Dunkirk nos lembra que não
podemos vencer... se vamos ser resgatados, esse resgate terá que ser um
presente milagroso.
O apóstolo Paulo ensina
que todos os homens nascem “mortos em seus delitos e pecados”. Mas essa não é a
única designação usada para o homem natural, pois ela apesar de poderosa – já
que poucas coisas são mais definitivas e poderosas que a morte – ainda assim
não expressa tudo o que o homem natural é em sua ruína, pois isso passa apenas
uma ideia passiva, morte... o que um morto faz? Portanto só o aspecto negativo
da depravação humana é insuficiente, o homem não é apenas, como muitos
gostariam de enfatizar, uma vítima da morte. Então Paulo fala sobre algo
positivo, esses mortos são muito ativos, por isso ele os chama de “filhos da
desobediência!”
“segundo o príncipe das
potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.”
- Efésios 2:2 – “Ninguém vos engane com
palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.”
- Efésios 5.6 – “Pelas quais coisas vem
a ira de Deus sobre os filhos da desobediência;” - Colossenses 3:6. O homem natural é ativo
contra Deus.
Os filmes de guerra
tendem a relatar uma das duas coisas: vitória ou derrota. Os primeiros
tipicamente oferecem afirmações triunfantes de que o grande sacrifício de uma nação
valeu a pena; os últimos (derrotas) geralmente servem como arte de protesto
sobre a futilidade do conflito militar. Dunkirk oferece algo diferente. Como
uma história de Salvação, resgate em primeiro lugar - da salvação em meio ao
fracasso completo ( militar – no caso do filme – no caso de Paulo, como vimos
no início, espiritual, moral...) - Dunkirk é ao mesmo tempo distinto e
familiar, uma anomalia de imagem de guerra que, em última instância, reconhece
nossa necessidade muito pessoal de ser salvo e nossa total incapacidade e
impotência.
Escrito e dirigido por
Christopher Nolan ( Um dos meu cineastas favoritos ), Dunkirk dramatiza a
evacuação das forças britânicas batidas das costas varridas pelo vento da
França em de 1940, quando foram humilhados pelas forças nazistas. Com um
diálogo esparso, um elenco de maneira geral amplamente irreconhecível e som
onipresente de Hans Zimmer (compositor e produtor de trilhas sonoras desde a
década de 80 – com mais de 150 filmes ) que evoca um cronômetro angustiante,
hélices e bombas... Dunkirk não apenas
conta uma história,mas também entrega uma experiência. À medida que as forças
alemãs não vistas bombardeiam, torpedeiam e disparam contra as centenas de
milhares de soldados que aguardam a evacuação na costa, o personagem principal
do filme é o medo. E diante desse medo, testemunhamos atos instintivos de
covardia e bravura, muitas vezes na mesma pessoa. Pegue, por exemplo, o soldado
estranhamente jovem que corta a fila para se esgueirar em um barco e, depois de
pouco tempo, arrisca sua vida para abrir uma escotilha para aqueles que ficaram
presos abaixo da linha da água quando o barco é atingido por um torpedo.
Mas as imagens mais
impressionantes de Dunkirk são de resgate, - algumas das quais estragarei aqui.
Há essa escotilha acima mencionada, aberta pelo jovem soldado, que envia um
raio de luz para a escuridão na água para os que estão no porão do navio e segue podiam ver uma saída.
Em outra cena, um piloto britânico que foi derrubado no Canal da Mancha não
pode escapar de seu cockpit inundado - até que de repente um arpão quebra o
vidro, sendo resgatado por um dos civis britânicos que ofereceram seus próprios
navios para ajudar na evacuação. O momento mais emocionante do resgate do filme
é perto do final, quando um avião de guerra alemão se aproxima (como muitas
vezes no filme ) para atirar no milhares de soldados expostos na praia
esperando resgate. Um piloto britânico tão focado, ignorando seus avisos de
combustível acabando e que devia voltar para a Inglaterra, saiu para perseguir
o avião alemão até o último minuto. E terminando o combustível, ele desliza
plainando apenas sobre a praia uma última vez. Sabemos que este piloto não está
voltando para a Inglaterra para um pouso vitorioso em uma pista acolhedora. Ele
está indo para baixo. Se ele sobreviver no pouso forçado, ele precisará ser
resgatado também.
Há uma sensação de
humildade aqui, que pode até ser detectada no momento mais tradicionalmente
"vitorioso" de Dunkirk. À medida que a frota civil britânica se
aproxima da costa, enquanto brados de alegria irrompe dos soldados que esperam.
