que
justificou, a estes também glorificou.” - Romanos 8:29,30
Cada passo do caminho. A
Graça que escolhe soberanamente, chama eficazmente, justifica, glorifica. Essa
Graça é uma graça que nos impele a
crescer.
II.
Conhecimento. Não somos chamados só para crescer na
graça – mas também no conhecimento. Alguns perguntam: Será que devemos
priorizar crescer no que sabemos sobre Ele, ou crescer em nossa comunhão com
Ele? Não temos que fazer uma escolha aqui, uma vez que ambos são igualmente
importantes. Um alimenta o outro. Não é possível – no crescimento bíblico –
dividir o conhecimento da cabeça e o conhecimento do coração – de modo que um
seja mais importante que o outro. Os dois caminham juntos ou não é crescimento
real. Um verdadeiramente leva ao outro. Você não pode crescemr no amor por
alguém até que venha a conhecer essa pessoa. O que ela é, seus gostos,
desgostos, interesses, particularidades... E não há NENHUM outro lugar para
conhecer a Cristo a não ser nas Escristuras ( o Sola Scriptura ).
O que Pedro está
falando é sobre conhecermos mais e mais a Cristo. Nós devemos diariamente
contemplar a Sua pessoa e obra. Devemos pensar nEle em seus três
estados: pré-existente, encarnado e glorificado à direita de Deus Pai.
Devemos pensar Nele em
termos do que Calvino chamou de Triplex munus:
A natureza dos três ofícios de Cristo – como Profeta para nos ensinar, como
Sacerdote para nos perdoar e purificar, e como Rei para nos governar. Cada
pensamento sobre Ele deve ser totalmente doce para nós.
É o coração da vida do
pacto da Nova Aliança pensar em Jesus dessa maneira. E no final de cada dia, isso é o que
a santificação é: Semelhança com Cristo. Crescer de forma que diariamente nos assemelhemos
a Cristo mais e mais.
Você percebe que Pedro
coloca a Graça em primeiro lugar? Antes do conhecimento? – Só a Graça pode
iniciar e dar um coração que deseja o verdadeiro conhecimento. A mente natural
é inimizade contra Deus – contra Sua mente – como poderíamos nos deleitar em
conhecê-la? “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não
é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser” - Romanos 8:7
Jonathan Edwards em
uma série de 70 resoluções que regeram a sua própria disciplina espiritual,
começou sua lista desta forma:
"Estando ciente de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, humildemente Lhe rogo que, através de Sua graça, me capacite a cumprir fielmente estas resoluções, enquanto elas estiverem dentro da Sua vontade, em nome de Jesus Cristo."
Além
de graça, tudo isso se torna legalismo!
2. Observações sobre
Crescimento Espiritual
( Continuaremos nos
próximos artigos o longo caminho da maturidade ) – Até lá!