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    A mente de Paulo 04 - Sofrendo pela Verdade.






    "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus." - Romanos 1:1


    O que a carta aos Romanos forja em nós? Pense nas pessoas que foram as primeiras a ter acesso a esta carta. Que tipo de cultura e lugar elas viviam. Paulo escreve esta carta para cristãos que estavam no olho do furacão. No centro do culto ao Imperador... chamas de perseguição estavam em toda parte em Roma.


    Hoje podemos sentir que vivemos numa cultura cada vez mais hostil ao Evangelho, e sendo ainda muita mais branda do que a hostilidade que eles experimentavam, como vemos hoje cristãos facilmente capitulando aos acenos de conformação do mundo para evitar todo sofrimento.


    Paulo escreveu esta carta a fim de tornar os cristãos fortes -  “Porque desejo muito ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais fortalecidos” (Rm 1.11).


    Alguns deles seriam jogados aos leões, ou seriam despedaçados por gladiadores... muitos em Roma tiveram seus corpos cobertos de óleo e foram incendiados... Eles suportaram todos os tipos de abominações cruéis e inimagináveis para nós... Mas sobreviveram como igreja, firmes na fé... porque as verdades desta carta os fizeram valentes pela Verdade.


    Esta carta é a declaração mais básica e abrangente do verdadeiro cristianismo, e o Evangelho é a força mais poderosa e transformadora na história da humanidade.


    Ser cativado pela Verdade profunda do Evangelho levaria aquelas pessoas a mais poderosa esperança que um homem pode experimentar neste mundo. E o sofrimento é parte do chamado deles,  como também do nosso.


    Sofrimento e esperança. Deus tem muito a nos falar sobre essa conexão em Romanos. Nós sofremos. Todo mundo sofre. O que é o sofrimento? É o fato de ter algo em sua vida que você não queria que estivesse lá, mas que você não pode mudar. Muitas vezes o sofrimento é o oposto disso, você não tem algo em sua vida que você “precisa” desesperadamente, mas não pode ter.


    Todos nós temos coisas em nossas vidas que não queremos, e todos nós não temos coisas em nossas vidas que precisamos.


    Você não precisa ir procurar o sofrimento, ele te acha. Uma doença imprevisível, seus negócios afundando, a perda de alguém amado, casamento em crise, um filho rebelde quebrando seu coração, e assim poderíamos fazer uma lista enorme. Em algum momento o inimaginável vai encontrar você. Mas soma-se a isso, o sofrimento por causa da Verdade – O que era verdade para eles, e será para nós se formos fiéis ao nosso chamado para dar testemunho da verdade – não tendo uma fé privada – mas pública e ousada.


    Os que são “fortes” podem dizer – Ok, vou começar de novo – outros não terão essa mesma perspectiva. Mas nenhum dos dois casos, por fim, pode vencer. Mais sofrimentos virão e virão... até que a morte chega.


    Algo muito maior é dito para nós sobre o sofrimento do que qualquer caminho – otimista ou pessimista – que possamos estabelecer, e o único que faz toda diferença.


    Quando sofremos Deus nos dá um dom: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” -  Romanos 5:3-5


    Deus no sofrimento nos da o dom da novidade. Ele está abrindo uma porta para uma nova experiência de seu amor. É sobre isso que Paulo está falando conosco aqui em Romanos. Um Deus poderoso capaz de usar nossas experiências de profundo sofrimento para tornar a  ÚNICA esperança verdadeira mais real para nós do que jamais poderíamos sonhar.


    Deus não vai nos proteger do sofrimento, ele quer mudar a forma como nós sofremos. Ele é capaz de derramar o seu amor em nossos corações bem no meio dos nossos sofrimentos. Mais do que isso, nos levar a nos gloriarmos em nossos sofrimentos... isso pode parecer estranho, mas é a mais pura verdade.


    E isso faz parte de maneira inexorável do nosso discipulado. O sofrimento é, pois, a característica dos seguidores de Cristo. Nenhum de nós está acima do nosso Mestre, fomos chamados a sair após Ele levando o seu vitupério (Hb 13.13)


    Mas isso só é possível se vermos com clareza toda a Verdade bíblica – mais profundamente revelada aqui em Romanos do que em qualquer outro lugar. Imagine toda a perspectiva de sofrimento para todos os que foram chamados a proclamar a Verdade em Roma... e essa é a realidade de todos os cristãos verdadeiros.


    Nós vivemos hoje numa sociedade terapêutica, onde quase todo o evangelho, ao se desviar das verdade centrais da carta aos Romanos e ecoar o mundo, fez cristãos verem a igreja como um centro de terapia e aconselhamento para lidarmos com qualquer pequeno espinho que furou nosso dedo, como se isso fosse uma tragédia. Como lutaríamos pela Verdade em Roma?


    Num sermão a respeito disso Calvino diz:


    “TODAS as exortações que nos são dadas para padecermos pacientemente pelo nome de Jesus Cristo e em defesa do Evangelho não terão efeito, se não nos sentirmos seguros da causa pela qual lutamos.


    Quando somos chamados a nos desfazer da vida, é absolutamente necessário saber em que base. Não podemos possuir a firmeza necessária, a menos que esteja fundamentada na certeza da fé... é somente numa boa causa que Deus nos reconhece como seus mártires. A morte é comum a todos, e os filhos de Deus são condenados à ignomínia c torturas exatamente como os criminosos o são; mas Deus faz a distinção entre eles, já que Ele não pode negar sua verdade. De nossa parte, exige-se que tenhamos provas firmes e infalíveis da doutrina que defendemos; e, por conseguinte, como eu disse, não podemos ser racionalmente impressionados pela exortação que recebemos para sofrer perseguição pelo Evangelho, se nenhuma certeza verdadeira de fé foi impressa em nosso coração.