Ainda tão inspirador como a cena possa ser, ainda não é uma representação de
uma máquina de guerra a virar a maré da batalha. São apenas um grande
quantidade de barcos civis que estão se arriscando para salvar soldados e um
exército impotente e derrotado. Esses “pequenos barcos”, como eles vieram
chamar carinhosamente, pareciam mais com ambulâncias improvisadas resgatando
homens morrendo.
As imagens mais
impressionantes de Dunkirk são sempre de resgate de homens totalmente
impotentes. Não podiam sequer oferecer resistência alguma a não ser ficar lá e
esperar por um resgate milagroso.
Desta forma, Dunkirk
contrasta fortemente com os filmes militares triunfalistas, onde a morte e o
sacrifício quase sempre se colocam no contexto da vitória humana final.
Considere, por exemplo, O Resgate do
Soldado Ryan, no qual a brutalidade da sequência na praia de Omaha é compensada pela vitória
pessoal garantida no título (bem como o sucesso final dos Aliados, dos quais a
invasão da Praia de Omaha foi uma parte crucial).
A evacuação em Dunkirk
é celebrada como o "milagre de Dunkirk". – No filme uma verdade
absoluta vem à tona: em um mundo quebrado por nossa própria ação, pecaminosidade
e maldade, NÃO PODEMOS NOS SALVAR. Precisamos ser Resgatados, e esse resgate
nada tem a ver conosco – somos totalmente impotentes e incapazes até de querer.
Enquanto a criação continuar a gemer, nossa necessidade de evacuação nunca
acaba.
As guerras pequenas e
grandes são, obviamente, apenas ecos apocalípticos do conflito dentro de nossos
próprios corações. “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda;
Não há ninguém que busque a Deus... Não há quem faça o bem, não há nem um só.”
- Romanos 3:10-12.
Isso devia fazer eco no
coração daqueles que acham que podem fazer algo para terem participação (
infelizmente, até decisiva ) na sua própria salvação. A loucura do Sinergismo
na salvação, do Pelagianismo, Semi-pelagianismo e outros. Diante da realidade
exposta, como neste texto em Romanos, as histórias triunfalistas e de auto-salvação,
ou participação nelas, por menor que sejam ( que dirá como decisiva ) são
falsas, talvez especialmente quando estão enraizadas no poder da capacidade ou
suposta “liberdade” humana. O que precisamos não podemos vencer, nossa própria
natureza corrompida – estamos naquelas praias totalmente desamparados em nossa
miséria, como os soldados em Dunkirk – apenas podendo ser salvos pelo milagre Soberano da cruz .
Como vimos Paulo dizer
no início: “segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora
opera nos filhos da desobediência.” -
Efésios 2:2 – “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas
coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.” - Efésios 5.6 – “Pelas quais coisas vem a ira
de Deus sobre os filhos da desobediência;” -
Colossenses 3:6. Eis o homem natural nas praias da perdição.
Como vimos, “Filhos da
desobediência” – Esse é o caráter dos que estão “mortos em seus delitos e
pecados” – morto fala de algo negativo, da impossibilidade de fazer qualquer
coisa na esfera espiritual que agrade a Deus, ou ter qualquer desejo em relação ao Deus
verdadeiro. Mas “filhos da desobediência” é algo positivo, ativo. Ou seja, sua
morte consiste e implica na ausência total de tudo em que consiste a vida de
Deus, mas a desobediência implica num princípio ativo no homem natural em
oposição total a vontade e a Palavra de Deus.
“Filhos da
desobediência” – o homem está sob a autoridade e o poder da desobediência de
tal forma como dela tivesse nascido e obtido seu próprio ser. Submetendo-se a
todas as reivindicações e demandas como se esta fosse sua mãe ou pai.
Paulo está usando uma
linguagem comum do Velho Testamento, na qual essa figura é comum, investir
objetos com qualidades pessoais. A expressão “filhos da ira” aparece
igualmente, pelo que podemos entender,
como aqueles que são filhos da morte são aqueles sobre os quais a morte reina
sem obstrução, então a ira também reinará sobre eles. “Filhos da desobediência”
então, são aqueles que tão completamente e totalmente sob o seu poder e domínio
que não pode fazer nada, mas desobedecer: “Quem é dominado pela carne não pode
agradar a Deus.” - Romanos 8:8.
