Logo, não é sinal algum de uma boa condição encontrar tudo tranqüilo, sem oposição nenhuma; pois podemos achar que a corrupção, que é o elemento mais velho em nós, e Satanás, o homem forte que tem muitas influências controladoras sobre nós, cederá a posse sossegadamente? Não, não há sequer um pensamento de bondade achado por ele, mas ele junta com corrupção para matá-lo no nascedouro. E, assim como a crueldade de Faraó foi em especial contra as crianças do sexo masculino, também a malícia de Satanás é especialmente contra as resoluções mais religiosas e varonis. Isto, então, devemos sempre esperar, que, aonde Cristo vem, haverá oposição. Quando Cristo nasceu, toda Jerusalém ficou perturbada; assim, quando Cristo nasce em qualquer homem, a alma fica em um tumulto, e tudo porque o coração não está disposto a se entregar a Cristo para governá-lo.
Onde quer que Cristo chegue, ele traz divisão, não apenas entre o homem e si próprio, mas entre homem e homem, e entre igreja e igreja; de cujo distúrbio Cristo não é a causa mais do que o remédio o é do problema em um corpo enfermo. Agentes nocivos são a real causa, pois a finalidade do remédio é trazer saúde. Mas Cristo julga adequado que os pensamentos dos corações dos homens sejam revelados, e está posto tanto para a queda quanto para o levantamento de muitos em Israel (Lc 2.34).
Desse modo, a desesperada loucura dos homens é descoberta, para que possam antes estar debaixo da orientação de suas próprias concupiscências e, em conseqüência, de Satanás mesmo, para destruição sem fim deles, do que porem seus pés nas cadeias de Cristo e seus pescoços sob seu jugo; ainda que, de fato, o serviço de Cristo seja a única liberdade verdadeira. Seu jugo é um jugo suave, seu fardo é apenas como o fardo das asas para um pássaro, as quais fazem com que ele voe mais alto.
O governo de Satanás é antes uma escravidão que um governo, à qual Cristo entrega aqueles que sacodem para fora o seu, então, por causa disso, ele dá a Satanás e seus agentes poder sobre eles. Visto que eles “não receberam o amor da verdade” (2 Ts 2.10), prenda-os, jesuíta, prenda-os, Satanás, cegai-os e atai-os e levai-os à perdição. Aqueles que tomam a maior liberdade para pecar são os maiores escravos, porquanto os mais voluntários escravos.
O querer é a melhor ou a pior parte em tudo. Quanto mais longe os homens vão em um rumo intencionado, mais profundamente eles afundam na rebelião; e quanto mais opõem-se a Cristo, fazendo o que querem, mais eles um dia sofrerão o que não queriam. No meio tempo, eles ficam prisioneiros em suas almas, presos em suas consciências para o juízo após a morte de quem cujo julgamento não aceitavam em suas vidas. E não é justo que descubram-no um severo juiz para condená-los quando não quiseram tê-lo como um meigo juiz para governá-los?