    Arriscar a vida numa incerteza não é natural, e ainda que o fizéssemos, seria só precipitação e não coragem cristã. Numa palavra, nada que fazemos será aprovado por Deus, se não estivermos completamente persuadidos de que é para Ele e sua causa que sofremos perseguição e o mundo é nosso inimigo.
    Quando falo de tal persuasão, não quero dizer meramente que temos de saber distinguir entre a verdadeira do evangelho e os abusos ou loucuras dos homens que o corrompem, mas também que devemos estar inteiramente persuadidos da vida divina e da coroa, que nos é prometida nos céus, depois que tivermos lutado aqui na terra. Entendamos que estes requisitos são necessários e não podem ser separados um do outro.


    Por conseguinte, os pontos com os quais devemos começar são estes: Temos de saber bem qual é o nosso cristianismo, qual é a fé que temos de defender e seguir — qual é a regra que Deus nos deu; e, assim, temos de estar bem inteirados de tal instrução para que sejamos capazes de condenar com ousadia todas as falsidades, erros e superstições que Satanás introduziu para corromper a pura simplicidade da doutrina de Deus.”


    Esse é o objetivo de Paulo, como vimos no verso 11: “Porque desejo muito ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais fortalecidos.”


    Calvino continua: “O que então deve ser feito para inspirar nosso peito com a verdadeira coragem? Temos, em primeiro lugar, de considerar quão preciosa é a confissão de nossa fé aos olhos de Deus. Pouco sabemos o quanto Deus preza isso, se nossa vida, que não é nada, é estimada mais altamente por nós. Quando isso se dá, manifestamos maravilhoso grau de estupidez. Não podemos salvar nossa vida à custa de nossa confissão sem reconhecermos que a mantemos em mais alta estima que a honra de Deus...
    Um pagão poderia dizer: "Foi coisa miserável salvar a vida deixando as únicas coisas que tornavam a vida desejável!" E, não obstante, tal indivíduo e outros como ele nunca souberam por que propósito os homens são colocados no mundo, e por que vivem aqui. Sabemos muito bem qual deve ser a principal meta de vida, isto é, glorificar a Deus, para que Ele seja nossa glória. Quando isso não é feito, ai de nós! Não podemos continuar vivendo por um único momento na terra sem amontoarmos outras maldições sobre nossas cabeças. Contudo, não estamos envergonhados de obter alguns dias para nos enlanguescer aqui embaixo, renunciando o Reino eterno ao nos separarmos dEle, por cuja energia somos sustentados em vida.
    Mas como a perseguição sempre é severa e amarga, consideremos: Como e por quais meios os cristãos podem se fortalecer com paciência, para resolutamente exporem a vida pela verdade de Deus. O apóstolo diz: ''Saiamos da cidade para o Senhor Jesus, levando seu vitupério". (Hb 13.13).


    Ele nos lembra que, embora as espadas não sejam desembainhadas contra nós, nem o fogo aceso para nos queimar, não podemos ser verdadeiramente unidos ao Filho de Deus, enquanto estamos arraigados neste mundo. Portanto, um cristão, mesmo em repouso, sempre tem de ter um pé pronto a marchar para a batalha, e não só isso, mas tem de ter seus afetos retirados do mundo, ainda que o corpo esteja habitando aqui.”


    Os primeiros cristãos que leram a carta aos Romanos foram levados a esse tipo de vida... não deve ser diferente conosco.


    Dietrich Bonhoeffer – que foi martirizado por Hitler em 09 de abril de 1945 com 39 anos diz:

    “O discípulo não está acima de seu mestre, o sofrimento é obrigatório. Por isso, Lutero incluiu o sofrimento no rol dos sinais da verdadeira Igreja. Um anteprojeto da Confessio Augustana definiu a Igreja como comunidade dos que são "perseguidos e martirizados por causa do Evangelho". Quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não quiser expor sua vida ao sofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a comunhão com Cristo e não é seu discípulo. Quem, porém, perder sua vida no discipulado, no carregar da cruz, tornará a encontrá-la no próprio discipulado, na comunhão da cruz com Cristo. O oposto do discipulado é envergonhar-se de Cristo, envergonhar-se da cruz, escandalizar-se por causa da cruz.


    O discipulado é união com o Cristo sofredor. Por isso, nada há de estranho no sofrimento do cristão; antes, é graça, é alegria. Os relatos sobre os primeiros mártires da Igreja testemunham que Cristo transfigura para os seus o momento extremo do suplício com a certeza indescritível de sua proximidade e comunhão. Assim, nos tormentos mais atrozes sofridos por amor a Cristo, os mártires experimentaram a máxima alegria e bem-aventurança da comunhão com seu Senhor. Suportar a cruz se lhes revelou como a única maneira de triunfar sobre o sofrimento. Isto, porém, aplica-se a todos quantos seguem a Cristo, porque foi igualmente válido para ele. A cruz é sua vitória.”

    O fato é que se não sofremos bem pela Verdade e em todas as circunstâncias da vida, sequer começamos a engatinhar pelo livro de Romanos.


    O sofrimento é, então, visto como uma vocação que nos prepara para a glória com Cristo ao nos aproximar da santidade de ser como Cristo, em nossa reação à nossa experiência de querer o que não temos, enquanto temos o que não queremos.


    A Carta aos Romanos Faz fracos fortes. De que maneiras?


    É o que veremos no próximo passo em nossa longa viagem em Romanos.