Há algo que opera
incessantemente nos “filhos da desobediência”. Satanás tem neles um terreno em
que ele pode trabalhar. Se encontram prontos e totalmente preparados para cair
em todas as suas sugestões, agir sub sua influência predominante: “...do
espírito que agora opera nos filhos da desobediência.” - Efésios 2:2. Ele respira sobre eles sua
inimizade própria, rebelião, orgulho e malícia desesperada contra Deus e
tudo o que Deus é... Quanto mais algo
exalta Deus, mas virulenta é a mente do homem contra isso – Fale sobre a
soberania de Deus, Seu direito de determinar todas as coisas... e mesmo dentro
da igreja visível você sentirá todo o ressentimento que essas verdades produzem...
paixão raivosa...
Satanás trabalha de
forma direta e indireta nos “filhos da desobediência” – respira sobre eles seus
próprios pecados especiais como orgulho, inimizade contra Deus, malícia... mas
ele trabalha indiretamente apresentando a mente corrompida da homem as
tentações carnais, de coisas que ele mesmo não é capaz de fazer nem o atrai
pessoalmente. Coisa que são compreendidas nas palavras de João: “a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”.
Ele não tem carne para
satisfazer, nenhum olho carnal para agradar, nem o orgulho do status humano.
Mas tudo isso é presente no ser humano “morto em delitos e pecados”, e
positivamente “filho da desobediência”. Então há mentes completamente na
escuridão e corações endurecidos que lhe dão prevalência e poder.
Judicialmente Deus
então “entregou” os “filhos da desobediência” – “Por isso Deus os entregou à
impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a
degradação dos seus corpos entre si” - Romanos 1:24 – Entregues a escuridão
amada: “O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não
vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” - 2
Coríntios 4:4
Salvação é ser tirado
disso por um poder soberano e por graça imerecida – E todos os salvos estavam nesta condição de morte
(negativa) e desobediência desafiadora (ativa). Na escuridão, amando a escuridão...
nas praias da perdição esperando o golpe final da morte como os soldados em
Dunkirk.
Guiados pela carne, por
seus desejos... “Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da
nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como os outros também.” - Efésios 2:3
Paulo está ampliando,
ao descrever nossa condição anterior, as riquezas da graça – como alguém diante
dos fatos pode falar ou pensar sobre qualquer homem que possa ser digno da
graça ou que mereça de Deus qualquer coisa? Não estávamos mortos em delitos e
éramos filhos da desobediência, como ativamente andávamos nas concupiscências
que diariamente desafiavam Deus ao realizar todo o tempo os imperativos dos
desejos sensuais que estavam conectados a nossa morte espiritual.
Paulo quer que os
redimidos vejam a graça como graça – diferente do que tem sido visto hoje mesmo
em muito dos que se dizem cristãos, que ao diminuir a condição na qual o homem
natural se encontra, vê o homem como merecedor de algo de Deus e o faz recuar
diante da graça livre de Deus que nada deve aos homens. Foi um Resgate como em
Dunkirk – um resgate diante da total impotência... um resgate soberano.
Com isso Paulo quer
mostrar também o grande abismo, a grande diferença entre o homem redimido e o
homem em seu estado natural de depravação. Ele deseja enfatizar a diferença
entre os eleitos e os não-eleitos. Antes ambos estavam mortos, igualmente eram
filhos da desobediência, igualmente andando segundo o curso deste mundo...
ambos sob a influência daquele que opera nos filhos da desobediência... O Resgate, a regeneração soberana não é uma
pequena reforma e melhora daquilo que o homem natural era, mas sim a mais completa
transformação nas fontes do ser do homem, que são recriados em Cristo.
Como a obediência e
santidade deixaria de ser o caminho de todos os que de fato estão em Cristo?
Agora não são mais filhos da desobediência – como andariam nela? Agora estão vivos,
como viveriam como mortos para Deus e em sincronia com a cultura de homens
mortos? Agora opera neles o Espírito Santo! Como poderiam viver como aqueles
nos quais opera o “príncipe deste mundo”?
Nos que estão de fato
em Cristo, isso ficou no passado: “Entre os quais TODOS nós também ANTES
andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos;” - Efésios 2:3 – Isso é conversão! Graça que não operou isto é
graça barata e espúria.
Estávamos nas praias da
perdição... completamente impotentes, maus, depravados... esperando o tiro
final da morte e então o juízo. Então houve um resgate a homens totalmente
impotentes em sua desgraça como em Dunkirk.